segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Sobre o ciúme

Num vídeo de Christian Dunker sobre o ciúme, o psicanalista brasileiro insiste na estrutura projetiva do ciúme a partir de Freud. Para exemplificar, ele cita a peça Otelo, de William Shakespeare, como exemplo de um ciúme impensado por Freud, além de mencionar o romance Dom casmurro, de Machado de Assis, como um exemplo de "ciúme delirante".

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Hermetologia #14

Se a poiesis é chamada, na sua manifestação, no seu phanero, de tekhne, isso se deve à sua aproximação de superfície como produto de um pro-duzir, levar adiante, trazer à mostra, estimular o aparecimento. Mas o que é poeticamente — artisticamente — não o é do mesmo modo que seria se tecnicamente fosse. Este último toma aquilo que é apenas como meio, instrumento, ferramenta, matéria(-prima), insumo, recurso, expediente. Aquele, deixa ser em seu próprio ser e convida à convivência com isso.

A previsão calculativo-representacional não dá conta do que precisa ser conhecido, pois repete-se numa tautologia sem fim, uma vez que não avança do conhecido ao desconhecido, mas, pelo contrário, repete o conhecido em paráfrases inócuas.

Entretanto, poesia não nomeia somente o produto da poiesis (o poema, aquilo que, da poesia, se comunica), também (faz) fala(r) um jeito, um modo, um habitar. É o nome daquilo que nomeia todo nome: a linguagem — sem uma não há outra e vice-versa. Poético, portanto, não se reduz apenas a trazer à consciência a materialidade (gráfica, fônica, etc.) semiótica da linguagem, mas também chama a atenção para a maneira da linguagem fazer (aparecer) o ser, chamá-lo a ser como aparecimento na (e da) linguagem, pois sem esse aparecimento provocado pela (e na) linguagem, nem esse ser estaria (ali) sendo, nem nós (o) comunicaríamos (com ele e entre nós).

domingo, 16 de janeiro de 2022

Quinto prólogo de Aurora, de F. Nietzsche

Referência completa

Nietzsche, Friedrich. Prólogo. 5. In: Nietzsche, Friedrich. Aurora. Tradução, notas e posfácio: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. (E-book. Não paginado.)

— E finalmente: por que deveríamos dizer tão alto e com tal fervor aquilo que somos, que queremos ou não queremos? Vamos observá-lo de modo mais frio, mais distante, com mais prudência, de uma maior altura; vamos dizê-lo, como pode ser dito entre nós, tão discretamente que o mundo não o ouça, que o mundo não nos ouça! Sobretudo, digamo-lo lentamente… Este prólogo chega tarde, mas não tarde demais; que importam, no fundo, cinco ou seis anos? Um tal livro, um tal problema não tem pressa; além do que, ambos somos amigos do lento, tanto eu como meu livro. Não fui filólogo em vão, talvez o seja ainda, isto é, um professor da lenta leitura: — afinal, também escrevemos lentamente. Agora não faz parte apenas de meus hábitos, é também de meu gosto — um gosto maldoso, talvez? — nada mais escrever que não leve ao desespero todo tipo de gente que "tem pressa". Pois filologia é a arte venerável que exige de seus cultores uma coisa acima de tudo: pôr-se de lado, dar-se tempo, ficar silencioso, ficar lento — como uma ourivesaria e saber da palavra, que tem trabalho sutil e cuidadoso a realizar, e nada consegue se não for lento. Justamente por isso ela é hoje mais necessária do que nunca, justamente por isso ela nos atrai e encanta mais, em meio a uma época de "trabalho", isto é, de pressa, de indecorosa e suada sofreguidão, que tudo quer logo "terminar", também todo livro antigo ou novo: — ela própria não termina facilmente com algo, ela ensina a ler bem, ou seja, lenta e profundamente, olhando para trás e para diante, com segundas intenções, com as portas abertas, com dedos e olhos delicados… Meus pacientes amigos, este livro deseja apenas leitores e filólogos perfeitos: aprendam a ler-me bem! —