Há algo na pintura impressionista que deve ser retomado. Ela não foi clamada pelos modernistas como sua, mas como passado com o qual pretendiam romper. Sabemos, contudo, que ela não era parte do passado, como nos atesta o famoso Salon d'Automne com seus Renoir, Cézanne, Matisse, Gauguin e Derain (para não falar, mais adiante, de Metzinger, Gleizes e Duchamp). Se assim é, trata-se de um tempo deslocado, de um tempo fora do tempo, tempo sem história, um passado que não é história (sabemos desde Warburg, ou Benjamin, ou Michelet, ou Braudel, que passado e história não se sobrepõem como iguais, senão são fortemente distintos). Mas o que é isso que faltou, que escapou à sensibilidade modernista? O impressionismo opera certa confusão da visão, certa im-posição (não-posição, mas também exigência, demanda) da visão. É o regime do evanescente – im-pressão: ausência de pressão, leveza, portanto falha, deslize, escorregão, quer dizer, erro, mas também errar, ou seja, vagar, é o olhar que passeia –, mas é também a imagem do tempo: entre kronos e aion, entre o já não mais e o ainda não, alvorada ou crepúsculo: sonambulismo do pensamento.
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