Premissas: a crítica não é uma função do gosto; a obra fornece as condições de sua crítica; a língua é o parâmetro.
Comecemos pela última premissa: a língua é sempre parâmetro, pois se trata da mediação universal, primordial. Não haveria mídia sem língua. Língua é mediação. Assim, a crítica constitui uma parte essencial da teoria do conhecimento (seja gnosiologia ou epistemologia), por isso a teoria do conhecimento é apenas uma forma muito específica da teoria de mídia. Os estudos de linguagem não devem constituir, portanto, o privilégio desta ou daquela mídia, senão a teoria da mediação, os dois modelos, precisamente, são a crítica literária e a tradução.
Essa premissa também implica que o parâmetro não é a crítica de artes plásticas, como se vem consolidando há muito, mas a crítica de poesia, a crítica às artes literárias. A seu turno, isso implica que o parâmetro mesmo não é nenhum exemplo de artes plásticas, seja pintura, desenho, escultura, etc., mas o poema e, mais modernamente, o romance (e o conto).
Isso ainda acrescenta uma volta ao parafuso, tendo em vista que a crítica e a obra habitam o mesmo meio, a mesma mídia, e se valem das mesmas ferramentas, ou seja, tudo está feito em linguagem, são textos de um lado e textos de outro. Percebe-se o acréscimo de complexidade ao se reintroduzir o conhecimento, o qual se torna, agora, meio, mediação.
A primeira premissa nos diz que o gosto tem sua função na crítica, visto que orienta o crítico a esta ou àquela obra, mas não se pode estender além desses limites estreitos das afinidades, porque reduziria a crítica à empatia fácil.
A crítica, ao contrário, constitui-se na capacidade de manter distâncias ao desenvolver familiaridade com a obra. Trata-se, portanto, de uma ambivalência, um jogo dúplice. Se exige, por um lado, o comentário, portanto a análise da obra, sua dissecação em elementos constituintes (e a frieza requisitada para essa tarefa), por outro, demanda a reintegração dessas partes, não numa totalidade fetichizada, reificada, senão na singularidade da obra enquanto unidade unitária (e a paixão requisitada para essa tarefa). A obra, como a ideia, é um todo não total, experiência integral sem integridade, impassível à integração.
A premissa medial afirma que a obra traz todo o material necessário para sua crítica. Isso se deve à obra ser como a ideia, totalidade não totalizável. As contrapartes da obra são a vida, a coisa e o mundo. Gostaria de deixar esta parte aberta à interpretação, mas anotarei minimamente alguma orientação de leitura.
Mundo é o chão a partir do qual pode brotar e haver obra (e vida e coisa). Vida é a contraparte do crítico à obra. Coisa é a contraparte da matéria à obra.
Assim, a obra se coloca como uma vida, outra vida que não do crítico (nem do autor), vida outra, mas também outro da vida, outra coisa que não vida. Coloca-se como a única coisa que não é uma coisa propriamente, mas que se faz feita de coisas, faz uso das coisas, a fim de não ser em si uma coisa, não se reduzindo a uma coisa em si. Coloca-se como outro mundo que abre tanto o mundo como outro, quanto o outro do mundo.
Hermetology?
Premises: criticism is not a function of taste; the artwork provides the conditions for its criticism; language is the parameter.
Let us begin with the last premise: language is always the benchmark, since it is universal, primordial mediation. There would be no media without language. Language is mediation. Thus, criticism is an essential part of knowledge theory (be it gnosiology or epistemology), so knowledge theory is only a very specific form of media theory. Language studies should therefore not be the privilege of this or that media, but the theory of mediation, the two models precisely, are literary criticism and translation.
This premise also implies that the parameter is not plastic arts criticism, as has long been consolidated, but poetry criticism, the criticism of the literary arts. In turn, this implies that the parameter itself is not an example of the plastic arts, be it painting, drawing, sculpture, etc., but the poem and, more modernly, the novel (and the short story).
This further adds a turn of the screw, given that criticism and artwork inhabit the same medium, the same media, and use the same tools, i.e. everything is done in language, texts on one side and texts on the other. One can perceive the added complexity of reintroducing knowledge, which now becomes a medium, mediation.
The first premise tells us that taste has its function in criticism, since it guides the critic to this or that work, but it cannot extend beyond these narrow limits of affinities, because it would reduce criticism to facile empathy.
Criticism, on the contrary, is the ability to maintain distances by developing familiarity with the work. It is therefore an ambivalence, a twofold game. If, on the one hand, it demands commentary, therefore, the analysis of the work, its dissection into constituent elements (and the coldness required for this task), on the other, it demands the reintegration of these parts, not into a fetishized, reified totality, but into the singularity of the work as a unitary unit (and the passion required for this task). The work, like the idea, is a not total whole, an integral experience without integrity, impassive to integration.
The middle premise states that the work brings all the material necessary for its critique. This is because the work is like the idea, a totality that cannot be totalised. The counterparts of the work are life, the thing and the world. I would like to leave this part open to interpretation, but I will note some reading guidance at least.
World is the ground from which work (and life and thing) can spring. Life is the counterpart of the critic to the work. Thing is the counterpart of matter to work.
Thus, the work is placed as a life, another life than that of the critic (or author), another life, but also other of life, something other than life. It is placed as the only thing that is not a thing itself, but that is made of things, makes use of things, so as not to be a thing itself, not to be reduced to a thing in itself. It places itself as another world that opens up both the world as another, and the other of the world.
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