Sejamos planejadores ou improvisadores, é necessário planejarmos essa escrita. Certamente, não há uma maneira correta de escrever, mas há diretrizes úteis para essa empreitada. Aí vão cinco diretrizes sobre o planejamento.
1) Não planejar.
Nosso maior erro ao começar um projeto. Levar-nos-á ao desconhecimento da premissa, afastando-nos do argumento, impedindo-nos de escrever com mestria. Mesmo um improvisador de primeira mantém por perto um caderninho com anotações das ideias e temas centrais da obra a improvisar. Uma premissa (em ficção) é o resumo da história em uma frase: os personagens principais, seus objetivos e os obstáculos em seus caminhos. Quase como uma notícia: quem, o que, quando, onde, como e por quê. Com esse contorno [outline] evitaremos muitas dificuldades: furos e complicações na trama, histórias paralelas irrelevantes, entre outros problemas recorrentes.
2) Ignorar a importância dos personagens.
Então, planejamos um enredo cheio de curvas e nuances, reviravoltas e torções. Estamos prontos! Bem… Ainda não. Repleta-se, todo bom romance, de personagens memoráveis. Eles animam a trama e vivem a história. Mesmo em narrativas as mais enredadas, os personagens são marcantes e desenvolvem-se junto aos acontecimentos: desenvolvimento de personagem e de enredo correm paralelamente. Quando planejarmos nossa ficção, planejemos também nossos personagens: quais suas funções, como se relacionam, o que os motiva etc. Personagens interessantes dão sangue e movimento ao enredo. Se ambos foram planejados e estão vivos, ainda melhor será nossa escrita!
3) Não pesquisar.
Sim, pesquisar. Não precisamos escrever uma tese de doutorado sobre qualquer assunto para ficcionalizarmos, porém devemos pesquisar minimamente os elementos a utilizar. Mesmo se não estamos a escrever uma ficção histórica ou sequer realista, pesquisar é crucial – pesquisar nossas influências e interesses, curiosidades e variedades. Com boa pesquisa, evitaremos clichês, lugares-comuns e estereótipos, especialmente personagens diferentes de nós, seja pelo sexo, gênero, classe socioeconômica, alinhamento político, personalidade ou ainda outro aspecto.
4) Escolher a perspectiva errada.
Consagrou-se, em cada gênero ficcional, alguma maneira específica de narrar: primeira pessoa em histórias de detetive e enredos policiais, terceira pessoa (onisciente) em fantasia e assim por diante. Não devemos nos submeter a convenções e sedimentações históricas, mas é sempre bom levar em consideração o que foi testado e bem-sucedido. Perguntemo-nos: a protagonista é tão bem-humorada que seria uma perda lastimável não ver o mundo por seus olhos? Ou há tantas personagens interessantes que é um desperdício fugir da visão onisciente? Devemos escolher por boas razões, questionando-nos quais efeitos almejamos.
5) Ignorar o leitor.
Queremos escrever algo universalmente agradável. Isso, infelizmente, é impossível. Ignorar essa impossibilidade nos levará a produzir uma aberração ilegível. Consideremos nosso alvo, imaginemos nosso leitor ideal (porque elaborado apenas em nossas ideias). Isso basta. Sim, é possível termos lido um tão grande bocado de tudo que acabamos por pensar em escrever essa colcha de retalhos estilísticos. Contudo, escrever não é ler. Compreender nosso público – em linhas gerais, tudo aqui é liberdade eficaz – trará mais pesquisa (leitura), a qual felizmente nos dará estímulo (todo bom escritor é grande leitor) e escopo, compreensão sinóptica (saberemos o que já foi feito e em que estamos repetindo ou inovando). Nossa sanidade – e de nossos leitores – agradecerá nosso esforço.
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