Adva, O
Vertente Infindo, agradado do sabor, da dor, do toque macio e carinhoso d’A Luz
do Mundo, fez Sua luz se refletir por toda a extensão Dele mesmo, portanto auxiliando
no cumprimento da dificultosa missão Dela. E o Dia se fez, fazendo-se, fez-se claridade.
E a Noite se fez, fazendo-se, fez-se escura. Aqueles Sem Rosto, do outro lado
do deserto de Krysta, gritaram muito, pois suas peles ardiam com o calor do Dia
e os ventos cortantes da Noite.
Ela caiu no
chão, extasiada.
Viu diante
de seus vivos olhos toda a História e experimentou todas as histórias.
Apalpou a
essência d’O Espaço em si mesma, materializada em toda sua imaterialidade.
Corroeu-se
sua pele com a gentil passagem infinitamente veloz e irrefreável d’O Tempo.
Esmagou-a
como uma pluma incomensurável a Existência em Si.
Gozou-a e
riu-se Dela A Sabedoria.
Girando e
girando, espiralando tudo, estonteou-a A Emoção, de mão dada à sua abstração, O
Sentimento.
Arruinou
Seu espírito A Mente, etérea, mas sempre tão densamente povoada.
A tal ponto
incendiaram-na corpo e essência que estava Ela morta ao final da Iluminação do
Mundo. Morta como só A Morte pode finalizar tão esplendoroso espetáculo de Vida
e Amor. Havia agora, sim, tudo; A Vida caminhava por todos os lugares, tudo que
antes era imóvel, tornara-se movimento! Havia agora, sim, tudo; as areias de
Krysta ascendiam, uniam-se, dançavam todas juntas e Os Impérios, eis eles aí,
estupendos, reluzentes, miraculosos! Havia agora, sim, tudo; O Som, lá estava
ele, onde houvesse voz, zumbido, palavra, ruído, onde antes havia silêncio!
Havia agora, sim, tudo; A Luz, esse símbolo infinito, fazia o que outrora fosse
irreal, agora era forma, claridade, percepção! Havia agora, sim, tudo.
A Luz do
Mundo parou. Nem um espasmo, nem um piscar de olhos, nem uma lágrima. Silêncio,
Escuridão e Morte reinavam soberanos sobre aquela carcaça. E de sua barriga, de
seu sacrossanto ventre espirrou muito sangue, muito mais que Aqueles Sem Rosto
puderam beber e comer, mastigar e deglutir, saborear e festejar. A pele
lentamente se rasgava, como um pano esticado pelas pontas, qual se rompe lenta
e dolorosamente. Dolorosamente? Ela já não sentia, porque não mais era, não
mais estava. Estava? Estava noutro estado, noutra forma, na forma morta,
estacionária, degradante. E do tecido de pele rompido saiu O Primeiro Homem.
Ambivalente,
ambíguo, de dupla natureza, essência distorcida e perturbada, ele caminhou
lentamente, todo sob o férreo e dócil sangue de Sua Mãe. E sob o sangue de Sua
Mãe, ele beijou, ajoelhado, as mãos daquelas três entidades. Filho, portanto,
d’A Luz do Mundo, mas batizado, ao nascer, pelo Silêncio, com suas longas e
brancas mãos, de dedos tão extensos que remetiam a memória a tentáculos, mas
quem tinha tentáculos era A Escuridão, qual também abençoou O Primeiro Homem ao
nascer. Mais fundamentalmente, porém, nasceu Ele sob o signo da terceira
entidade. Fruto da morte de sua mãe é Ele, também, mortal. E mortal sendo,
visitou Os Impérios de Krysta, porque O Tempo, para Ele, agora é a mais
preciosa joia, já que A Vida se esvai com o caminhar indiferente daquele. E
tudo tem novo significado, porque nada é perene.
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