18. A "humanização" dos heróis é um erro tremendo pelo qual os quadrinhos dos anos 1990 e 2000 ainda têm de pagar o preço. Algumas literaturas não ficaram atrás e degeneraram também. É alarmante como se confundiu "humanização" com mera exposição do personagem em cenas corriqueiras; em especial houve (e hoje ainda resiste forte) sexualização (que é sintomática, pois já vivíamos então uma sociedade pornográfica). A queda e o desaparecimento de modelos são fatais num mundo onde a ética já é conturbada e confusa, afetada e deficiente. Talvez os heróis fossem um dos grandes pilares e trunfos de áureos tempos idos – todo mito tinha heróis desumanizados (assumindo esse sentido vulgar e estúpido de "humanização" dos personagens, mas não só) e eles produziam exatamente essa força social e íntima capaz de impulsionar adiante sempre e tanto. Quando se dizia "a história é feita de heróis" (e notadamente não "por heróis") era uma sabedoria imensa manifesta, pois os heróis eram capazes de enraizar ou desenraizar certas coisas, mexer na terra profunda onde as raízes realmente estão, penetrar e caminhar entre essas placas tectônicas do ser, conseguiam sujar-se com dignidade e eram capazes, coisa hoje raríssima, de herdar a tradição. Tudo a eles antecedente por eles era herdado, uma lição e tanto!
19. Não há algo como "falar objetivamente" e o problema obviamente não é 'falar', mas 'objetivamente'. Se você fala, de princípio já não há objetividade. Seja pela ausência da possibilidade de um objeto qua objeto (como o Cours saussureano prova) ou mesmo pelo fato óbvio de que a língua já não é o mundo acontecendo, senão língua acontecendo, na mais benevolente concessão, no mundo.
20. Só uma democracia an-árquica é uma democracia real, pois ela é "sem arquia", sem arché, isto é, sem origem, sem passado, portanto plenamente presente. A arte há muito nos ensina que a representação é sempre desigual e indigna. Por isso a democracia tem se tornado "mediocracia", governo da mediocridade. A arte se mostrou de acordo com Lacan e com outros, (re)lendo Saussure, posto há um desequilíbrio entre representante e representado, onde o primeiro, à revelia do propaga(ndea)do pelos "filósofos", mostra-se muito mais focal que o segundo. "Sem passado, sem origem" deve ser desdobrado como fruto de uma ruptura radical com todas as formas estabelecidas e/ou tradicionais, uma verdadeira revolução.
21. É como a escultura africana: você só conhece o deus quando o coloca em seu rosto (máscaras de pedra ou madeira) e se torna ele por um instante, confunde-se com ele na dança, nem mortal, nem imortal, outra cois'ainda. Quer dizer, esse gesto de manipular, manusear, tatear, tocar, sujar um pensador e seu pensamento, é isso que nos torna íntimos dele e nos faz extrair as maiores potências e vislumbrar os maiores defeitos. Louvar à distância, kantianamente, museologicamente, é uma desonra, um desrespeito, não põe à prova o pensamento e seu pensador, não lhes extrai o teor factual e o teor de verdade ali acumulados, só os deixa museografados, arquivados.
19. Não há algo como "falar objetivamente" e o problema obviamente não é 'falar', mas 'objetivamente'. Se você fala, de princípio já não há objetividade. Seja pela ausência da possibilidade de um objeto qua objeto (como o Cours saussureano prova) ou mesmo pelo fato óbvio de que a língua já não é o mundo acontecendo, senão língua acontecendo, na mais benevolente concessão, no mundo.
20. Só uma democracia an-árquica é uma democracia real, pois ela é "sem arquia", sem arché, isto é, sem origem, sem passado, portanto plenamente presente. A arte há muito nos ensina que a representação é sempre desigual e indigna. Por isso a democracia tem se tornado "mediocracia", governo da mediocridade. A arte se mostrou de acordo com Lacan e com outros, (re)lendo Saussure, posto há um desequilíbrio entre representante e representado, onde o primeiro, à revelia do propaga(ndea)do pelos "filósofos", mostra-se muito mais focal que o segundo. "Sem passado, sem origem" deve ser desdobrado como fruto de uma ruptura radical com todas as formas estabelecidas e/ou tradicionais, uma verdadeira revolução.
21. É como a escultura africana: você só conhece o deus quando o coloca em seu rosto (máscaras de pedra ou madeira) e se torna ele por um instante, confunde-se com ele na dança, nem mortal, nem imortal, outra cois'ainda. Quer dizer, esse gesto de manipular, manusear, tatear, tocar, sujar um pensador e seu pensamento, é isso que nos torna íntimos dele e nos faz extrair as maiores potências e vislumbrar os maiores defeitos. Louvar à distância, kantianamente, museologicamente, é uma desonra, um desrespeito, não põe à prova o pensamento e seu pensador, não lhes extrai o teor factual e o teor de verdade ali acumulados, só os deixa museografados, arquivados.
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