domingo, 27 de agosto de 2023

Minha resposta a uma discussão com alunos do Direito sobre o lugar do estilo no pensamento sobre a literatura

Arte é contato com o inumano que habita em todos nós: seja o animalesco e abjeto infra-humano — como em Lautréamont, Clive Barker, Artaud, Pierre Guyotat —, seja o angelical e santificado sobre-humano — como no salmista bíblico, em Rōdhakī, Hāfez ou Petrarca. Estilo, portanto, não é uma tal ou qual forma da expressão individual, externalização da alma, exposição de uma suposta interioridade, mas a construção de uma forma justa (justa e correta, como no Direito, justa e adequada, como na Moda). Essa forma é justa porque é homóloga ao mundo, segue a mesma lógica do mundo (homo-logos): tão obscura, densa e impenetrável quanto a matéria do dia. O estilo, portanto, é a maneira que se encontrou para fazer com que as coisas — as ideias, os seres, os momentos — durem no tempo, o que faz com que a linguagem também endureça para permitir essa duração. Mostra-se, assim, como a chance de um leitor colocar seu próprio tempo transversalmente no tempo cronometrado do trabalho e da rotina.