sábado, 11 de dezembro de 2021

Sobre "El texto como palimpsesto. Reflexiones en torno a la lectura literaria" de Germán Osvaldo Prósperi

2021-12-07 (7 horas no total, somando leitura, transcrição de citações e escrita de comentários)

Referência completa

Prósperi, Germán Osvaldo. “El texto como palimpsesto. Reflexiones en torno a la lectura literaria.” Revista Chilena de Literatura, nov. 2016, n. 93, p. 215–234.

Citações com comentários

La hipótesis que quisiéramos proponer es que en toda lectura literaria intervienen al menos dos textos. Por un lado, el texto efectivamente escrito, es decir la escritura impresa sobre el papel (o sobre otro soporte: pantalla, plástico, etc.) que vemos con nuestros ojos; por otro lado, un segundo texto imperceptible, invisible, superpuesto, de alguna manera, al primero. (PRÓSPERI, 2016, p. 215)

Então há uma proposta clara: dois textos simultaneamente presentes em cada leitura. A citação a seguir os define.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Vida e escrita; desapego

Muitos precisam ser apartados da vida para escrever. Eu preciso me afastar da escrita para viver ao menos um dia. Escrita, contudo, não é apenas caneta contra papel ou dedos martelando teclas, é também leitura e é também fala.

Muchos necesitan desprenderse de la vida para escribir. Necesito despegarme de la escritura para vivir al menos un día. La escritura, sin embargo, no es sólo la pluma contra el papel o los dedos golpeando las teclas, también es la lectura y también es el habla.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Às vezes de nada e vazio

Alguém diz que o nada é o coração do vazio. Isso é verdade e está certo e é muito bonito. É tão verdade que se perde no nadificamento do próprio vazio (ou do próprio nada) e já não compreende que o ser só é porque pode não ser, isto é, que a linguagem é negatividade.

A ingenuidade (vazia) dos positivadores é crerem cegamente que o ser é e o não ser não é. Em uma palavra: P. P aparece nas dramatizações doutro P que é considerado o verdadeiro primeiro P, o P grandão. O segundo P, o P grandão, sabia que o não ser é e o ser não é, quer dizer, ocasionalmente, não sempre, às vezes, porque o P grandão, o segundo P, admirava o P primeiro, o anterior, por isso chamou essa doideira de jogo dos Ss e os ofendeu, falou mal deles mesmo, pestanejou, quis que assim não fosse, porque se assim fosse, assim não seria, assim não era, portanto, daí que se deduz que não poderia ser assim, portanto assim não fora jamais, nem jamais seria.

Muita gente que conhece essa história, desconhece-a; quem não a conhece tende a entendê-la melhor (porque é mesmo uma história sobre desconhecimento).

Sem o nada, o ser não é, quer dizer, o ser é nada, mas também não o é, porque se o fosse, nada seria. A brincadeira, muito sagaz, dos Ss, é compreender que nada pode ser plenamente, porque ser plenamente significa ser todo o ser, o que é impossível seguindo à risca – e há um risco nessa risca, quer dizer, há que arriscar-se, mas com cautela, porque correr risco, correr o risco, é corrido e arriscado – porque o ser está sendo e nunca se acabou de ser. Talvez seja um pouco como tomar banho, tem que tomar todo dia. Não sabemos (ainda).

O ser só pode ser-se quando é porque não é, nesse seu não ser íntimo, ele se desseriza, dessendo-se até o chão do nada, nadando-se, para ressear. “Mas quem é?”, perguntou o do fundão. Bom, aí é difícil, amigo. Se fosse da altura que era, não cresceria, porque era, quer dizer, era plenamente, daquela altura, jamais menor ou maior, mas se mudou o tamanho, então não era, rigorosamente, daquela altura, mas era só o ter alguma altura e essa altura mesmo deixou de ser a si mesma, quer dizer, mudou seu tamanho, sua medida, nadou-se, mudou-se para outra, que não era aquela, aquela não era.

O segundo P, o P grandão, não era muito satisfeito com essa história dos Ss, sim? Aceitou-a pela porta de trás, como é típico dos Fs, fingindo rejeitá-la. Melhor dito: acreditou rejeitar o jogo dos Ss, mas sua rejeição mesma estava dentro, nas, jogadas possíveis do jogo dos Ss, dentro de suas regras, nada de mais, nem de menos, nada de novo.

No fundo, eu quero dizer que o alho e a cebola, na panela no fogo, estão cheirando muito bem.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

noise = message

The message is the medium, said Marshall McLuhan.

This statement should be understood from the notion that the message is a disturbance of the medium, that is, the message is and is not different from the medium.

This means that we cannot understand both separately, but must always refer one to the other. In other words, noise, in the message, is nothing other than yet another message piled upon the message.

The disruption, the misunderstanding, is an accumulation of noise, noise on noise, because the message itself is a disturbance of the medium, that is to say, noise.

The noisy message is therefore not the one with too little message, but the one with too much message. This means that we need to excavate the noise layers to extract the noise of interest and ignore the overlay noise. Excavating means redoubled attention and care, but also a certain form of violence, because we are going to extract something from something.

To say it is cognitive overload is to say it is a surplus of knowledge that cannot be known, because knowledge is the medium of knowing.

The noisy message is not the one that does not teach us, but the one that teaches us too much, the one we need the time of excavation to be able to learn from.

To say we need time is to say we need more medium. For life exists within time.

To say that the message is a disturbance of the medium, to affirm its identity in difference, its difference in identity, is to understand the grain of destruction that lies at the heart of every creation, is to realize that every instant of life contains a drop of death, otherwise life could never be otherwise than it is, (something) other than itself, that is, something other than always the same life. In other words, every time brings with|in it|self a counter-time [a contretemps, as the French say], every instant, an eternity.

To wrap things up: saying the medium is the message is the same as saying the message is the medium. But the medium for what? What comes (forth) through it? What happens because of it? What exists due to it? What reaches out from (within) it? What is life the medium for? What is language a medium for? In other words: a medium that is a message, which is to say, a message that is a medium, can only be a pure medium. Note it is not a medium pure (from dirt, from noise), but a pure medium, that is, the medium itself is pure mediality, pure mediation, no ends in sight, serving no higher (or merely external) purposes other than mediating mediation (itself).

Lotsa stuff to chew on.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Is it a musing by now?

Thinking is nothing, in a strict sense, thinking doesn't exist. Now that doesn't mean thinking doesn't do anything. At the same time, thinking is not doing, so thinking doesn't really do anything in a strict sense. Thinking is determined, so thinking doesn't really determine anything, but thinking does, at its best, open for other determinations, not necessarily new ones, but at the very least other determinations. Now, being nothing, thinking is really any and every thing, even thinking about thinking, thinking thinking itself (thinking). So, yeah, thinking is something, which is nothing, which is something. These constant reversals into something other, something else that is not itself, are usual of thinking. Thinking, thus, is thinking otherwise than thinking, is thinking thinking as other (than) thinking. Gosh! This one was hard.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Hermetologia?

Conhecimento é sempre esclarecimento interpretativo (do mundo), jamais teoria pura desprovida de interesses. Os interesses podem ser conscientes ou inconscientes, pouco importa. Cientistas estão tão imersos historicamente e moldados culturalmente quanto quaisquer outras pessoas (por vezes até mais que essas outras pessoas, haja vista os mecanismos de coping de que se valem, suas posições político-econômicas, entre outros aspectos de suas miseráveis existências). A noção positivista da ciência (pouca atenção é dada à singularização do termo, mas sempre referem-se às ciências no singular – esse apagamento do outro é crucial para seu projeto de dominação e violência, em suma, de injustiça) como acúmulo de fatos objetivos é falsa. Mesmo a observação científica, no momento em que se faz, traz consigo uma concepção de mundo subjacente ao observar (e quiçá outra subjacente à comunidade científica etc.), ou seja, há sempre algo como uma teoria (de baixa intensidade) funcionando de pano de fundo, pressuposta (implícita ou explicitamente, consciente ou inconscientemente, pouco importa), mesmo se estiver apaziguada a ponto de se normalizá-la como correspondente a "realidade", nada disso a impede de estar funcionando lá como fundo do pensamento.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Responsa fragments to an ongoing discussion

Knowledge is not a gain, but a bargain, an exchange.

No, we may not add nor remove sounds at will, not even for convenience's sake. They make a difference. Language is a pure mean, it has only form, no content.  Any and every difference make a difference.

If we hear the sounds, but not the words, we’ll not understand each other because understanding, first, is not an intentional action, a will, a volition. On the contrary, understanding happens to us, against our very will. We understand language because our existence is linguistic, not because we chose to do so: it is the other way around: language chose us.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Hermetologia?

Nós não nos relacionamos com a linguagem, é a linguagem que nos relaciona. Assim como palavras unem-se, afastam-se, aproximam-se, separam-se, assim também é conosco. As inexplicáveis combinações acertadas ou desagradáveis, possíveis ou impossíveis, tudo isso é modelado à maneira da linguagem. Talvez seja este o ponto: tudo é modelado na linguagem e/ou pela linguagem. Sempre resta esse vínculo de fundo. Isso é, de alguma maneira, a medida da existência linguística.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Menina-estrelas

Menina-estrelas
, constelação encarnada
, deixa beijar-te a boca
fazendo estalo que ressoa
pelo universo do teu quarto
, apertando teus quadris
.

Sorris
: desejo
, é fato
.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

eu ser só

eu
tanto
quanto
ser
longamente
dever

eu
nunca
eu

mar
de ilusão
calor
?

alguém
apenas
?

tanto que só
eu

quem
?

plenamente
apenas

eu
.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Hermetologia?

Premissas: a crítica não é uma função do gosto; a obra fornece as condições de sua crítica; a língua é o parâmetro.

Comecemos pela última premissa: a língua é sempre parâmetro, pois se trata da mediação universal, primordial. Não haveria mídia sem língua. Língua é mediação. Assim, a crítica constitui uma parte essencial da teoria do conhecimento (seja gnosiologia ou epistemologia), por isso a teoria do conhecimento é apenas uma forma muito específica da teoria de mídia. Os estudos de linguagem não devem constituir, portanto, o privilégio desta ou daquela mídia, senão a teoria da mediação, os dois modelos, precisamente, são a crítica literária e a tradução.

Essa premissa também implica que o parâmetro não é a crítica de artes plásticas, como se vem consolidando há muito, mas a crítica de poesia, a crítica às artes literárias. A seu turno, isso implica que o parâmetro mesmo não é nenhum exemplo de artes plásticas, seja pintura, desenho, escultura, etc., mas o poema e, mais modernamente, o romance (e o conto).

Isso ainda acrescenta uma volta ao parafuso, tendo em vista que a crítica e a obra habitam o mesmo meio, a mesma mídia, e se valem das mesmas ferramentas, ou seja, tudo está feito em linguagem, são textos de um lado e textos de outro. Percebe-se o acréscimo de complexidade ao se reintroduzir o conhecimento, o qual se torna, agora, meio, mediação.

A primeira premissa nos diz que o gosto tem sua função na crítica, visto que orienta o crítico a esta ou àquela obra, mas não se pode estender além desses limites estreitos das afinidades, porque reduziria a crítica à empatia fácil.

A crítica, ao contrário, constitui-se na capacidade de manter distâncias ao desenvolver familiaridade com a obra. Trata-se, portanto, de uma ambivalência, um jogo dúplice. Se exige, por um lado, o comentário, portanto a análise da obra, sua dissecação em elementos constituintes (e a frieza requisitada para essa tarefa), por outro, demanda a reintegração dessas partes, não numa totalidade fetichizada, reificada, senão na singularidade da obra enquanto unidade unitária (e a paixão requisitada para essa tarefa). A obra, como a ideia, é um todo não total, experiência integral sem integridade, impassível à integração.

A premissa medial afirma que a obra traz todo o material necessário para sua crítica. Isso se deve à obra ser como a ideia, totalidade não totalizável. As contrapartes da obra são a vida, a coisa e o mundo. Gostaria de deixar esta parte aberta à interpretação, mas anotarei minimamente alguma orientação de leitura.

Mundo é o chão a partir do qual pode brotar e haver obra (e vida e coisa). Vida é a contraparte do crítico à obra. Coisa é a contraparte da matéria à obra.

Assim, a obra se coloca como uma vida, outra vida que não do crítico (nem do autor), vida outra, mas também outro da vida, outra coisa que não vida. Coloca-se como a única coisa que não é uma coisa propriamente, mas que se faz feita de coisas, faz uso das coisas, a fim de não ser em si uma coisa, não se reduzindo a uma coisa em si. Coloca-se como outro mundo que abre tanto o mundo como outro, quanto o outro do mundo.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Hermetologia #13

O mínimo que devemos atentar, na história do pensamento na Grécia antiga, é para a relação entre masculino, feminino, filosofia e sofística.

Se o masculino é o já dado e a feminino não é, não há, mas está por fazer-se, então a sofística sabia que fazia mulher. Pois a filosofia e a política ocorriam dentre homens iguais – gregos, livres, adultos, de mesma faixa etária – que não se podiam foder, que não podiam transar entre si. Assim sendo, precisavam gozar de alguma maneira e gozavam penetrando o outro pela linguagem, pelas orelhas, pela fala. Acariciavam-se entre si com a boca, com o ar que sai da boca, com a sugestão do hálito ao outro. Nisso, precisavam sobrepujar o outro para poderem penetrá-lo, dominar o outro para poderem gozar com seus corpos rendidos. Dessa maneira, a filosofia constituía uma luta, uma agressão e uma violência de ordem sexual.

A sofística, por outro lado, provocava no corpo do outro sugestões, estremecimentos, os quais, então, produziam ainda mais alguma coisa e ainda levavam o outro, o estremecido, o sugestionado, a agir, ou seja, aumentavam-lhe o potencial, a vitalidade, era, portanto, uma atitude ética. A sofística, também, fazia mulher e fazia-se mulher, quer dizer, tornava-se agradável de contemplar e provocadora, tentadora. Por não falar de algo, nem sobre algo, mas simplesmente falar, a sofística produzia algo e esse produzir também (re)aparece na sua parceira, a poesia.

Hermetology #13

At the very least, in the history of thought in ancient Greece, we must pay attention to the relationship between male, female, philosophy and sophistry.

If the masculine is the given and the feminine is not, it is not, but it is still to be done, then sophistry knew that it made woman. For philosophy and politics occurred among equal men – Greeks, free, adults, of the same age group – who could not fuck themselves, who could not fuck each other. Therefore, they had to enjoy themselves in some way and they enjoyed penetrating the other by language, by ears, by speech. They caressed each other with their mouths, with the air that came out of their mouths, with the suggestion of breath to the other. In this, they needed to surpass the other in order to penetrate them, to dominate the other in order to be able to cum with their surrendered bodies. In this way, philosophy constituted a struggle, an aggression and a sexual violence.

Sophistry, on the other hand, provoked in the other's body suggestions, trembling, which then produced something more, and still led the other, the shaken, the suggested, to act, that is to say, it increased their potential, their vitality, and was therefore an ethical attitude. Sophistry, too, made woman and became woman, that is to say, it became pleasant to contemplate and provocative, tempting. By not talking of something, nor about something, but simply talking, sophistry produced something, and this also (re)appears in her partner, poetry.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Hermetologia #12

Palavras não são termos, assim como a gramática não está subordinada à lógica. Nada disso ainda é a essência da linguagem. Assim como a linguagem esconde sua essência, descobrimos, assim, que sua essência é esconder.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Hermetologia #11

A certa altura da história francesa, o pensamento sobre a linguagem separou-se da reflexão de matriz grega e aristotélica, aproximando-se, talvez de uma matriz estoica, mas isso ainda não é dizer tudo. Ruptura violenta para nosso benefício: já não há a tríade sagrada do lógos, o ser e a lógica. Porque, a princípio, a língua era a língua: lógos nomeava o pensamento e a língua (grega). Exatamente por isso a concordância estrutural entre as categorias do grego (antigo) e da ontologia; daí a lógica nomeava esse isomorfismo. Contudo, em algum momento da herança das mudanças iniciadas na gramática de Port Royal, a lógica já não precede a gramática (nem a ontologia, portanto). Ao contrário, uma gramática significa que a língua possui ser(em-si), que é algo ela mesma. Isso traz obscuridade à cena: a língua é opaca, não dá acesso a nada, ao contrário, nós nem sabemos o que ela é. Para justificar o ser da língua, esse estatuto de entidade conferido à língua, foi preciso retirar o significado referencial de cena. O antigo dispositivo que sustentava a tríade ruiu; das ruínas emerge o sentido figurado, conotado: o jogo de palavras fundamenta o sentido e apenas por extensão, abstração, generalização, a referência, a denotação, passa a constituir significado. Assim, se há um hard problem of consciousness, há este outro problema, o harder problem of meaning: o que diabos quer dizer?