Fecho meus
olhos e tudo passa por mim, tudo me atravessa. Como se fosse outra pessoa, não
fosse eu mesmo quem sempre pensei ser. Em verdade nunca sou – nunca somos – mas
isso é muita digressão filosófica para pouca praticidade. Não gosto dessa sensação.
Sinto-me frágil e incompreendida. Por que tem de ser assim? Tem de ser assim? É
tudo muito barulhento e confuso!
– “Para de
me xingar, porra!” – Gritei, sem me importar, afinal, ele não se importa
comigo.
Ele não se
importa comigo? E todas aquelas noites cheias de bons desejos e sussurros? E
toda exposição? E todos os perrengues que ele suportou? Eu sou uma nojenta,
mesmo. Uma desgraçada.
Não! Por
que eu penso bem dele? Ele não me merece! Olha as merdas que ele disse! Foco,
guria, não é uma brincadeira, estamos falando de problemas. Seu relacionamento
tá indo por água abaixo! Vai, calma... O que vai acontecer... Chega! Vai se
foder! Eu desisto!
– “Chega! Caralho!”
– Bradei, por fim, impaciente.
Ele
realmente não pode estar agindo assim! Isso é tão idiota! São só algumas
palavras, poxa... Eu não errei tanto, não pode ser. Não é lógico! Bem, o que é
lógico num namoro, né? Tola, eu. Não deveria devanear logo agora, mas o que ele
disse, eu não... Não gosto de lembrar o Marcos me dizendo aquilo. Se ele
soubesse como dói reviver tudo isso, nem mesmo começaria! Droga, S. você está
chorando de novo! Sua tola! Mil vezes burra! Larga logo dele! Mas se eu largar,
que será dele? Que será de mim?! Não tenho nada além dele, ele é o melhor que
jamais tive! Como eu poderia deixá-lo por tão pouco? Sim, é óbvio!
– “Amor,
para, por favor... Não aguento mais chorar!” – Desabafei. Sufocava-me, era como
vestir uma gravata apertadíssima num dia de verão.
Sim, é
óbvio. Ele se sente enciumado porque eu não pareço pertencer a ele! Como ele
quer que eu supere coisas alimentadas por anos e anos? Não é assim tão simples.
Beijar minhas cicatrizes para curá-las! Como se ele tivesse paciência pra isso!
Não... Isso foi... Amor... Eu realmente não sei como me portar diante dele! O
que ele fez comigo, afinal? Já nem sei quem sou mais. Por que tem de ser assim?
Tem de ser assim?
– “Amor! Essa
foi a coisa mais linda que alguém já me disse!” – Admiti a contragosto, mas
sinceramente.
Que há com
ele, afinal? Parece doido! Ai! Quero matá-lo! Como ele pode me fazer sorrir num
momento tão cruel?! Como ele pode mudar de humor tão facilmente? Eu não
entendo! Ele quer me deixar doida! Chega! Falar coisas assim tão bonitas agora
não vai me comprar... Se bem que ele sussurrando aquela noite, eu me arrepiei
toda... Ainda lembro aquelas mãos quentes, levemente ásperas, os lábios
deslizando por minha orelha, a umidade resfriando a pele por causa do vento, as
estrelas todas bem dispostas sobre o pano preto do céu noturno... Tão poético
quanto só ele sabe ser! Não é assim tão simples, meu amor. Você é o melhor, de
fato, mas calma lá! Trata-se do meu passado! Ele existente desde antes de você,
então acalma essa boca!
Droga! Detesto
quando me confunde e me cala com um beijo, é tão excitante e romântico! Pecado
e perdão se confundem num só momento e não sei quem sou, nem onde estou, perco
o ar e o pensamento, tudo me arrepia e nada sobra na mente senão a imagem dele.
Maldito! Me tem sob controle! Ele vai ver! Deixa só eu me livrar desse abraço
quente e macio, onde me sinto segura e a salvo de tudo... Onde o passado parece
distante e só quero o hálito quente dele em meu pescoço, enquanto as lágrimas
me descem... Não dá! Não tenho forças para lutar com ele! É desleal! Eu sou
toda dele! Sou toda só dele, caramba!
Desleal sou
eu, que não sou toda dele... Não quero compará-lo, mas é inevitável! Por que a
mente tem de funcionar assim? Tem de ser assim? Eu não entendo! Se devemos
superar o passado e nos tornar sempre melhores a cada relacionamento, por que a
memória compara tanto as situações? Bem, de qualquer forma, ele leva vantagem,
é tão doce! Tão meigo e fofo! Queria abraçá-lo como ele me abraça só para ele sentir
como é bom! É tão divino, é como sumir do mundo, é como flutuar num céu
ensolarado!
– “Eu só
queria que tu pudesses te ver pelos meus olhos!” – Tive de dizer, entre a
incerteza e o cansaço.
Deus!
Exaure-me discutir contigo, homem, tu és tão carente quanto eu, ou talvez mais.
Vem cá e deixa cuidar de ti mesmo que não possas cuidar de mim. Eu te sou fiel
e atenta a tudo, eu te sou leal e obediente, porque melhor que tu não pode
haver. És meu. Sou tua. Só tua. Toda tua. Ama-me, portanto. Não há remédio.
– “Sou teu anjo, sim! Logo, estou sempre contigo e para sempre te cuido, sem abandonar ou esquecer, até porque és tanto para mim que se te abandono me lanço também à solidão, pois só sou quando contigo estou, meu amor!” – Finalizei, de coração exposto e sangrando as verdades mais íntimas, toda minha sinceridade.
– “Sou teu anjo, sim! Logo, estou sempre contigo e para sempre te cuido, sem abandonar ou esquecer, até porque és tanto para mim que se te abandono me lanço também à solidão, pois só sou quando contigo estou, meu amor!” – Finalizei, de coração exposto e sangrando as verdades mais íntimas, toda minha sinceridade.
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