Hoje vi uma borboleta morta, imóvel, na calçada. Não
quero falar disso, mas de algo tão fortuito quanto. Durante meu trajeto, tive
um anjo ao meu lado. As mãos, tão finas e alvas, eram mármore vivo – enquanto
estiveram sob minha vista, ansiei tocá-las. Sobre a destra um diamante preto,
uma tatuagem, vocês diriam; eu digo: marca do mundo, seres tão frágeis não são
próprios para a brutalidade deste jardim. Um de seus fios se desprendeu e
meteu-se entre as páginas de meu livro – o cabelo não era loiro, era dourado,
juro! Virou-se para se desculpar; as folhagens jamais terão o verde daqueles
olhos. E a voz, tão doce, tão leve, embalou-me nestes e noutros delírios,
ignorando o concerto do mundo. Desci de tantas alturas para lhe sorrir um "tudo
bem". Hoje compreendi Baudelaire e sua passante.
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