101. Eu escrevo por todos os corações partidos, não esses de historinhas melosas, mas os verdadeiros sofridos, os fodidos, os que não aguentam mais um mundo tão horrível – os feios. Escrevo por esses abandonados, esquecidos, ignorados, desvalidos ou invalidados pela estupidez do mundo. Escrevo por esses alimentados pela miséria que sustentam o(s) mundo(s) a cada instante e que nunca se vê. Ser feio é uma bênção, porém não como se propaga. Ser feio é divino.
102. A idiotice de empirismos contemporâneos faz ignorar a enorme brutalidade de atos como a traição. É preciso trazer a verdade à tona e compreender que um ato como esse está no rol das mais absurdas violências já cometidas. É preciso ver como um "não quero nada sério agora" (mas cheia de vários, um por noite, um por festa, ou seja, a seu bel-prazer, fazendo das relações meros pedidos num cardápio desse restaurante fajuto) é ainda uma forma de traição ou mesmo corrupção, uma hipocrisia descarada e uma violência horripilante.
103. Dois pesos desiguais numa balança imprecisa.
104. Eu sou ruim, muito ruim. Mas meu ser não é achatado, diferente, ele é multifacetado em mais dimensões que o universo. Se por um lado sou mesmo preguiçoso, colérico, insurrecto, detestável; por outro, sou genial, estupendo, reflexivo, profundo, talentoso, em suma: elogiado. A disputa é desequilibrada, certamente. Os mundos que habito – ou me habitam, é a mesma coisa – fazem emergir muitos projetos, todos laboriosos, contudo estupendos, maravilhosos. Como proceder? Essa a pergunta fundamental. Se o caminho a frente é sempre apropriado, se ele só nos afigura quando estamos aptos, por que a sensação de inaptidão? Por que as intempéries tantas e tão difíceis? Esses objetivos, eu quero atingi-los todos! Mas se trata de fazer e não querer, o que complica muito as coisas. Preciso chegar lá? Devo? Sim, é uma dentre tantas minhas missões, o cerne de muitas outras. Mas por qual caminho?! Ah! Diacho! Vamos que vamos!
105. A beleza é luxuriosa, torpe, vil: serve para excitar.
106. As coisas têm seu próprio partido político. Não sem motivo achamos ridículas ideias como "partido verde" ou "partido ecológico", porque, no fundo, vemos que as vozes ali são sempre humanas.
107. Metáfora é uma forma de analogia, não o contrário. Por outra: an-a-logia, quer dizer, essa tentativa de entender pelo ego, pelo Eu, pela identidade, é nada mais que a morte de toda potência, recusa da alógica.
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