55. A filosofia contemporânea, no seu apego à linguagem, acabou relegando aos romances, aos seriados, aos poemas, ao contos, aos vídeo-games o viver, o vivre sa vie, viver a (sua) vida, realizar a vida, realizar-se, gozar o puro ser, puro estar, o mero existir. As coisas vivem por nós.
56. Estado de Excesção (excesso + exceto). Acúmulo infinito de coisas (essas mesmas que vivem por nós); funcionamento da lei pela ilegalidade.
57. O que é um meta-ato? Como defini-lo? Só a partir dele podemos fundamentar uma ética renovada.
58. Quando a teoria deve se sobrepor aos fatos não temos scientia ou sapientia, apenas "ciência".
59. Eu vi dois adolescentes se encontrarem e "ficarem" (uia, verbo ruim!). Ela chegou primeiro, comeu algo, mexeu muito no smartphone, não escovou os dentes. Ele chegou depois: jaqueta de couro, calça jeans desgastada, tênis qualquer. Um de cada lado da mesa, começa a partida. No princípio ela ainda mexia no celular (nervosamente). Ele demonstrava extremo interesse nas palavras dela; ela se fazia desinteressada, sequer o mirava. Dado momento ela o convidou para sentar-se a seu lado, queria mostrar algo na tela. Viram, riram; ele a encarou nos fins do riso, ela manteve o olhar desviado enquanto a dentição sumia de minha vista. Voltei a Leminski, ele me esperava deitado sobre a mesa. Quando busquei o vazio para meditar algo dito pelo poeta, lá estavam aquelas bocas coladas, mãos sem rumo, roupas amassadas, peitos comprimidos, respirações ofegantes. Por que essas coisas horríveis (ainda) acontecem? Tudo isso foi ontem, na praça de alimentação dum shopping.
60. Human-idade; comun-idade; civil-idade; assim como as outras "-idades" (e.g. modern-idade) são também idades, essas também o são: épocas. Por isso é difícil pensar essas coisas hoje. Se ainda estivessem aqui, vigendo, seria mais fácil.
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