… em acreditar que a autoria seja alguma forma de autoridade: já se devassou demais o auctoritas etimológico. Quero dizer em contrário, especialmente meu posicionamento atual: o artista é algo como uma força, uma aura, uma carga quase sobrenatural aposta ao sujeito, um acosso incorpóreo – ou cujo corpo é a imaterialidade – que se apende à empiria. O mesmo acontece à arte, apende-se certo deslocamento à matéria, à revelia de sua resistência. Uma evidência histórica excelente, clássica e pouco explorada: o quanto se atribuiu genialidade a Leonardo da Vinci, enquanto boa parte das geniais criações dele foram, mais tarde, devolvidas ao nome Bernardino Luini. Por medo de perda de importância das obras, assume-se que sejam cópias pouco deturpadas de originais de Leonardo. Não é isso mesmo o artista, aquele que repete esses vapores invasivos a que chamamos ideias? Conceber a arte a partir de pretensos originais é uma estupidez sem tamanho – não passa de matéria reorganizada (ou desorganizada); algum idiota ousaria clamar que as sensações, as emoções e os sentimentos que sente são propriedade privada, ninguém mais poderá senti-los a partir da data de registro legal? Se Luini foi descreditado (o termo é necessário para nossos dias) em vida e por muito tempo após sua morte, como faremos justiça às atribuições errôneas geologicamente (des)estabilizadas? Como afetar o tempo se não temos uma máquina do tempo para dar conta do recado? Há que se viver fora de época.
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