— Esse é o nódulo negro de meu coração que alguém ainda há de curar.
— Mas é teu, tu deves curá-lo.
— Não mesmo. Não foi posto em mim por mim, não serei eu a curá-lo.
— Mas tu o sentes, deves tirá-lo daí por ti mesmo.
— E todas as vezes que fui sincero? Fui porque quis? Não há nada além disso, é o que me dizes?
— Sim, isso te foi bom. Não te sentes bem, aliviado talvez, de teres sido sincero?
— Nem um pouco! Tive que medir palavras, cuidar para não machucar quem não me cuidou. Então a responsabilidade vai para a merda, é isso mesmo!? Ninguém é responsável ninguém, é isso mesmo? As palavras já não valem nada, é o que encontro a cada esquina.
— Não…
— É claro que não estou bem de ter sido sincero, mas que posição idiota e servil. Então agora todos devemos agir como nos sentirmos bem agindo? Agir como bem quisermos? Isso não faz sentido algum. Eu me sentiria muito bem matando quem me feriu assim, então devo matar? Deixe de bobagem, isso é insustentável.
— Eu nunca supus que esse dia chegaria, mas… tens razão. Não me agrada em nada admitir, mas estás certo, sim.
— A justiça é uma tarefa infinita, impessoal. Antecede preferências e gostos. Poderia dizer até que é uma questão divina, tão objetiva e suprema a justiça se nos afigura. A justiça pouco tem a ver com o que se quer, habita o que se deve, o que é certo, mesmo que ninguém seja capaz de cumpri-la, dar-lhe corpo neste mundo terrível.
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