92. As pessoas associam pessoalidade às coisas mais impessoais e também o contrário. Coisas como a geometria ou a ordem alfabética são tomadas erroneamente por impessoais, enquanto coisas realmente impessoais, como o ódio, a vingança, o sofrimento e o gosto, são tidas por íntimas e privadas e particulares e pessoais. É um erro crasso, desses de causar vergonha. A música, a pintura, a política, a moral, a cultura enfim, é impessoal e verdadeira. O resto não é falso, pelo menos não sempre, mas é pessoal e está sob os ditames do sabor e do prazer, sob o penoso jugo do gosto. As coisas impessoais são regidas por leis, certezas, verdades, ou seja, possuem certo e errado, estão sujeitas apenas a taxas mínimas de variação.
93. O problema do mal já foi resolvido por Leopardi: não é um problema, simplesmente não existe mal – isso é o mesmo que dizer tudo é mal, como escreveu o poeta. Não é nem ontologia, nem moral, nem ética, nem economia política, simplesmente é o Real. Exatamente o mal não cessa de não se escrever, é o mesmo funcionamento do Real.
94. O contrário de medo não é coragem, mas fé.
95. Olhos que choram enxergam melhor.
96. Se a advertência religiosa prega: "é preciso ter fé, porque tudo aquilo que nos vem só nos vem por já estarmos preparados para o que virá", então ela sobrevive tudo lógica de retroalimentação. Espécie de loop em feedback. Vem para mim porque estou pronto, mas eu só sei que estou pronto porque me veio, então eu estou pronto, pois me veio, and so on, and so on.
97. Estacionado no supermercado percebo muita gente jovem saindo dos carros e indo às compras. Será que os pais são tão formativos a tal ponto?
98. Certa feita, saindo de um mini-curso marxista bastante inteligente, expliquei para uma feminista (por que são sempre elas?) como os substantivos masculinos, em português, não são marcados, enquanto os femininos são, portanto invalidando toda a idiotice que ela pregava sobre uso de 'e' e 'x' ou mesmo arrobas. Como ela me respondeu? Apelando para a experiência superficial, ágil e imediata como não correspondente à minha explicação. Ou seja, ela não poderia tomar uma atitude mais anti-marxista. O marxismo é essa estupenda hermenêutica da modernidade. A última coisa possível para um marxista é que as coisas sejam como aparentes para a empiria, por isso mesmo sua posição materialista, que não é empirista, Lenin já alertara há muito. Estupidez do mundo (pós)moderno.
99. Ø
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