quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Contos e Crônicas de Itzalak - Avulsos #01

            As ruas em chamas, incendiadas pelo ódio, uma guerra civil ao meu redor, mas eu a ignoro completamente, caminhando em direção ao alvo. A garota do celular. Ela segura seu smartphone sorrindo, sua destra digita, com o dedão, muito rapidamente, mesmo que ela me encare fixamente, sorrindo, como se a vitória fosse dela. Com a canhota ela faz uma sequência de símbolos no ar, onde o ar se molda pela ponta de seu indicador. É a mais rápida que já vi e conjura um canhão de chamas, todas vêm em minha direção, um feitiço difícil e longo, de desenho complexo devido seu alto poder destrutivo. Sorrio com o canto da boca. Surpreendente, penso, mas não o suficiente. No intervalo que ela desfocou a visão de mim e prestou atenção no desenho feito no ar eu conjurei três feitiços. Ela pode ser rápida, mas eu estou acima desses limites!
            Ela corre para o lado e me acompanha assim que desvio das chamas. Impressionante velocidade para uma humana, insuficiente, porém. Salto com um simples toque da almofada do pé direito e estou correndo a uma distância suficiente para sentir a respiração dela em meu pescoço. É aqui que a diferença se mostra. Quando ela sorri e avança a destra, segurando o celular firmemente, tentando me perfurar, pois fez ao redor do aparelho uma lâmina de energia, o corpo falso explode. Uma armadilha feita mais rapidamente que um piscar de olhos, mais rapidamente que a visão dela pode determinar como um momento diferente. Eu disse: apenas humana, eu sou muito superior a tudo isso!
            Seu magro corpo é arremessado longe, voando fumegante. Ela cai sobre os escombros da lateral de um prédio destruído. Deve doer bastante acertar sua pele sensível, seus órgãos frágeis e seus duros ossos contra pontas e mais pontas de concreto. Apesar da visão embaçada, ela vê um vulto cair à sua frente, de pé e apenas pela estrutura física sabe que sou eu. Ela teme, sua respiração indica isso.
            Seu coração acelerou ainda mais, seu peito arfa, está desesperada. Não esperava por isso, não é, minha pequena? Um homem que superou todas as limitações do corpo, que transcendeu sua condição mundana. Eu poderia enfrentar seu fogo com minhas mãos, poderia esmagar seu crânio com elas! Eu prefiro, porém, deixar você pensar que sou só o maior gênio da magia que já houve. E essa guerra ao seu redor, onde ele - sim, ele, seu amado - morreu, foi causada por mim, porque pensaram que eu fosse um terrorista, quando eu era apenas um revolucionário. Miserável, não é? Quando você observa sua própria condição você percebe quão miserável é.

            A visão da jovem está cada vez mais turva e não há nitidez alguma. Seus órgãos não aguentam mais, sua respiração está pesada e suas narinas quase cheias de sangue. Com um corpo tão magro e frágil, comendo duas vezes por dia para manter essa aparência magra que julgavam ser esbelta, você pereceu. Sua existência foi miserável do começo ao fim. E pensar que nem admitira a ele que o amava! Apenas saíam de vez em quando e brigavam tanto... Eu os invejo por conseguir perder tanto tempo com o inútil.
            O celular caiu no chão. Sua destra está aberta. É o fim dela. Os ratos de olhos vermelhos já vêm arrancar sua pele, correndo e mordendo, mordendo e correndo.