domingo, 10 de setembro de 2017

EMHOMANAGEMARA

O ser é um efeito de discurso entre outros, e a ontologia é uma vergonha [honte, donde hontologie], a não ser que tomemos a ontologia como hantologia, um saber dos espectros, ou, em outras palavras, daquilo que se diz e permanece esquecido atrás do que foi dito naquilo que se ouve, o que, em última análise, retrai-nos à questão da aisthesis, palavra digna de figurar, de fato, com destaque em um dicionário dos intraduzíveis.
    A aisthesis é um derivado de aisthanomai [αἰσθάνομαι], e, como tal, configura um conceito altamente equívoco. Depende de suas relações. O verbo aisthanomai provém de ἀΐω, e este do sânscrito avih [आविस्], como o latim audio, ou seja, significa ouvir, escutar e, menos frequentemente, obedecer. Usado com genitivo aponta a fatos sensoriais (exceto a visão) e se poderia traduzir como perceber. Com objeto em acusativo, significa compreender. E com genitivo de origem, quer dizer tomar conhecimento por meio de alguém, vir a saber, através de uma língua, por exemplo. A tradução mais comum do verbo aisthanomai, ou seja, sentir, tem, por outro lado, inicialmente, o significado de perceber pelo odor, ou inclusive exalá-lo, o qual mostra que, na aisthesis, há fusão de sujeito e objeto, algo que se comprova além disso no deslocamento de aisthesis a nous, quando traduzimos o conceito como sensus. O termo grego nous (inteligência, espírito, mente, sagacidade, sabedoria, alma, intenção, desejo) nos conduz ao paradigma da visão, já que o verbo latino intueri (ver) recupera a matriz visual de teoria, o species. Aisthesis, no entanto, mostra uma sensibilidade de downcast eyes, para retomar o conceito de Martin Jay, do qual concluímos que, substituir a mimesis pela aisthesis nos abre um campo muito complexo de relações.

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