domingo, 20 de novembro de 2016

Gravidade do Exílio

     Você parte para o quinto círculo de exílio, onde a gravidade aprendeu a lidar consigo mesma. O nome já não te puxa mais para baixo. Você derrama o passado; você o esculpe com sua pele e flutua infinitamente, encantado pelo tempo leve. Gravidade é um jeito de ser, reflexo da visão de alguém doente. Cativante é a sensação de não mais estar preso ao chão. O vento te transporta acima das terras onde a história dorme escutando seus próprios mitos. Seu corpo submerge num estado de euforia. O núcleo da perfeição: onde o coração não ama um, senão todos; onde tudo é uma terra estrangeira sob seus pés; onde você pertence a todos os lugares e a nenhum.


     Contentamento além do querer. Você cresce dentro do seu mundo, não mais um andarilho. Você abraça o momento pelo momento apenas por um momento. Você possui o outro pelo outro, não por si mesmo. Ama a si a partir de si, não do outro. A língua se manifesta a si mesma como instrumento para a sua alma tocar corações aonde quer que vá. As contradições de si tornam-se muitas notas soando em harmonia. Não mais o sonho; o sonho se tornou você. Você deixa ir. Deixa. A mente em paz com seus fragmentos, não mais uma parede sufocando seus tecidos. Não mais fronteiras cortando o corpo em metades diferentes. Separação de um e de todos. Exílio torna-se uma escolha, não um fardo.



texto de Assad Abdi, traduzido por Igor S. Livramento

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