160. Talvez haja algo de inimitável entre uma arte e outra, duma para as outras. Classificatórias baseadas no espaço-tempo ou nos cinco sentidos são inúteis porque todas as artes entrarão nalgum momento, com suas respectivas potências em cada aspecto. Há aproximações e distâncias e é tudo uma questão de defesa, ou seja, não há verdade, é só retórica. Quem sabe a verdade seja retórica? "Ou a retórica seja verdade?", falso, porque a mentira é possível. Inverter a fórmula da verdade pela da mentira apenas porque esta última tem mais ocorrências e instâncias parece interessante, mas permanece insuficiente, especialmente quando se leva em conta a ética, coisa que muita gente já deixou de fazer faz tempo, daí o estado atual de coisas. Por quanto se queira, é impossível se livrar da verdade em última instância. O que é possível é refinar seu pensamento (sim, a ambiguidade do pronome é proposital e necessária) – eis a ficção, forma menos rude, menos rudimentar de conceber a verdade.
161. Entro no segundo ônibus, perdi o primeiro. Em ambos não há elevador. Uma garota sobre cadeira de rodas aguarda, visivelmente impaciente. Não me desperta compaixão, ou sofrimento, nada. É um vácuo. Não a vejo, não a ouço, não a toco, não a cheiro, não a saboreio, não a sinto, não a penso. Definitivamente não estou anestesiado, é ainda outra coisa, outro lugar, outro pensar, talvez algo impensado.
162. Pensar e pesar soam parecidos. Há algo aí.
163. Sensível é aquilo que está pensado já fora dos objetos e ainda não dentro dos sujeitos (não necessariamente humanos, sempre vale lembrar, um espelho, por exemplo, é o sujeito por excelência, arquetípico, do sensível visual). O tal "espírito objetivo" hegeliano não passa disso, duma recepção praticamente passiva dos sensíveis por parte do "espírito (do sujeito)".
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