sábado, 24 de agosto de 2019

A-B

Do pensamento clássico podemos herdar a distância entre o matema e o poema, duas entidades dissimilares, partes desiguais. Essa distinção fazia pertencer o matema à filosofia e o poema à sofística. O tempo passou, a modernidade chegou, e já não faz sentido trabalhar assim. De Platão, A República e o Protágoras servem para exibir quanto a filosofia lutou para abarcar ambas as emas em si, excluindo a sofística no processo. O que nos importa reter, contudo, é a existência dessa duas emas: uma tem por emblema o vazio, o conjunto vazio; outra, a Terra, afirmativa e universal – ambas somente verdadeiras porque toda potência é também impotência, quer dizer, escapa-lhe algo, não há atuação total, senão parcial, restando sempre um inominável, sabe-se desde Gödel. Digamos que o inominável próprio do matema é a consistência da língua, enquanto o inominável próprio do poema é sua potência. Importa notar, dessa singularidade, a sua capacidade de (re)ordenação do múltiplo genérico: um poema é uma maneira de pensar.

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