Escutar jazz frequentemente me
tem sido uma experiência fascinante. Os músicos abraçavam uma composição de
aproximadamente três minutos e transformavam, como ouço agora, numa
monstruosidade improvisada de criatividade sem igual de 22 minutos. Fascina-me
como há um processo de imersão nos longos trechos improvisados, a música flui, tinham
eles um entrosamento que as bandas, hoje, só pelo fato de brigarem, já
demonstram não ter. Uma capacidade de lidar um com o outro, de antecipar,
prever, acompanhar... Ainda mais fascinante me parece porque já estou chegando
nos extremos, isto é, escuto muito jazz livre, (músicos que estavam se
desvencilhando de estruturas e tocando livremente, improvisando do começo ao
fim, ou por vezes tocando uma melodia qualquer que se repetia duas ou três
vezes no começo e no final da peça, permitindo-se, no meio, por 21 minutos,
revezar improvisos).
Analisei rapidamente uma das
características mais intrigantes dessa vertente pouco explorada, dificilmente
comercial e bastante obscura da música vanguardista, em seu aspecto que me chama
a atenção: sendo complexa, porque improvisada, não é música para dançar, como
foram os ritmos das grandes bandas dos anos 20 a 40; não sendo estruturada como
os pequenos grupos que acompanhavam solistas nos anos 50 e início dos 60, não é
música para sentir fortes emoções, porque não se pode traçar uma linha mestra
que nos guie; então que aspecto tem essa música? Não é organizada o suficiente
para ser sentida, tampouco estruturada o suficiente para ser dançada. Concluí
que se trata de música para mover a sensibilidade.
Sensibilidade, que quero dizer
com isso? O conjunto de perceptos e afectos que compõe a totalidade (do)
sensível. É música para rever-se, estranhar-se, para compreender o mundo sob
nova lente ou sob nova luz.
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