A pergunta pelo que é literatura levanta problemas sérios dada a constituição histórica de conceber o literário como mimético, não ontológico. Que se conceba a literatura por suas características mais gerais, faz com que se a pense como um derivado ontológico, uma vez que se retém comumente a precedência de o que é presente, tomando-o como representado no literário. Aquilo que é, o ser-presente (a forma-matriz da substância, da realidade, das oposições entre matéria e forma, essência e existência, objetividade e subjetividade, etc.) distingue-se da aparência, da imagem, do fenômeno, etc., ou seja, de qualquer coisa que, apresentando-o como ser-presente, duplica-o, representa-o, e pode, portanto, substituí-lo e depresentá-lo. Portanto, há o 1 e o 2, o simples e o duplo. O duplo vem depois do simples; ele o multiplica como acompanhamento. Se lemos a literatura como Heidegger leu Trakl, torna-se necessário conceber um elemento da e na linguagem que não está precedido por nada. Entretanto, se linguagem (literária) tem por natureza a mimese, tratar-se-ia de um espelho originário, que representa algo nunca antes presente ou apresentado. Na interpretação heideggeriana algo fenomenológica do pensamento grego antigo, mimese significa, antes de imitação, a presentação da coisa em si, da natureza, da physis que se produz, engendra-se, e aparece (a si) como realmente é, na presença de sua imagem, sua face, seu aspecto visível. Mimese assim concebida concorda com a noção de verdade como desvelamento, alétheia, o mero aparecer de o que está presente em seu aparecimento.
A noção secundária, de mimese como imitação ou representação de algo, depende de que esse algo já seja aparente no primeiro sentido de mimese, depende do aparecimento da aparência; não fosse assim, seria difícil (ou impossível) imitá-lo. A maneira como Heidegger trata a poesia face-a-face a linguagem cotidiana seria, de maneira simplificada, similar à relação entre mimese no primeiro e no segundo sentidos. Haveria, assim, a linguagem que pode ser resumida ou traduzida e até reduzida a formas lógicas, mas também haveria a linguagem (poética) que convoca à presença aquilo que nomeia, força que faz o aparente desvelar-se. Como Heidegger diz em Das Ding [A coisa]: nós só podemos representar, não importa de que maneira, apenas o que veio anteriormente à luz por sua própria vontade e mostrou-se-nos na luz que trouxe consigo. Assim, a linguagem não pode ser apreendida ou conceituada como objeto (como a noção representacional da linguagem apregoa) precisamente porque os objetos vêm à luz e permanecem na abertura da presença através da linguagem. Concebida conforme o sentido fenomenológico (ou grego) de verdade como alétheia (desvelamento, em oposição à verdade como adequação na representação), a linguagem não significaria tanto quanto mostraria. Essa nomeação não distribui títulos, não aplica termos, mas chama para a palavra. A nomeação chama.
Chamar aproxima o que chama. No entanto, essa aproximação não busca o que é chamado apenas para colocá-lo o mais próximo possível do que está presente, para encontrar um lugar para isso ali. O chamado de fato chama. Assim, traz a presença do que antes não era chamado para uma proximidade. O que tradicionalmente se consideraria o estatuto fictício da linguagem tornou-se a noção peculiar de Heidegger de “chamar” para a “proximidade”. Além disso, “essência” como tradução de Wesen deve ser entendida em sentido verbal ou de particípio, cuidadosamente distinto de qualquer sugestão de substancialidade. Nesse ponto, de fato, precisamos de precauções na descrição da poesia como estrutura de manifestação para não cairmos em certos clichês do pensamento empirista prevalente nos meios anglófonos. Por exemplo, poder-se-ia tomar Heidegger como rejeitando o “representacionalismo” e favorecendo o “encarnacionismo”, que um poema não deve significar, mas ser (um clichê do pensamento romântico), enfatizando o “concreto” e o “vivo” acima do “abstrato” e “representativo” — mas isso é uma incompreensão comum do pensamento heideggeriano e repete o que Derrida designou uma das (re)apropriações metafísicas mais típicas e tentadoras da escrita.
Isso seria um erro devido à insistência de Heidegger na diferença ôntico-ontológica (não sua (suposta) união). Podemos evitar esse erro e compreender melhor a concepção de linguagem heideggeriana a partir da famosa frase “A linguagem é a casa [ou morada] do Ser”. Não se trata de um movimento de esclarecer o desconhecido (“Ser”) pelo conhecido (“casa”), como as concepções tradicionais de metáfora preconizariam, mas de uma inversão dos tropos, porque é o Ser que dá à realidade dos entes presença, permitindo que a casa (ou a morada, a habitação, etc.) seja sequer pensada. O Ser diz mais da casa, permitindo que a casa seja dita, do que a casa diz do Ser. Apenas no Ser qualquer entidade pode, como a casa, tornar-se presente como é. É precisamente na linguagem que esse esclarecimento da essência (Wesen) da casa (ou da morada, da habitação, etc.) ocorre. Assim, a linguagem seria um modo de apropriação das entidades ou de tornarem-se a si. Entre o Ser e os entes (a “casa”, por exemplo), o lugar da linguagem é a diferença ôntico-ontológica, local crucial do pensamento de Heidegger, porque nenhuma leitura de Heidegger sobre o literário (e, consequentemente, acredito, nenhuma leitura responsável de Derrida) pode escapar da diferença ôntico-ontológica.
O pensamento heideggeriano propõe a diferença ôntico-ontológico porque o ser das entidades, por meio do qual são de fato, foi historicamente considerado apenas conforme o modelo de outra entidade (geralmente tida como suprema) — substância, causa primeira, summum ens. Por isso diz-se que a diferença entre ser e ente foi esquecida. A estrutura dessa diferença ôntico-ontológica é peculiar: a distinção entre uma rosa e (seu) ser é notadamente um problema distinto daquele da diferença entre uma rosa e outra ou quaisquer outras duas entidades. A estrutura dessa diferença emerge das seguintes considerações. 1) Somente como (no) ser que o reino das entidades pode estar presente ou ser de fato. 2) O Ser, pensado rigorosamente em termos de sua diferença em relação a qualquer entidade, não é uma entidade em si, mas nada e nunca pode se tornar presente ou ser do mesmo modo que uma entidade. Isso deve-se à ambiguidade ou duplicidade da presença do presente, sua aparência — aquilo que aparece como também seu aparecimento — na dobra do particípio presente. O Ser, como aparecimento (distinto da entidade que assim se torna aparente), necessariamente desaparece no própria desvelamento daquilo que torna presente.
O Ser desaparece, nunca se tornando presente, por meio da própria estrutura de presença-à-mão que realiza. Essa, então, é a estrutura da noção ilusoriamente simples de mimese como o dar-se à abertura daquilo que aparece. Então, mimese é o movimento da physis, movimento que, de alguma forma, permanece natural (no sentido não derivado dessa palavra), por meio do qual a physis, não tendo exterior, sem outro, deve ser duplicada para aparecer (a si), para produzir (a si), para desvelar (a si), para emergir da cripta em que se prefere, para brilhar em sua alétheia. Ser como desvelamento é precisamente aquilo que não aparece naquilo que se desvela (entidades). Assim, a presença ou desvelamento tem, paradoxalmente, uma estrutura de retirada ou retração ou apagamento. No que é desvelado, o desvelar mesmo se apaga. A linguagem, considerada como modo pelo qual o Ser é transferido para as entidades, participa, portanto, de uma estrutura de desvelamento ou aparecimento que nunca pode se tornar um objeto. É precisamente no desvelar da objetividade que o aparecimento apaga-se no que se torna aparente.
Como um meio de presença, a linguagem nunca pode se tornar um simples objeto de representação. A linguagem poética é a que mais incorpora essa função primordial, função da qual a noção de linguagem como representação deriva-se (e caracteriza um declínio). Em particular, a poesia produz uma diferença ôntico-ontológica, pois é por meio da linguagem que as coisas desvelam-se em seu ser. Nesse ponto, entretanto, o termo “desvelar” complica-se consideravelmente. A estrutura da diferença ôntico-ontológica pode ser descrita como uma “dobra” — uma dobra assimétrica. Uma entidade torna-se aparente em um aparecimento (Ser) que se retira em uma estrutura de apagamento como dobradura (ou redobro, para brincar com os termos). A linguagem é, propriamente, uma dobra dessa estrutura, porque, em seu próprio efeito de trazer à presença, retém-se e pode não aparecer como objeto. Como diz Heidegger, há evidências de que a natureza essencial da linguagem recusa-se terminantemente a expressar-se em palavras — na linguagem com a qual fazemos declarações sobre a linguagem.
Se a linguagem em toda parte retém sua natureza, então esse reter é da própria natureza da linguagem. Obedecendo à estrutura da diferença ôntico-ontológica, a linguagem não está presente (não é uma entidade), mas torna presente (o famoso es gibt). A linguagem apropria(-se) ou aproxima através de uma estrutura de retirada inaparente. A estrutura ontológica de um mundo encena-se na linguagem do poeta: nas aparências familiares, o poeta chama o estranho como aquilo a que o invisível confere-se para permanecer o que é: desconhecido. Em resumo, pode-se concluir que o Ser, como o aparecimento que deve permanecer invisível naquilo que torna aparente, desvela-se na linguagem poética conforme a interpretação do primeiro sentido de mimese como aparecimento. Essa seria uma conclusão superficial, entretanto, por duas razões. Primeiro, o próprio Ser (o aparecimento) nunca poderia se tornar objeto de qualquer linguagem, precisamente porque está estruturalmente em retirada. Não se pode dizer, então, que a poesia revela qualquer sentido do Ser. Segundo, a própria linguagem é o meio desse des|velar.
Essa última estrutura, portanto, não pode ser objeto da linguagem, mas a própria poesia tanto opera quanto é uma estrutura de des|velamento. A linguagem é, para Heidegger, um meio de presença (em retirada) e não pode ser objetivada. Essa estrutura seria uma mise en abyme, a linguagem poética trabalhando em uma dobra de des|velar (aparecer/ocultar) a si, sobre si, uma dobradura em que nem a linguagem (nem o Ser) é, mas uma profundeza cujo abismo resplandece conforme se oculta. Essa concepção complica as coisas para a antiga compreensão de que a linguagem (poética) repete o que é, pois demanda um espelhamento que já não tem precedente. A imagem não ocorre mais como uma duplicação (imitação), mas torna-se algo original, originário. Assim, a figura literária torna-se um acobertar que respeita essa estrutura peculiar de aparecer/ocultar no (e do) primeiro sentido de mimese. Dada essa concepção, ler (um poema, mas também em geral) já não trata sobre alguma coisa, à maneira do pensamento representacional, arguindo em favor de A, negando B, etc. Ao contrário, rumar à linguagem exige transformar esse trajeto mesmo. Portanto, não há um “conceito de” ou “visão sobre” a linguagem (literária) no pensamento heideggeriano.
O poema, habitado e transformado, vai tornando-se a si ao deslocar o reino da conceitualidade (representação) em geral. Se negamos a noção subordinante da mimese como imitação, evitando conceber a linguagem literária como derivada e secundária, então toda a metafísica entra em jogo, pois todas as noções herdadas dependem da subordinação da linguagem literária, até mesmo das noções de Ser. A querela de Derrida com o estruturalismo, como em “Força e significação” (ensaio presente em A escritura e a diferença), dá-se por ele caracterizar a linguagem literária por seus efeitos ontológicos. O literário seria peculiar por sua relação com aquilo que excede todo ente — o nada essencial sobre o qual tudo pode aparecer e se produzir na linguagem. Considerar que essa ausência-de-toda-entidade jamais se tornará objeto (de representação) expõe a peculiar estrutura de aparecimento como recuo do literário. O crítico, já que (o) nada não é (um) objeto, deve se preocupar com o modo como esse nada em si determina a si por seu desaparecimento. Na análise do Mímico, de Mallarmé, Derrida expõe a questão do literário de modo exemplar (para compreendermos seu pensamento). Mallarmé descreve uma pantomima em que o pierrô reencena o assassinato de sua mulher por cócegas nos pés até fazê-la morrer de rir.
Derrida destaca como a relação temporal é extremamente complexa nesse caso, pois “O pierrô assassino de sua esposa” foi um livreto produzido após a encenação, ao mesmo tempo em que não houve assassinato antes da encenação, sendo uma pantomima, mas o presente cênico constitui uma imbricação de presente e passado através dessa encenação e rememoração, bem como o próprio pierrô e seus gestos refazem o assassinato a cócegas na exata medida em que aludem ao ocorrido e imitam-nos. Com esse resumo fica claro como mimese como representação desloca-se na estrutura dessa pantomima (que nada precede), que a torna, portanto, uma forma de escrita originária. Simultaneamente, entretanto, a pantomima permanece uma estrutura alusiva e imitativa. Ainda que nada a preceda, essa escritura gestual não pode simplesmente ser nomeada originária sem maiores complicações. Mimese no sentido primeiro dissimula mimese no sentido segundo e vice-versa. Mallarmé chega a falar da pantomima que constitui uma alusão perpétua sem jamais quebrar o gelo ou o espelho. Derrida muito sagazmente conclui tratar-se de uma imitação (mímica, afinal) imitando nada, um duplo sem primeiro, sem precedente ou antecedente. Não há referência simples.
A mimese não apenas mimetiza, mas também é o mimetizado. Isso rompe a prioridade dada por Heidegger ao primeiro sentido de mimese (o aparecer da aparência). O deslocamento derrideano da estrutura do aparecimento (sentido primeiro de mimese) como movimento de (auto)apagamento (para não dizer (auto)extinção) pode ser compreendido em relação ao palco teatral. O modelo teatral traz à tona a questão do meio — o medium ou a mídia — através do qual a apresentação (a pantomima do mímico, o assassinato a cócegas pelo pierrô, ou até o aparecer mesmo) aparece/apresenta(-se). Se o palco é um cubo, tudo depende dessa face do cubo/parede do palco faltante, aberta. A abertura já começa o espetáculo ignorada como abertura, como o elemento diáfano garantindo a transparência de transmissão do que se apresenta. Enquanto permanecemos atentos, até fascinados, vidrados (excelente termo, vista a relação com o vidro como meio diáfano, mas também como duplicador nos espelhos) em o que se apresenta, quedamo-nos incapazes de ver a presença mesma, já que a apresentação (presença) não se apresenta, não mais que a visibilidade do visível, a audibilidade do audível, o meio que desaparece no ato mesmo de permitir (algo) aparecer. Como se pode captar, o modelo teatral aborda a dobra da diferença ôntico-ontológica, focando a presença que não se apresenta, que desaparece para fazer aparecer.
No Mímico de Mallarmé, o palco torna-se um cenário estranho, pois é o próprio Pierrô. Todavia, a encenação, longe de tornar-se a quarta parede (como se diz em inglês) invisível de uma cena de representação, tornou-se aqui o único ocupante do palco. O que poderia parecer simplesmente presença (mimese sentido primeiro) “representa” a si. Além disso, o que é representado e referido não é anterior à mímica de Pierrô, ao ato de referência. Da mesma forma, não há representação, não há correspondência entre algum tema pré-existente e sua significação. A significação, sem ancoragem, envolve tudo o que parece acontecer, mesmo quando o produz. Tudo isso implica que a visibilidade do visível ou a presença do presente é apenas um efeito da estrutura da dobra (da diferença). Quando nada se encena senão a própria cena, a ilusão de profundidade do palco (do cenário) precisa se desfazer.
A quarta parede do palco teatral é apenas uma superfície (mesmo que ausente): efeito de realidade da estrutura de referência (como escreveu Derrida: a presença do presente forma apenas uma superfície). A imediatidade da apresentação do Pierrô torna-se efeito de uma estrutura de diferença. Não há presente temporal que ancoraria os movimentos de referência. Ele encena, como escreve Mallarmé e Derrida repete, sob a falsa aparência de um presente, as decisões que culminariam no crime supostamente perpetrado no momento mesmo da encenação. A ação do assassinato tem uma temporalidade absurdamente complexa: antecipação do que já terá ocorrido. A aparente imediatez da encenação é, na verdade, um não lugar. Essa imediatez da encenação permanece inelutavelmente impregnada de referimento, da estrutura referencial. Nada está à mão ou acontece na diferença entre os vários tempos dos movimentos de referência da encenação.
Assim, a aparente profundidade do palco (do cenário) como tradicionalmente se compreende a cena de representação dá (seu) lugar a uma estrutura de interrelação (referência mútua) sem centro. Esse entre deve ser concebido e compreendido sem centro relativo a qualquer sentido de ser ou estrutura de fenomenalidade. A reunião das várias estases de tempo rumo à presença do presente heideggeriana deve dar lugar ao movimento de temporalização irredutível e mesmo a pós-efeitos (como no inglês: after-effects, efeitos tardios, atrasados, lançados do futuro rumo ao passado) imprevistos. Com o Mímico de Mallarmé, deve-se arguir que nada tem lugar ou é representado — o trabalho de Derrida questiona a “imagem genuína” (que Heidegger reserva à linguagem poética e à mimese em sentido primeiro) como mero efeito de jogo de espelhos. Se a estrutura da linguagem como dobra peculiar do Ser sobre si em retirada é um mise en abyme, então, agora, sabemos que esse abismo não tem fundo. Com o Mímico, a cena de representação como profundidade do cenário dá lugar aos movimentos de superfície através do texto. Enquanto Heidegger preocupava-se com a etimologia (e a estrutura de re|velar denuncia muito disso), Derrida enfatiza os deslizes dos significantes: em um texto em que nada se apresenta, mesmo na forma de autoapagamento, trata-se menos de texto como disposição (das imagens) das coisas e mais de texto como estruturar e botar para funcionar uma máquina. A grande provocação que Derrida coloca com o Mímico de Mallarmé constitui questionar o privilégio dado ao Ser ao longo da tradição metafísica ocidental (englobando, por isso mesmo, o próprio Heidegger, que se queria fora dessa tradição e superando-a).
A dissimulação necessária, originária e irredutível do significado do ser, sua ocultação no próprio desabrochar da presença… Tudo isso indica claramente que, fundamentalmente, nada escapa ao movimento do significante e que, em última instância, a diferença entre o significado e o significante é nada. Contudo, essa falta de diferença entre o significado e o significante não é a simples presença de algo em si. De modo mais peculiar, não se trata da presença de algo (sentido primeiro de mimese) ou de sua representação (sentido segundo de mimese), mas de algo que está entre e não está em nenhum dos dois, ao mesmo tempo em que envolve ambos: o que se suspende, portanto, não é a diferença, mas os diferentes, os diferendos, a exterioridade decidível de termos diferentes. Resulta disso que o literário não se pode subordinar a qualquer metafísica ou filosofia da literatura (a querela de Derrida com a crítica temática já é bem conhecida e expõe essa questão). Se a literatura está mesmo ao lado do ser, se nada está meramente presente em sua estrutura de jogo (ou brincadeira) mimética, dificilmente se poderia determinar a presença de qualquer tema ou assunto em si: não há essência da literatura, nenhum ser-literário ou ser-literatura da literatura. Dizer que um texto literário seria sobre alguma coisa seria retornar à concepção segunda de mimese (imitação, representação), o que, a esta altura, já compreendemos não dever fazer. Uma crítica temática subordinaria o texto literário outra vez à ontologia, reduzindo-a à jurisdição daquilo que é.