sábado, 25 de outubro de 2014

Momentos Dele e Dela - Segundo Momento

            Não há o que temer, não entendo tua desconfiança. Sou todo teu, somente teu.
            – Só quero entender o que ocorre. Fale, meu amor, minha pérola divina, tesouro inestimável. Conte-me que te aflige o coração, eu o curarei! – Disse em temor.
            Realmente não entendo. Não há o que entender, eu acho. É realmente só um medo descabido. Estive o tempo todo em casa, não compreendo como ela pode desconfiar! Sou assim tão indigno? Sei e admito, não sou o melhor que há, mas me esforço e tento ser! Dói-me tanto te saber assim, ferida, as chagas ainda abertas, as dores pungentes, vivas, coloridas e chamativas como flores desabrochadas em plena primavera... Eu te quero curar, sabia? Meus esforços são grandes, também não estou afeito a relacionamentos, há muito não amo como tu vivencias... Tu me és o mundo; és tudo.
            – Longe de ti o mundo tem sido um imenso saco de chatice! Confia, eu te peço... – Preferia ter gritado, mas falei manso, não a quero assustar.
            Mulher, não sabes quanto te quero bem! E quanto te quero! De todas as descobertas que fiz tu és a mais importante, a mais valiosa, a mais feliz! E quem mais me felicita neste mundo!
            – Os outros? E eu lá quero algo com os outros? – Não entendo mesmo, que diabo estás pensando?
            Não é agora que vamos falhar. Nem pense nisso. NEM PENSE! Sei que há momentos de tédio, há vezes que parece como arrancar um dente! Saiba, é preciso. Não é meu primeiro, nem meu segundo relacionamento, portanto sei como pode ser cansativo, mas eu te imploro, espera! Resiste! Persiste! Insiste! Continua comigo, por favor. Tu não sabes como eu te necessito!
            – Ué, mas... Eu não entendo, sabe? Sempre tomei fora, sempre levei chute. Daí você vem e tem medo porque você me aceitou e me achou bonito (não sei como). – Disse em voz branda, não posso me exaltar e contar todos os fracassos com a dor que os sinto, são parte do passado e, por ti, eu o esqueço.
            Eu realmente não posso compreender se essas contradições surgem. Um dia, sou negado e humilhado (fizeram e ainda fazem piada) por ser assim. Noutro dia, temes tu porque sou do teu agrado, porque te pareço bonito e atraente. Não faz sentido. Sou teu prisioneiro, confia em mim! Eu te imploro! Não há mal que te possa fazer sem tua autorização. Eu vivo contigo! Durmo junto! Acordo junto! Observo teu perfil constantemente! Vejo e curto tuas fotos! Eu vivo por ti! E ainda assim temes? Não posso me sequestrar a ti, perdoa-me. Não sei mais que fazer. Cansa-me? Cansa, confesso. Não me sou de cansar, porém, persisto. Quero-te muito e luto! Continuarei lutando para que estejamos juntos!
            – Realmente estou me entregando a ti destemidamente! – Confessei. Que ela creia é o que mais espero, pois é verdade!


            – Sou todo teu, somente teu! – Finalizei. Não há mais que pensar, senão que sou teu, somente teu.

Poesia de vida morta

Amiguíssima minha Nadine Batista. Perdoa-me a carta nunca enviada e a infinda demora a enviar as únicas duas páginas que fiz. Não é bonito o poema, nem sonoro, não o consegui conformar à demanda que me fizeste, penso, contudo, que, valendo-me do título como tema, saiu algo que sirva (espero que te sirva à proposta a mim proposta). Aí vão os versos feitos nestes 39 minutos de labuta. Não os limei, é certo, nem acho que deveria, soam grosseiros como pede a situação.

Poesia de vida morta

Morta, não viva, nasceste.
Eras tão bela e formosa!
A todo o mundo prometeste
Graça que não pudeste dar.
Fizemos da casa um lar.
Eras arte, mamãe te esperou muito ansiosa.
Vetado, impedido de te amar,
Fiz meus versos em compulsão odiosa
Por ti, poesia morta, que nunca vieste.

Aqui vão

Aqui vão três dos sete poemas que produzi ontem. Não divulgo os outros ainda porque os quero revisar, mesmo que nenhuma alteração haja. Separam-se os títulos em negrito.

Afinal, quem és tu, mistério?


Não és meu carma, tampouco maldição.

Não és meu manto, nem minha proteção.
Não és meu canto, quiçá minha menção.
Afinal, quem és tu, mistério?
Como te posso imaginar, então?
Quando falas, sentir posso, suspirais.
Quando danças, como um espectro voais.
Quando pensas, tua sombra rememorais.
Tu és senhora de nenhum império.

-----------------------------------------------------------------


Quero ser quem na chama forte arde.

Quem no céu estará?
Quem, por mim, a si mesmo guardará?
Já não peço... É tarde...

-----------------------------------------------------------------


Como o sol, em altivo altar brilhar,

Ser totalmente luz.
Suster mundos em paz, ser quem produz
Sons, bons tons dedilhar.

Vigiar, aos aflitos caminhos trilhar,

Lhes poupar a pobre alma, fazer descansar.
Merecem, estão todos maculados,
Tem-se que acalentar.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Infindável arte

Mais uma vez estou eu versando, ou pensando que posso versar. Disseram-me, certa feita, que eu fazia prosa em verso; se assim o é, então venho cá prosear mais uma vez. Estes humildes versos foram feitos sob o signo de uma alternância rítmica, ainda que sejam todos decassílabos revezam o andamento simulando o vaivém marítimo. O tema veio de improviso, saiu assinalado pela variação sonora muito mais que pelo sentido. Afinal, é preciso exercitar a técnica compositiva antes de me arremessar à prática profissional, ao gosto elevado. Se não estiver muito explicado fica já dito que era essa a sincera intenção. Para benefício da sonoridade arrisquei-me a rimar. Espero que se agradem destes meus poucos e humildes - não menos laboriosos e honrados, portanto - versos.

Querer-me saber no ondear vazio,
Vaguear sem jeito. A ti desvanece
O claro luar, a mim faz fastio.
Moribunda, minha mente esmorece
E em transporte leva ao mundo enfermiço,
Planeta de verde tintura, sombra
Irreal, maldita sombra, maciço
Disforme e sem nome que a mim assombra!

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Jamais hei de parar

Se falar e escrever são formas de dar sentido ao ato de viver, então cá estou eu sempre arranjando novo significado para me estimular e fazer seguir. Segue abaixo outro poema sem título, feito hoje, em bem menos tempo que o anterior, de maior simplicidade e temática menos narrativa, mais espectral.

Neste calmo vagar,
Onde o fluido corpóreo,
Do corpo todo céreo,
Faz-te toda luar,

Eu bem quero lançar
Meu corpo junto ao teu.
Neste mundo irreal não sou bem eu,
Sou, aqui, muito deste teu sonhar.

E não paro com a poesia

Este poema será pequeno, prometo. Não para sempre, é certo, mas agora ele é ainda pequeno e simples. Quero dar-lhe, sob o primoroso esforço, tema e forma, talvez mais forma que tema, pois já o tenho um assunto, uma narrativa memorialista, com os tons que a poesia sempre dá às memórias puídas e enevoadas. Aí segue, simples como o concebi em poucos minutos, qual o último, falta-lhe título, servindo, para isso, o primeiro verso.

Numa cátedra estavas tu sentada,

Dentro de nossa igreja. Para cada
Palavra que o bom padre nos dizia,
Lá fora um estrondoso trovão exclamava.
Era das nossas mansas tardes frias
Em que o tempo, parece-nos, ruía.
Apática, no chão tu te perdias
A ver sonhos, delírios, admirada.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Mais um poema

Feita hoje, assim que cheguei em casa, das 19 horas e 31 minutos às 21 horas e 15 minutos, após longo banho, saiu-me uma poesia. Feita mais de esforço e suor que inspiração (e bote suor, esquenta a estação, aproxima-se de nós o verão) ela é filha da labuta diária dos que intentam escrever, ao menos, semi-profissionalmente. Espero que esteja de agrado aos paladares leitores.

Derribam-se os castelos, os costumes,

Restam-nos os poetas.
Se tu fores capaz de atribuir
A outros todo o dom
De reconstituir nossa nação,
Então serás herege.

É de nossos melhores versadores
Que despontam os grandes postulados.
São-nos o soberano e fatal
sumo, a essência mesma da verdade.
Os tolos pensam: "só falam de flores,
Fracassados amores, magoados,
Só choram o que nunca desfrutaram".
Têm lá sua razão de assim pensar,
Há péssimos poetas espalhados
Por toda a nossa terra.

Não é neles, porém, que inspirar
Nossas almas devemos.
Nos mestres do passado buscaremos
As origens de quem somos e fomos.
Pois cantando nasceram as nações.

sábado, 11 de outubro de 2014

Alva Noite

Por um momento faço uma pequena digressão e saio da série Momentos Dele e Dela para expor um trabalho poético que venho desenvolvendo há algum tempo. Chama-se: Alva Noite. Uma coletânea de poemas simples feitos ao sabor dos momentos em que são improvisados, falta-lhes qualquer tema que os una num bloco bem arranjado. Quem sabe o tempo (e o consequente amadurecimento do fazer artístico) trará solução? Não há como saber de antemão, até lá, trago aqui os primeiros quatro poemas para atiçar-lhes o paladar, caros leitores.

Alva Noite

I
Quero urrar teu nome na
Noite espiritual que abrasa
Os corpos em já afogueado
Mergulho turvo, confuso,
Incerto, incandescente, infeliz...
De mim! De nós! Mas jamais
De ti. Jamais de ti, porque tu
És sagrada, imaculada amante
De ninguém, posto que não me amas,
Portanto não amas a ninguém!

...

Ama?
Ama!
Ama-me porque te quero,
Porque te serei bom, serei tua sombra, sombra da
                                Tua mão...
Serei teu amante em tudo, por isso
Ama-me!
Ama!
Sê minha dama, rainha sem trono,
Dona de mim, ainda que eu não saiba ser bom servidor,
                                                                        Quieto e resignado...

...

Se eu deixar de ser, tornar-me não-ser,
Inexistir, tu, pérfida imperatriz, proverás,
Então, meu coração-império?!

II
Os cortes em minha pele não sabem
De todos os pensamentos em minha cabeça.
Quando se abstinha a droga rainha - 
Antes mesmo que as lâminas desabem
Sobre minha úmida pele fria - 
Dentro de mim um movimento havia
Que, como um malévolo elfo, sondava
Os pensamentos e, frívolo, ria
Da miséria que minh'alma virava.

III
No mundo inteiro quem mais te ama sou eu!
Não assusta que, engolindo meu ego,
Finjo não doer, faço-me de cego
E, em amores derretidos, sou todo teu!

Nenhuma musa de poeta grego

Jamais será tão bela quanto o amor que é meu.
'Inda que sem enxergar, porque a dois no breu,
Teu amor sinto em meu corpo trasfego.

Amo-te a meu jeito, num templo irreal

Que crio ao lembrar-te deitado no leito,
Fazendo a memória explodir-se em cores.

Quando de meu corpo me sinto desfeito,

Sinto-me derreter por ti em amores

E o mundo se esvai num sonho auroreal.

IV
Tua alva voz me ordena crueldades
Mil. Eu as obedeço, mas percebo
O mal feito a mim. Temo confessar:
Amofinado estou, angustiado.

Nas palavras que outrora me louvou
Tua voz, percebi má sugestão.

Religião alguma preservou
Minha integridade de mãos tão
Opressoras, cruéis, tais quais as tuas.

Defendo-me. Silêncio. Ris de mim.

Mais nada a declarar, vou indo embora.
As palavras que dizes repulsam
Minha presença. Temo confessar:
Para ficar, razões me faltam, boa senhora.