Por um momento faço uma pequena digressão e saio da série Momentos Dele e Dela para expor um trabalho poético que venho desenvolvendo há algum tempo. Chama-se: Alva Noite. Uma coletânea de poemas simples feitos ao sabor dos momentos em que são improvisados, falta-lhes qualquer tema que os una num bloco bem arranjado. Quem sabe o tempo (e o consequente amadurecimento do fazer artístico) trará solução? Não há como saber de antemão, até lá, trago aqui os primeiros quatro poemas para atiçar-lhes o paladar, caros leitores.
Alva Noite
I
Quero urrar teu nome na
Noite espiritual que abrasa
Os corpos em já afogueado
Mergulho turvo, confuso,
Incerto, incandescente, infeliz...
De mim! De nós! Mas jamais
De ti. Jamais de ti, porque tu
És sagrada, imaculada amante
De ninguém, posto que não me amas,
Portanto não amas a ninguém!
...
Ama?
Ama!
Ama-me porque te quero,
Porque te serei bom, serei tua sombra, sombra da
Tua mão...
Serei teu amante em tudo, por isso
Ama-me!
Ama!
Sê minha dama, rainha sem trono,
Dona de mim, ainda que eu não saiba ser bom servidor,
Quieto e resignado...
...
Se eu deixar de ser, tornar-me não-ser,
Inexistir, tu, pérfida imperatriz, proverás,
Então, meu coração-império?!
II
Os cortes em minha pele não sabem
De todos os pensamentos em minha cabeça.
Quando se abstinha a droga rainha -
Antes mesmo que as lâminas desabem
Sobre minha úmida pele fria -
Dentro de mim um movimento havia
Que, como um malévolo elfo, sondava
Os pensamentos e, frívolo, ria
Da miséria que minh'alma virava.
III
No mundo inteiro quem mais te ama sou eu!Não assusta que, engolindo meu ego,
Finjo não doer, faço-me de cego
E, em amores derretidos, sou todo teu!
Nenhuma musa de poeta grego
Jamais será tão bela quanto o amor que é meu.
'Inda que sem enxergar, porque a dois no breu,
Teu amor sinto em meu corpo trasfego.
Amo-te a meu jeito, num templo irreal
Que crio ao lembrar-te deitado no leito,
Fazendo a memória explodir-se em cores.
Quando de meu corpo me sinto desfeito,
Sinto-me derreter por ti em amores
E o mundo se esvai num sonho auroreal.
IV
Tua alva voz me ordena crueldades
Mil. Eu as obedeço, mas percebo
O mal feito a mim. Temo confessar:
Amofinado estou, angustiado.
Nas palavras que outrora me louvou
Tua voz, percebi má sugestão.
Religião alguma preservou
Minha integridade de mãos tão
Opressoras, cruéis, tais quais as tuas.
Defendo-me. Silêncio. Ris de mim.
Mais nada a declarar, vou indo embora.
As palavras que dizes repulsam
Minha presença. Temo confessar:
Para ficar, razões me faltam, boa senhora.
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