terça-feira, 30 de maio de 2023

Outra tradução de S. Beckett

O penhasco

Samuel Beckett

Janela entre céu e terra nenhum lugar conhecido. Abrindo para um penhasco incolor. O cume escapa do olho onde quer que se ponha. A base também. Emoldurado por duas seções de céu sempre branco. Alguma marca no céu no fim de uma terra? O éter além? Das aves marinhas nenhum traço. Ou muito pálido para aparecer. E então que prova de um rosto? Nada que o olho possa encontrar onde quer que se ponha. Desiste e a cabeça confusa assume controle. Por fim pela primeira vez aparece a sombra de uma borda. Paciência, será avivada com restos mortais. Um crânio inteiro emerge ao final. Um só dentre aqueles que os resíduos evidenciam. Ainda tentando afundar seu coronal na rocha. O olhar antigo mostrando-se pela metade nas órbitas. Às vezes o penhasco desaparece. Então voa o olho para a brancura de ponta a ponta. Ou então longe de tudo.

O caminho

Samuel Beckett

8

O caminho subia do pé ao topo e daí descia por outro caminho. De volta para baixo. Os caminhos cruzavam-se mais ou menos no meio do caminho. Um pouco mais e menos que no meio do caminho acima e abaixo. Os caminhos eram de mão única. Não era possível refazer o caminho para cima nem voltar para baixo. Nem no todo do topo ou do pé, nem em parte desde a caminho. O único caminho de volta era para frente e para frente era sempre de volta. Liberdade uma vez no pé e no topo para pausar ou não. Antes de voltar para cima e para baixo. Brevemente, uma vez nos extremos, a vontade libertada. Andar para baixo e para cima, sempre o mesmo ritmo. Um pé por segundo ou milha por hora e mais. Então, do pé e do topo até os cruzamentos, os segundos poderiam ter sido numerados, então a altura conhecida e a profundidade. Poderia, mas esses segundos foram numerados. Espinhos cercavam o caminho. Os caminhos. A mesma névoa sempre. A mesma meia-luz. Como se a terra repousasse. Areia solta sob os pés. Portanto, nenhum sinal de restos, nenhum sinal de que alguém tenha antes. Ninguém jamais antes assim —

Para frente e para trás através de um mesmo caminho sinuoso e estéril. Baixo no Oeste ou Leste o Sol parado. Como se a terra repousasse. Longas sombras antes e depois. O mesmo ritmo e tempo incontável. A mesma ignorância de quão longe. A mesma liberdade, uma vez em cada extremidade, para fazer uma pausa ou não. Em qualquer extremidade sem fundo. Antes de avançar ou recuar. Através do vazio, os caminhos batidos tão fixos como se fechados. Se o olho mirasse o vazio interminável. No término interminável ou na luz inicial. Rocha sob os pés. Portanto, nenhum sinal de restos, um sinal de que ninguém antes. Ninguém jamais antes assim —

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