2. Talvez seja necessária uma experiência extrema, um verdadeiro beijar os limites da vida, para se pensar profundamente sobre qualquer coisa. É um pensamento menos alegre, mais penoso, esforçado, as vezes até melancólico (como já anunciou Aristóteles e retomou Benjamin), mas é certamente mais feliz, mais potente – é um ver com maior clareza as coisas íntimas e do mundo. Eu vi a extrema curva do caminho extremo duas vezes pela mão de outros e compreendi profunda e verdadeiramente a importância ética da e na vida. Sem ética não haveria vida, nem sociedade, nem cidade, nem homens, nada. A mão do homem, e as suas elucubrações, produzem uma ampli(fic)ação do que sente aqui dentro – a enxada é um aumento da mão em concha; a colher, da mão que come; as falsas necessidades do capitalismo, das paixões e vontades de se sentir mais vivo que vivo. A mediocridade passa por extremo e tudo se acoberta sob os lençóis do vulgar, contudo isto não me basta, vi a morte perto demais. É preciso ser outra coisa que não isto. Sempre e tanto.
3. O que é um ambigrama? Por que ele é um bom paradigma de leitura? Viva Vaia, de Augusto de Campos, vira e mexe retorna, como o (retorno do) recalcado (seria a vaia viva?). "Se vocês forem em política como vocês são em estética, o país está perdido", gritava Caetano Veloso num festival de competição de canções em 1968.
4. A verdade (aquela verdade cotidiana, vulgar, entendida pelo povão) só é possível na metafísica, no mito. A cientificidade se dá à dúvida constantemente, por isso a filosofia não pôde sair incólume da invenção da (filosofia da) ciência, daí sua corrente autorreferencialidade improdutiva. Ela teve de se curvar ao poder da dúvida – Hume venceu. É hora de virar o jogo.
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