Ao abrir um livro, mergulhamos em histórias diferentes até esquecermos da nossa. Outras vezes, descobrimos coisas sobre nós mesmos através dos personagens. Uma boa leitura pode ser o melhor refúgio para aliviar nossa alma e um antídoto contra as adversidades.
O mundo já não é maravilhoso, deixaram-no assim. Como em jet lag permanente, não pode se conectar com a realidade circundante. Freud disse que palavras e magia eram a mesma coisa a princípio. É por isso que continuamos a procurar refúgio nos livros quando a vida parece uma piada estúpida? Você, passageiro em horas baixas, abre um romance e, nas suas páginas, encontra algo como um barco salva-vidas, um alívio balsâmico à inquietação.
Os leitores vorazes sabem muito bem que livrarias e bibliotecas são um kit de primeiros socorros eficaz para a alma, como já declarado na Antiguidade. Ficção e poesia, diz a romancista Jeanette Winterson, são medicamentos que curam a ruptura que a realidade causa em nossa imaginação. De acordo com o tópico Horaciano dulce et utile, ensinam-nos deleitando-nos. O eco das palavras, o ritmo e as imagens com uma grande carga emocional inundam e ativam os recessos da consciência. Quando lemos um texto literário inteligente e sedutor, o mundo se torna mais habitável.
A biblioterapia é possível graças ao choque de identificação que ocorre no leitor quando se vê refletido na história.
Entre os benefícios da leitura de ficção, o primeiro, por mais óbvio que seja, é se conhecer melhor. Proust, que hoje poucos negariam suas aptidões para a ciência cognitiva, afirmou que cada leitor, ao ler, é leitor de si próprio. Ele acrescentou que o trabalho do escritor nada mais é que uma espécie de instrumento óptico oferecido ao outro para permitir discernir o que, sem esse livro, não poderia ver. Entrar no universo dos romances é viver várias vidas. Com um livro em nossas mãos, um terreno se abre diante de nós para experimentar diversas circunstâncias sem fim. A biblioterapia é possível graças ao choque de identificação que ocorre no leitor quando é refletido na história. Temos empatia com outras pessoas, com outras formas de pensar. Além disso, a leitura é uma emocionante aventura intelectual. Para André Gide, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, ler um escritor não era apenas ter uma ideia do que ele diz, mas é fazer uma viagem com ele.
A leitura nos coloca em um espaço intermediário: enquanto nos suspende, liga-nos à nossa essência mais íntima, um bem valioso para manter certo equilíbrio nestes tempos de distração. A leitura, disse María Zambrano, dá-nos um silêncio que é antídoto para o barulho à nossa volta. Dá-nos um estado agradável semelhante ao da meditação e nos dá os mesmos benefícios que o relaxamento profundo. Ao abrir um livro, conquistamos novas perspectivas, porque a ficção compartilha com a vida sua essência ambígua e multifacetada. Como só podemos ler um número limitado de títulos, o que estamos procurando? Obras que reafirmem nossas crenças ou que as façam vacilar? Kafka foi muito claro: só devemos entrar nas obras que mordem e perfuram: “Um livro tem que ser um machado que abre um buraco no gélido mar dentro de nós”.
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