sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Anecdota real(ista)

R.: Rapaz, me dá esse óculos aqui.
L.: Okay
R.: Meu pai do céu! O mundo ficou ES-CU-RO!
L.: Haha! Eu disse! É bom demais.
R.: Toma aí.
L.:
R.:
L.:
R.: Então... Tô pensando no que eu disse, aqui.
L.: No que, rapaz?
R.: Nessa coisa de o mundo escurecer e não a minha visão.
L.: Ué, o qu'é que tem?
R.: Eu não sei, me soa estranha.
L.: Eu consigo ver uma criança apontar pro anoitecer e dizer: o mundo tá escurecendo!, parece bem plausível.
R.: Doido!
L.: Pois!

Sobre o comunismo

O comunismo não é um programa de sobrevivência. Ele não é o que quer que seja imediatamente útil para te ajudar a continuar adiante. Não é um auxílio, uma mãozinha, não é caridade. É importante servir ao povo, mas o comunismo não é servir ao povo. Parar nesse ponto é o tipo de coisa que a social-democracia faz, é comunista no nome e burguês nos resultados. Comunismo não é um band-aid, não é cuidar ou tomar conta das pessoas. Comunismo é uma transformação revolucionária de toda a sociedade, o comunismo é a luta para não apenas tornar mais tolerável ou suportável ser explorado, mas é a luta para pôr fim a toda exploração. O quanto isso custa? Custa muito, demais, pra caralho, mais do que praticamente todo mundo está disposto a admitir.

O comunismo não é um movimento político no sentido tradicional, é um movimento político de um novo tipo, um movimento político para dar fim na política. O comunismo não é a acumulação de grandes quantidades de pessoas sob uma bandeira vermelha, ou mesmo o ato de armar essas pessoas, ou mesmo tomar o poder estatal com essas pessoas. O comunismo demanda que tenhamos uma compreensão extremamente elaborada e um afinado entendimento das condições materiais, ele exige que tenhamos ações intencionalmente supridas de um profundo engajamento com a teoria e a ciência, porque a abolição das classes, a abolição do Estado, não é algo que vá preguiçosamente deslizar sobre nossos colos como uma lagartixa caindo da parede, como se fossemos classes dirigentes mandando. Trata-se de uma luta, de um esforço a cada passo desse caminho por trilhar, e é um esforço que depende do quanto nós sabemos do que estamos falando, sabermos o que estamos fazendo, e de sermos capazes de planejar antecipadamente – até lá na frente, no futuro – considerando consequências de longo prazo, trata-se de lutarmos por uma causa NÃO apenas de ou pelo "nosso interesse", mas por um mundo que desejamos deixar após nossas mortes.

Comunismo é mudar toda a maneira como você pensa o mundo, a forma como você age no mundo, o modo como se comunica com outras pessoas por um mundo que vale a pena lutar. O comunismo é estranho, mesmo que queira ser normal. O comunismo não é ser um trabalhador ou pensar como um. É lutar por um futuro sem trabalho assalariado e saber como pensar sobre esse futuro. É radicalmente oposto a toda tradição, todos os velhos hábitos, todas as maneiras de pensar limitadas pelo horizonte capitalista. Comunismo não é manter os trabalhadores vivos. Isso é o que capitalistas fazem ao pagarem salários. Comunismo é o movimento de trabalhadores para mudar todo o significado do trabalho.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

El ser es una pura exigencia tendida entre el lenguaje y el mundo.

El ser es una pura exigencia tendida entre el lenguaje y el mundo. No es una simple posibilidad, sino un modo de la potencia en la medida en que, si la existencia es una exigencia de la posibilidad, entonces la posibilidad se vuelve una exigencia de existencia.

apariencia y aparición

La apariencia es el conjunto de datos sensoriales que permite imaginar un objeto. La aparición, sin embargo, es la imagen en n+1 dimensiones de los puntos capitales del objeto. Es un molde que permite la construcción del objeto. Es el reverso mismo de la imagen de ese objeto.

Fragmento sobre ilusão óptica

Um fenômeno psicobiofísico como a ilusão de óptica nos mostra que mesmo um olhar tido por normal ou até treinado é enganado e aquele que se supõe desenganado engana-se a si mesmo e a mais ninguém.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

A língua deve dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade

– É... Eu não consegui achar. Ela escondeu.
– Não, amor. Ela arrumou, você que sempre deixa tudo bagunçado.
– Se eu conseguia achar e agora não consigo, "amor", é porque ela escondeu.

Fragmento sobre pintura impressionista

A imagem pode conter: planta, atividades ao ar livre e água

Há algo na pintura impressionista que deve ser retomado. Ela não foi clamada pelos modernistas como sua, mas como passado com o qual pretendiam romper. Sabemos, contudo, que ela não era parte do passado, como nos atesta o famoso Salon d'Automne com seus Renoir, Cézanne, Matisse, Gauguin e Derain (para não falar, mais adiante, de Metzinger, Gleizes e Duchamp). Se assim é, trata-se de um tempo deslocado, de um tempo fora do tempo, tempo sem história, um passado que não é história (sabemos desde Warburg, ou Benjamin, ou Michelet, ou Braudel, que passado e história não se sobrepõem como iguais, senão são fortemente distintos). Mas o que é isso que faltou, que escapou à sensibilidade modernista? O impressionismo opera certa confusão da visão, certa im-posição (não-posição, mas também exigência, demanda) da visão. É o regime do evanescenteim-pressão: ausência de pressão, leveza, portanto falha, deslize, escorregão, quer dizer, erro, mas também errar, ou seja, vagar, é o olhar que passeia –, mas é também a imagem do tempo: entre kronos e aion, entre o já não mais e o ainda não, alvorada ou crepúsculo: sonambulismo do pensamento.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Sobre o suposto já-dado

     Há duas suposições operando no que podemos chamar de epistemologia tradicional ou clássica, ou ainda hierarquizada:
     1) Deve haver alguns estados cognitivos básicos, dito no sentido de possuírem estatuto epistêmico positivo independentemente de suas relações com quaisquer outros estados cognitivos. Chamemos a isso de Requisito da Independência Epistêmica (RIE).
     2) Todo estado cognitivo não-básico possui estatuto epistêmico positivo somente através das relações epistêmicas travadas, direta ou indiretamente, com estados cognitivos básicos. Portanto os estados básicos devem prover todo o apoio para nosso conhecimento. Chamemos a isso de Requisito da Eficácia Epistêmica (REE).
     Para satisfazer REE uma cognição básica deve ser capaz de participar em relações inferenciais com outras cognições, ela deve possuir forma proposicional e ser passível de avaliação de verdade. Para satisfazer RIE essa cognição proposicionalmente estruturada deve possuir seu estatuto epistêmico independentemente de conexões inferenciais com outras cognições. Desse modo, nenhum estado cognitivo satisfaz ambas as requisições.
     A resposta padrão são conhecimentos empíricos básicos, mas eles falham no REE (ex.: conhecimento de dados sensoriais), ou pressupõem outros conhecimentos da parte do sujeito cognoscente falhando no RIE (ex.: conhecimento das aparências). Esses estados contam como estados cognitivos apenas pelas relações epistêmicas que mantêm com outros estados cognitivos.

domingo, 22 de outubro de 2017

Uma reflexão social após pequeno debate sobre a estampa duma camiseta

"Mas as pessoas preferem as roupas genéricas e as dores de tumblr. Mais ou menos isso.", respondeu-me minha amiga, após uma breve discussão sobre o sentido do escrito numa camiseta (a quem interessar: I don't believe in humans, a infame estampa).
Esse breve diálogo, refletindo sobre o sentido de believe enquanto verbo epistemontológico, ou melhor, enquanto epistemetafísico, fez-me retornar a uma minha hipótese ultrarrecente pós-leitura dum blog gringo sobre metafísica: é preciso explicar o mínimo suficiente. Quanto é o mínimo suficiente não me interessa definir, pode ser mesmo o máximo-além-do-possível, não me importa, mas é preciso ter (sempre) por horizonte de trabalho o mínimo suficiente. Por quê? Ele dá conta exatamente do mínimo para que trabalho subsequente seja feito e, simultaneamente, ele é suficiente para que algum trabalho subsequente seja feito, mas não qualquer trabalho subsequente. Ele fornece substrato (ground[ing]) para o conceito, a categoria, ou o que quer que se esteja trabalhando, estabelecendo assim a  (mínima) ecologia glocal (global+local) do trabalhado, permitindo-o florescer, frutificar, reproduzir ou mesmo extinguir(-se). É um respeito com meio (ambiente, habitat) do trabalho e do trabalhado, bem como uma herança em ação. Mais sobre isso nalgum (momento) futuro.

sábado, 14 de outubro de 2017

(meta)crítica da razão marxista(de internet)

Anteontem, ontem e hoje, alguns amigos disputaram algumas questões na internet. Um deles me enviou muitos textos marxistas, especialmente de Vladimir Lênin, Joseph Stálin e Mao Tsé-Tung. Os textos não são de todo ruins, são úteis e podem servir de abertura à educação do povo, das massas, dos proletários, por sua simplicidade, brevidade e concisão. Mas não servem de base teórica para um estudo aprofundado e digno de nota. O que quero dizer com isso?

Quero dizer o que sucedeu: postando um trecho de Slavoj Žižek, desceram a criticá-lo ferrenhamente, sem nenhuma apreciação pela verdade ali contida – resumiram-se a rechaçá-lo como "intelectual pequeno-burguês" e "reacionário" sem dedicarem uma só linha ao seu pensamento exposto. Vejamos qual ou quais problemas essa atitude comporta.

Pontualmente eles estão jogando fora (excluindo) um pensador por causa de sua classe social (mais adequadamente socioeconômica), a qual estaria explicitada em seus textos e falas (públicas), de modo patente e óbvio o suficiente para uma rápida checagem numa rede social bastar a classificá-lo, julgá-lo e executar a cisão. Mas que cisão é essa?

A cisão em questão é uma divisão conhecida em toda a filosofia e mesmo fora dela, (nós) leigos fazem(os) o tempo todo, trata-se do bom x mal, certo x errado, verdadeiro x falso, válido x inválido, e toda sorte de similares. O ponto nevrálgico, aqui, é: essa cisão operada por eles é simultaneamente intra- e extra-filosófica, ela acolhe e abandona ao mesmo tempo, tange e aparta. Contudo – veremos como –, a segunda parte dos pares apresentados é mais intensa que a primeira nesses operadores de cisões.

O aspecto extra-filosófico, de abandono, o aparte é mais intenso que o acolhimento, que o intra-filosófico, que o tangível, porque, apesar de partirem dos argumentos žižekianos, não os elaboram e tampouco o refutam dentro do pensamento ou da argumentação, apenas recorrem à classificação socioeconômica e dela derivam a "refutação", que é um puro negacionismo intransigente circular (sem aberturas): "é ruim porque não é proletário; não é proletário porque é ruim", com aparências de não ser circular ou auto-centrado (egoico, egoísta, narcisista?) porque parte dos argumentos – só nas aparências, uma vez que não os toma em conta, não os elabora, não os toca, não os manipula buscando derrubá-los dentro das próprias regras do jogo (ou da brincadeira) do pensamento, apenas nega inquebrantavelmente.

Aqui entra outro ponto, que é crucial à argumentação deles: a metafilosofia que os sustenta. Que quer dizer? Quer dizer que a luta de classes precede a filosofia e qualquer outra forma de argumentação ou pensamento, portanto validando a recusa cega ao pensador esloveno. Essa é uma cisão operada a nível de metafilosofia [N.1], pois exclui de antemão o pensador e todo seu pensamento, sem considerá-lo dentro do pensamento, recusando-o por razões extra-filosóficas, mesmo que parta de algo argumentado por ele, é apenas para validar a exclusão externa e corroborá-la, como se fosse auto-evidente, ou, pelo menos, evidente para os "iluminados do proletariado".

Essa operação de cisão é problemática em duas frentes: a) por um lado, eles sempre poderão aplicar a classificação e operar a cisão metafilosófica de "não é proletário (o suficiente)", invalidando qualquer argumentador e qualquer argumentação, sem a devida apreciação (intra-)filosófica, portanto sem uma refutação propriamente dita, (auto-)validando o negacionismo absoluto; b) por outro lado, demonstra sua atitude de extremo desinteresse na/pela disputa argumentativa, expondo quanto só almejam a hegemonia [N.2] e o controle, em uma palavra: o poder – todos os poderes: burocratismo máximo, controle total [N.3].

Assim, tornam-se dogmáticos – jamais dialéticos (como insistem que são) – não se engajando (em combate mesmo) com a argumentação visando a aufhebung. Dogmatizam Marx (e Lênin e Stálin e Mao e, por vezes, outros; pior, consideram-no o corretor máximo de Hegel, desvalorizando o filósofo alemão sem qualquer consideração, quando ele claramente fez mais pelo mundo do que eles jamais fizeram) e assim o incompreendem profundamente, são incapazes de repetir seu gesto [N.4], pois o esvaziam de sua forma e o abarrotam de seu conteúdo: não sabem subsumir tudo à história como o barbudo fez, inclusive o próprio barbudo, inclusive a si mesmos. Dogmatizar o conhecimento socialista é ignorar as grandes lições de Stálin e Mao, ambos propagadores da necessidade da dialética histórico-materialista em relação a tudo, ao conhecimento não-proletário, proletário, ao próprio partido, tudo, inclusive a si mesmo.

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Poderão dizer que sou (pequeno-)burguês e tudo que escrevi não vale de nada.

[Notas:]

[1] Por mais que toda metafilosofia seja ainda filosofia, uma vez que a filosofia funciona como a linguagem e o pensamento e pode operar sobre si mesma (auto-recursividade) repetidas vezes. O mesmo ocorre com uma metalinguagem, que é sempre já uma linguagem e nunca deixa de sê-lo. Apesar disso o estatuto metafilosófico não deixa de operar nem perde sua válida.

Neste caso, especificamente, tem-se uma redução do filósofo à sua posição dentro de uma classificação sociológica e político-econômica, portanto extra-filosófica e não engajada no debate propriamente dito (daí também não engajada na dialética, ou dialeticamente); há um realismo materialista ou materialismo, como eles chamam, uma espécie de spinozismo reducionista socioeconômico, onde, apesar da existência da matéria, tudo que importa é a economia política e a sociologia, com a psicologia achatada a mero reflexo dessas dimensões "tão obviamente materiais".

[2] Além da óbvia corrida pela hegemonia, expõe como operam a partir de uma e com uma soteriologia secularizada – vendo-se a si mesmos como Messias seculares (mas não imanentes) capazes de transcenderem a "ideologia" e de se posicionarem acima e além dos "erros" dos outros –, onde o proletariado seria o Messias Salvador e o resto das classes socioeconômicas seriam apenas pecadores que precisam de salvação. Não sem motivos dão tanta importância aos pobres, pois há um forte núcleo cristão secularizado, profanizado, o qual jamais será admitido, por causa de proclamações tomadas dogmaticamente, como "religião é o ópio do povo", onde o cristianismo será posto como "ideologia burguesa" ou coisa que o valha. Aqui aparecem o roubo nada velado do pensamento cristão, sua apropriação secularizada, e a teologização que a dogmatização gera.

A teologização opera junto com a cisão negacionista criando um (meta-)conhecimento ilimitado ou sem fronteiras (limitlessboundless), pois pode ser aplicado sem barreiras a todos os conhecimentos e mesmo a quaisquer outras coisas. Essa ilimitação, essa ausência de fronteiras, é o problema da teologia: pode explicar tudo, pois se posiciona acima e além de tudo como determinante de todo o resto. Sem uma delimitação de aplicabilidade torna-se um conceito curinga capaz de ser atirado para todos os lados sem crítica possível, sem limitação aceitável, pois ele determinaria a própria crítica direcionada a si (e.g. este post está determinado por minha posição socioeconômica, sou pequeno-burguês, academicista, <adjetivo>). A ilimitação de aplicabilidade demonstra uma ausência de substrato ou, para chamarmos mais apropriadamente, ausência de grounding, ausência de um chão onde a ecologia do conceito se dá, o conceito não tem um habitat 'natural' no qual se desenvolve e ao qual está mais ou menos limitado ou pelo qual será eventualmente freado e donde poderá ser criticado e realocado, daí se tratar duma teologização dogmática ilimitada (ou sem fronteiras). Todo conhecimento sem substrato (ground) pode ser teologizado e dogmatizado sem fronteiras, porque não pertence a nenhum ecossistema (conceitossistema? psicossistema? conceitosfera?), não tendo um funcionamento minimamente padronizado esperado e um campo ou uma esfera de atuação/aplicação minimamente esperada (e minimamente [de]limitada). Essa ilimitação dá abertura para uma auto-justificativa sem fim, uma vez que é simultaneamente intra- e extra-filosófica, portanto propondo algo (com aparências de) intra-filosófico e (controlando[-o] a partir do) extra-filosófico.

Apesar de minhas afinidades com o pensamento à esquerda do espectro político, a dogmatização é anti-dialética, é a ignorância dos textos mais importantes de Stálin e Mao, apenas para citar dois núcleos do pensamento (ou seriam pensadores nucleares?). Isso não quer dizer que se deva dar ouvidos a qualquer idiota ou a qualquer coisa, mas a rede tramada para (in)validação é muito maior, mais ampla e mais complexa, mais dinâmica também, que o achatamento a "suficientemente proletário" (acertado por um ser "iluminado" que, apesar de tudo, vive sob as mesmas condições dos outros "não-iluminados" os quais ele julga "mui corretamente").

[3] O burocratismo total e máximo, o controle de tudo não passa da falha da crítica ao Estado. Eles, curiosamente, insistirão de forma veemente na natureza burguesa do Estado. Uma jogada argumentativa – falha para sair do controle total – é dizer que o Estado possui uma natureza de classe (socioeconômica), mas não necessariamente burguesa, ou que não precisa ser e permanecer assim eternamente, abrindo brecha para seu burocratismo maximal(ista). Demonstra a ausência de força, quando não de fundamento, de sua crítica ao/do Estado, simultaneamente velando suas intenções controladoras, portanto burocratizantes. Aqui, por exemplo, eles poderiam me chamar de anarquista (como se fosse uma ofensa) ou de trotskista, mas só demonstra sua ambição de classificação infinita e seu negacionismo cego absoluto, bem como sua dogmatização.

[4] Gesto, aqui, é um conceito (in)específico. Significa a repetição do puro ato sem conteúdo, do movimento sem tema, e.g. aplicar a subsunção à história ao próprio Marx e outros pensadores socialistas, aplicar os métodos genealógico e arqueológico de Foucault à obra dele mesmo, etc.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Um pensamento ecológico sobre ecologia – com um enxerto de R.C.

O inconsequencialismo, mencionado na entrada anterior do site, também aparece nos discursos políticos (contemporâneos, porém melhor localizados como pós-modernos). Cito aqui a postagem de um amigo:

Não se assustem quando virem incongruências absurdas na propaganda (especialmente política), faz parte das técnicas de controle mental induzir seus objetos a gradativamente aceitarem paradoxos, assim os tornando mais abertos a toda classe de absurdos. Aceita-se a incoerência interna do discurso (pois a realidade não aceita paradoxos) para melhor se aceitar a incoerência entre discurso e realidade.
Se você promove a liberdade sexual irrestrita e aberta enquanto condena a hipersexualização das mulheres, não é muito difícil aceitar que não tem problema uma criança tocar em um homem nu. Sem querer cair em reductio ad Hitlerum, lembremo-nos de Hermann Göring: "Se o Führer quer, 2 + 2 = 5!"

Divergências à parte [nota 1], é importante notar o ponto que já argumento há muito: liberdade entendida como libertinagem X reclamações da (hiper)sexualização. A autocontradição é patente, óbvia mesmo. Por que, então, um pensamento ecológico sobre ecologia? Pensemos: a situação em questão trata da ecologia erótico-afetiva do homo sapiens.
A monogamia e a (mínima) contenção propiciam um equilíbrio da/na distribuição das forças e do/no fluxo das energias erótico-afetivas. Daí serem uma evolução psicossocial: se a distribuição sexual populacional do primata em questão é aproximadamente 1:1 em qualquer recorte de tempo (e espaço minimamente) relevante, então a distribuição erótico-afetiva em 1:1 visa o equilíbrio dessas duas forças/energias.
São duas propostas eficientes e eficazes porque remanejam essas forças/energias para outros fins e usos (que não a (auto)satisfação), movimentando e enriquecendo o sistema (energeticamente) – há um excedente de força e energia remanejado para aprimoramento do sistema.
Do contrário – configuração contemporânea do quadro – formam-se pólos que desequilibram o sistema constantemente e desperdiçam forças e energias por sua má alocação e uso sem planejamento.
Como os pólos não são apenas espaciais, mas também temporais, os efeitos do tempo não podem ocorrer e o sistema permanece em desequilíbrio, esvaindo energias e forças úteis, produtivas e cumulativas em tarefas inúteis.
São sistemas impermeáveis a certas formas de reestabilização, então a busca deve ser e permanecer no campo ecológico crítico, que é o mesmo que ético.

[nota 1: notadamente sobre a realidade de paradoxos, e.g., a necessidade da contingência.]

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Possibilidade, promessa, (in)consequencialismo e autossubjetivismo


Dentro de uma conversa onde eu convergi as noções de promessa e possibilidade, ou, mais especificamente, futuros possíveis a partir de relacionamentos humanos e suas atitudes, perguntaram-me: "qual o sentido de fazermos uma promessa pro futuro se estamos em constante mudança?" – A isso, antes de elaborar uma resposta para essa pergunta em específico, no transcurso da conversa, comentei que promessas fazem mais sentido que "meras possibilidades", pois podem não ser cumpridas, mas permanecem mais humanas que simples possibilidades, mais honestamente humanas, menos pretensamente neutras, ao que a pessoa acrescentou: "Podem não ser cumpridas, mas isso não as torna incertas. Seres humanos são incertos. Sabe, as falhas humanas não alteram o sentido de "promessa"". Então a pessoa emendou mais uma sequência: "se estamos em um relacionamento e te prometo ficar pra sempre, ok, há uma promessa. Se não, não existe esse compromisso. Nem vejo sentido pra existir, sou bem mais algo verdadeiro que eterno. É um pensamento bem simples, na verdade. Detalhe: não existe compromisso com essa tal eternidade. Não torna o relacionamento menos valioso, diria até que é mais realista. Que não seja eterno, posto que é chama."

Aqui quero tomar dois rumos: 1) responder à pergunta específica de por quais razões convergir promessa e possibilidade (de futuro); 2) argumentar brevemente como o encerramento ("não existe compromisso com essa tal eternidade / [isso] não torna o relacionamento menos valioso [...]"). Sigamos em ordem inversa, portanto: essa argumentação falida é apenas uma tentativa da comunicante de livrar-se da responsabilidade ético-moral que lhe recai por fatos passados que vivemos num relacionamento nosso. Jurar algo e não cumpri-lo constitui, sim, defecção (simultaneamente abandono e falta, como a palavra indica). Portanto trata-se de mero inconsequencialismo, tentativa falida de "limpar a barra" de histórias passadas concreta e evidentemente mal vividas, em/com defecção. O erro ético-moral de si (e, portanto, o autossubjetivismo) tomado como paradigma avaliativo é só uma estratégia argumentativa (obviamente falida) de justificar a própria vida em erro. O erro fundante aqui, ou fundamental se assim se preferir, é a desresponsabilização (da/sobre a própria vida) – essa "fenomenologia barata" que leva (não "levará", mas já leva) a uma flutuação pretensa e falsamente infinita da personalidade (dos gostos, das atitudes, a "liberdade" [na verdade libertinagem], das escolhas) na verdade só esconde um desejo por customização infinita e irrestrita que oculta uma ausência quase completa e total de resiliência perante a adversidade, desejando e esperando que o mundo se conforme aos caprichos do eu pós-moderno confuso e liquefeito.

Respondendo à pergunta específica e firmando o primeiro ponto: o sentido de convergir ambas as noções é: toda atitude humana – toda em sentido forte – é uma atitude ético-moral, i.e., decide por um futuro dentre todos os [futuros] possíveis. E todo ser humano – ou pelo menos a vastíssima maioria que não sofre de lesões cerebrais, ou problemas de neuro-psico-desenvolvimento, etc. e tal – tem a capacidade de compreender isso, portanto de viver de acordo com isso [nota 1]. Assim sendo, toda atitude é sempre uma promessa. Desresponsabilizar as pessoas nesse sentido, nessa dimensão, gera uma série enorme de problemas com os quais já estamos lidando hoje [pelo menos alguns deles], desde surtos de suicídio, até problemas ecológicos [nota 2], passando por terrorismo, subempregos e desemprego, culto à celebridade, banalização da violência, consumismo, efemeridade das relações, entre outras coisas.

[nota 1: eu chamei 'saber' na primeira versão da resposta; aqui já chamo 'isso' para não me avançar demasiadamente, ainda que não sinta problema algum, em chamar logo 'verdade'.]

[nota 2: originalmente: "problemas ecológicos de larga escala", mas compreendi que todo problema ecológico é de larga escala. Em verdade, a ecologia tem provido boa parte do meu pensamento contemporâneo, ou da minha revisão do meu pensamento que culmina em sua versão contemporânea.]

Potência do tempo

A potência fundamental do tempo permanece o mistério.
Se é sempre espaço-tempo e se há planificação do(s) espaço(s), então restitui-se ao tempo o que lhe é de direito: o mistério.
Não enigma, charada, mas mistério.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Um poema contemporâneo ou um fragmento de prosa cindida em duas linhas

Quase beijo o celular
quando vejo tua selfie.

Compreender

Possuir prender dentro

Metamorfoses na noite

Eu vi seu olhar desviando do meu quando disse ter ido para casa. As luzes virando viraram o jogo; você confessa: (não) estava só. Nem todos os meus erros se comparam ao único que você cometeu. Nem a maior dor de cabeça se compara à que você me causou. Horror. Seu novo namorado usa calça de menina.

sábado, 23 de setembro de 2017

Diário - 2017/06/24

152. Há quem professe da boca pra fora uma fé por aí. E clama vir do coração! Então engana aqueles que de fato professam a fé desde o coração. Por que fazem isso? Como? Com quais finalidades? Não compreendo. Não tenho essas estratagemas funestas em mim – sou todo alma exposta a nu, quem quiser ver que veja. Melhor padecer sob o erro dos outros a ser eu a errar.

153. Há uma irresponsabilidade geral espalhada nesta geração. Não querem se tornar eternamente responsáveis pelo que cativam, como em bom tom diz um de seus livros mais aclamados (aclamam por compensação de si mesmos?). A tradição bem nos ensinou, mas quase ninguém quer aprender.

154. "Se eu odeio mulheres, rapaz? Não, não odeio. Odeio a ética frouxa e fraca com que lidaram comigo. Sim, as que me relacionei, certamente. Mas as outras... Isso, dá pra deduzir quase sem erro pelas ações, pelas falas, trejeitos, isso, isso mesmo. De que adianta falar de liberdade e não libertar ninguém!? Só tem prisão! Só pri-são. São todas dependentes. Todas essas pessoas dependentes, pode anotar. Eu sei, também fui, as vezes ainda sou. Um doente identifica outro pelo cheiro da doença. É isso mesmo, todo mundo preso numas teias podres, medonhas. Estam... Isso, bem disso que tô falando. Viu!? Tu pega rápido! Estamos todos presos uns aos outros, dependendo da misericórdia de feridos e falidos. Ninguém tem Deus no coração. Uns não têm nem na oração, quem dirá no coração! Tô dizendo, meu querido, se a religião acabar o mundo se acaba junto."

155. De tempos em tempos brota no meio destas terras tão áridas por dentro um desses avatares, santos, seres exemplares a nós. Os seguimos? Absolutamente. Persistimos imbecilmente em nossa miséria. Há quem diga que isso quer dizer que nosso desgraçamento de nós mesmos é o correto; enganam-se. Somos apenas preguiçosos de espírito seduzidos pelo mundo.

Diário - 2017/06/22

146. O grande problema dessa geração de hoje é achar que há posse. Especialmente posse do próprio corpo – se assim fosse, não se poderia perdê-lo. "Ah, mas também se pode perder as instituições", sim, não são nossas, nunca disse que eram. Mas a moral, esta é sempre nossa.

147. Quando dizem que a "cultura europeia" é um mal, um fator limitante, quando cortam a maior herança que temos, suicidam-se. Quando confundem o ter com o ser, especialmente ao falar do corpo ("não temos um corpo, somos um corpo"), estão errando profundamente.

148. A monogamia é uma evolução moral.

149. Outro erro medonho desta geração é a crença de que em algum momento a tradição quis esgotar as coisas – as teorias, as filosofias, as ideias, os projetos, etc.; isso é muito burro. Todo mundo sabe que, também, esse desejo do infinito deles é idiota.

150. Quando choram pelo fim das culturas autóctones, estão chorando por nada. E quando clamam que as tradições ressurgem, erram novamente. Elas morrem e devem morrer. E tudo isso deve acabar. Só o que é verdadeiramente eterno durará; não eterno, mas duradouro. Há evanescência e ela deve agir.

151. Eu não quero um poema assim como você me diz dever ser.

Diário - 2017/06/12

141. É notável se chame propaganda tanto o que rola na televisão quanto o que aconteceu nos regimes totalitários. Há motivos e não poucos.

142. O Cours, de Saussure, é um livro de negação, sobre o não. Ele nega as propriedades então atribuídas à língua (e por vezes ainda hoje, mostrando que ninguém realmente leu).

143. Vadias vadiarão, já dizia o poeta.

144. Eu quero o silêncio. E aqui eu direi aquelas minhas coisas polêmicas: não existe silêncio em absoluto – entenda como quiser, não faço a mínima questão de explicar.

145. Ser autocentrado é o maior altruísmo.

Diário - 2017/06/10

137. Eu não creio em quem diz: "Jesus falava simples, acessível, para todos entenderem". Num tempo de analfabetos brutalizados como aqueles povos, utilizar-se de figuras complexas como a parábola e a alegoria é uma forma de inacessibilizar o dito, são formulações que selecionam seus ouvintes, pois apenas aqueles que perscrutarem a linguagem extrairão dali algum sumo.

138. Eu quero chorar diante de um monge ou mesmo um padre ortodoxo. Cair sobre meus joelhos e implorar amor, porque sei que Cristo e Deus Pai nos amam a todos igualmente: infinitamente. Quero pedir perdão por minha vida medíocre e terrível e implorar ajuda para me desvencilhar do mal e me conduzir ao caminho do bem. Eu preciso exercitar essa autodestruição.

139. Ninguém acredita, ou não deveria acreditar, nos substantivos.

140. O único verdadeiro mundo é aquele que abraça a metafísica, aquele que se entrega ao espiritual e nele habita.

domingo, 10 de setembro de 2017

EMHOMANAGEMARA

O ser é um efeito de discurso entre outros, e a ontologia é uma vergonha [honte, donde hontologie], a não ser que tomemos a ontologia como hantologia, um saber dos espectros, ou, em outras palavras, daquilo que se diz e permanece esquecido atrás do que foi dito naquilo que se ouve, o que, em última análise, retrai-nos à questão da aisthesis, palavra digna de figurar, de fato, com destaque em um dicionário dos intraduzíveis.
    A aisthesis é um derivado de aisthanomai [αἰσθάνομαι], e, como tal, configura um conceito altamente equívoco. Depende de suas relações. O verbo aisthanomai provém de ἀΐω, e este do sânscrito avih [आविस्], como o latim audio, ou seja, significa ouvir, escutar e, menos frequentemente, obedecer. Usado com genitivo aponta a fatos sensoriais (exceto a visão) e se poderia traduzir como perceber. Com objeto em acusativo, significa compreender. E com genitivo de origem, quer dizer tomar conhecimento por meio de alguém, vir a saber, através de uma língua, por exemplo. A tradução mais comum do verbo aisthanomai, ou seja, sentir, tem, por outro lado, inicialmente, o significado de perceber pelo odor, ou inclusive exalá-lo, o qual mostra que, na aisthesis, há fusão de sujeito e objeto, algo que se comprova além disso no deslocamento de aisthesis a nous, quando traduzimos o conceito como sensus. O termo grego nous (inteligência, espírito, mente, sagacidade, sabedoria, alma, intenção, desejo) nos conduz ao paradigma da visão, já que o verbo latino intueri (ver) recupera a matriz visual de teoria, o species. Aisthesis, no entanto, mostra uma sensibilidade de downcast eyes, para retomar o conceito de Martin Jay, do qual concluímos que, substituir a mimesis pela aisthesis nos abre um campo muito complexo de relações.

Sobre o que eu (des)faço

         Quando eu ajo ou penso, quando escrevo ou canto ou componho, eu não estou buscando A Verdade (um abraço pro careca da SS!). Isso nem faria sentido num tempo onde A Verdade foi descredenciada – termo importante: ela perdeu crédito, mas também não tem mais credenciais, quer dizer, não exerce mais seu poder de outrora, como também faltam títulos ou ações que lhe abonem. Sendo assim, o que raios eu (des)faço? Com'onde me situo? Teoricamente é o que vem sendo chamado de performativo, um regime (a ambiguidade dietético-política é intencional) que escapa da esfera denotativa, buscando muito mais uma afecção que uma referencialidade. A produtividade (de verdade – olha!, outra inteligência das palavras!) é o destino ao qual se chega inadvertidamente por esse acaso. Então, antes de procurar verdade no que digo, procure o que digo em verdade (e prolifera a sabedoria das palavras!).

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Pequenas notas sobre tradução

SOBRE TRADUÇÃO

LO → LA [da língua-origem para a língua-alvo]

Equivalência dinâmica:

expressão da ideia geral
expressão do macroconteúdo
reordenação sintática para maior fluência na LA
substituição de categorias [gramaticais e lexicais]
ideia por ideia
uso de paráfrase
foco: leitura facilitada na LA

Equivalência formal:
expressão da minúcia nuançada
expressão do microconteúdo
preservação da sintaxe original
equivalência de categorias [gramaticais e lexicais]
palavra por palavra
uso de literalidade
foco: preservação dos aspectos da LO

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Diário - 2017/06/07

132. Glosar + gozar = glozar.

133. Por que diabos um lixo de homem como Jorge Amado é praticamente louvado por esses idiotas minoritários? Três esposas, das quais uma foi caso extraconjugal, um algoz anti-artístico com sua arte pobre e vazia, tanto quanto sua vida estulta. É pura estupidez para todo lado. A mulher jogada de um lado pro outro como um saco de carne, seja na história, seja nos romances. É um descaso com a língua, com a história, com a própria humanidade.

134. A transcriação é melhor que a recriação em todas as possibilidades e aspectos. Todo gesto repetido é novo, sempre e tanto. Ninguém é capaz de repetir o gesto de um autor em outra língua. Até porque todo gesto é individual, por coletivo que seja.

135. Eu gosto do i minúsculo, o maiúsculo é muito tosco.

136. ▲▼

Diário - 2017/06/06

130. É preciso reativar a antiga, clássica, muito sábia ligação entre Moral e Espiritual (preservando aqui as terminações para evidenciar ainda mais sua íntima relação).

131. Como podem reclamar de "segundas intenções"?! Elas mesmas se valem da própria beleza – já falei muito sobre como este é o mal do mundo, é termos vista e nunca visão, é termos olhos e nunca mãos – para conseguir diversas coisas, desde uma entrada em balada ou festa, até elogios e aprovação virtuais?! A hipocrisia só pode ser uma doença da beleza, jamais da feiura, na verdade é uma das consequências da beleza, porque a beleza é desonesta. Pensemos um pouco: hipo-crise, crise fraca, sem potência, quer dizer, se a crise é o veredito, o julgamento, a decisão, então é um momento de decisões fracas, de julgamentos sem valor(es, não é exatamente sintomático que vivam bradando aos quatro ventos – coitados dos ventos, têm de escutar essa bobagem toda – que não devemos julgar?). Neste momento a beleza, ou seja, as pessoas bonitas, ou seja, o que elas fazem com/por causa de sua beleza, é o suprassumo da destruição da humanidade e da(s) coisa(s). Só o ódio e a feiura podem salvar qualquer projeto de futuro.

Diário - 2017/06/05

126. Quando comecei a escrever não tinha pretensões, com o tempo surgiram e agigantaram. Desejei, talvez ainda deseje, escrever e inscrever uma mitologia tão forte, tão marcante, tão intensa, potente, soberana como a narrativa crística. A infindável soberania do texto neotestamentário, eu a quero para mim. Há momentos ali que sempre me põem lágrimas nos olhos. Como compreender isso? Parece que não consigo ser cristão, é como se entre meus olhos e o texto se interpusesse uma distância infinita.

127. Talvez minhas posições sejam elaboradas demais para serem compreendidas pela mente vulgar e simplório das maiorias. Sempre sair polêmico, apontado pelos dedos, poderia ser sinal ruim se eu fosse um idiota qualquer, não sendo o caso, é bom presságio, evidência da potência do que digo, da verdade, pelo incômodo sentido.

128. Eu odeio designers. É óbvio que um pouco do desprezo vem da minha péssima experiência com o pessoal do curso, mas não só. Eles desrespeitam a arte e mesmo o objeto, são lixo orgânico. Óbvio que a ética do estudante médio de design é horrível, mas também o absoluto desrespeito pela coisa, pelo objeto.

129. Quando vi o vídeo de um youtuber pedindo sua garota em namoro e percebi que havia ali um cameraman, eu me dei conta da grotesca aberração diante de meus olhos e ouvidos. Não vou entrar no mérito dos youtubers serem uns riquinhos de merda, foquemos na questão central. Um sujeito calado, pago, para ser o olho do mundo acompanhando uma situação tão peculiar, tão íntima... O que aconteceu com o amigo? Um bom amigo ajudaria no processo, presenciaria, então passaria a palavra adiante, relatando a experiência – essas coisas eram transmitidas quase como os mistérios eleusinos. Agora isso!

Diário - 2017/06/04

119. Pensamento "consciente e objetivo" é a forma mais fraca de conhecimento.

120. Eu só existe na língua. No máximo, sujeito (gramatical).

121. Retomando meu trabalho com o Feio e a Feiura, muito do nosso mundo é ruim porque os objetivos, os alvos, foram escolhidos por sua beleza, não por sua verdade.

122. O mero fato de haver interpretação já demonstra como não há comunicação, não há mensagem, menos ainda meio para a mensagem. Se há mesmo meio, então tudo o é e as pedras são o pó contando histórias em seu estado de mestre.

123. "Hoje querem julgar sem olhar a quem."—Confuso, grande filósofo chinês do século ?? a.C.

124. A linguagem faz todos os sonhos ou delírios da humanidade sempre, mas os insatisfeitos permanecem negando o que lhes cobre o rosto, talvez porque está perto demais já não identificam o que é. Uma máquina do tempo? Língua: capaz de dobrar o tempo e desnudar os muitos vetores desse campo de forças.

125. Enquanto refletia sobre um vídeo de pedido de namoro feito por um youtuber, tive a visão de algum deles, dessa terrível raça populando os audiovisuais, chamando-me máquina de guerra, em tom de ofensa ou acusação. Mal sabem quão exultante me deixariam! Configura-se laudatório discurso num tal predicativo. A guerra, por devolver ao mundo o senso de realidade, expulsa e destrói tudo que é supérfluo e inútil, quer dizer, diriam que eu os anulo e coloco o que é verdadeiramente essencial em questão.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Diário - 2017/06/01

116. Eu quis assistir a aula, minha bexiga não. Você entende uma frase dessa?

117. Essa conversa toda da inutilidade da arte é diletantismo, lixo de ignorância social. Não queremos inutilidade, isso já temos, o que é a rede social senão isso? Queremos o básico: pão. Poema não enche barriga e, ultimamente, com esses poetas aí, nem serve para encher a cabeça – muito menos esvaziar.

118. Ø

Diário - 2017/05/31

111. O mundo clássico possuía parâmetros. Essa a parte importante de retomar.

112. "Você não pode falar a partir das suas experiências, pô!", clamam os idiotas. Posso, sim, porque não é vivência, mas experiência. A distinção é crucial, mas esses idiotas não a executam.

113. Há pessoas, elas só existem enquanto penso nelas. Você sabe de quem estou falando.

114. Meu "problema", segundo os idiotas, é que sempre presto mais atenção nos ruídos ambientes que na fala das pessoas. É óbvio: evolução. Se as pessoas se tornaram pura superfície, esvaziadas e sem vida interior, então o som das coisas é muito mais honesto e sincero. Não me tomem por futurista italiano, um carro ou uma impressora quatro cores não (con)têm "mais verdade" que qualquer outra coisa, talvez até menos, porque são muito comuns a essas pessoas. Mas com certeza a chuva, a música instrumental mesoriental, escadas de ferro antigas e estátuas africanas. Há algo de profundamente interessante no silêncio de um livro e desinteressante no ruído das vozes mais melodiosas da rádio; não qualquer livro, é claro. Mas não é uma questão de (con)ter "mais verdade", não mesmo.

115. Ø

Diário - 2017/05/30

108. Há nas ficções algo que me fascina: seja um conceito teórico ou um personagem inominado, quero levá-los comigo e aplicá-los, transpor seu mundo sobre o mundo real e produzir toda sorte de efeito mágico. É como se me enfeitiçasse por essa força que irrompe da textura dos pensadores, dos narradores, das vozes, dos lugares, dos sons, das cores, em suma, das coisas. Há mesmo qualquer sorte de ligação subterrânea aos nossos sentidos entre linguagem e feitiço, qualquer espécie de laço imperceptível unindo ambas as instâncias como duas partes duma mesma entidade multifacetada, pluridimensional, ininterpretável.

109. Todo tempo histórico é singular, suas demandas são singulares. Mas isso não torna nosso tempo menos putrefato e destruído. Fala-se muito em liberdade e em direitos, mas pouco ou nada se pensa do que deverá sustentar tudo isso. É claro, no império do efêmero, da curtida, da pura superfície lisa e higienizada, recheado de discursos de liberdade de compra, de empreendedorismo, é óbvio que se cairia nisso.

110. Quando estou prestes a dizer "queres falar do que te houve?" o corretor do smartphone me sugere "falsear" em vez do verbo esperado. Uma surpresa, sim, mas das boas! Se tomarmos falsear como vontade fabulante, como ficcionalizar, então é um ótimo substituto, se é assim, falar é sempre falsear.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Diário - 2017/05/29

101. Eu escrevo por todos os corações partidos, não esses de historinhas melosas, mas os verdadeiros sofridos, os fodidos, os que não aguentam mais um mundo tão horrível – os feios. Escrevo por esses abandonados, esquecidos, ignorados, desvalidos ou invalidados pela estupidez do mundo. Escrevo por esses alimentados pela miséria que sustentam o(s) mundo(s) a cada instante e que nunca se vê. Ser feio é uma bênção, porém não como se propaga. Ser feio é divino.

102. A idiotice de empirismos contemporâneos faz ignorar a enorme brutalidade de atos como a traição. É preciso trazer a verdade à tona e compreender que um ato como esse está no rol das mais absurdas violências já cometidas. É preciso ver como um "não quero nada sério agora" (mas cheia de vários, um por noite, um por festa, ou seja, a seu bel-prazer, fazendo das relações meros pedidos num cardápio desse restaurante fajuto) é ainda uma forma de traição ou mesmo corrupção, uma hipocrisia descarada e uma violência horripilante.

103. Dois pesos desiguais numa balança imprecisa.

104. Eu sou ruim, muito ruim. Mas meu ser não é achatado, diferente, ele é multifacetado em mais dimensões que o universo. Se por um lado sou mesmo preguiçoso, colérico, insurrecto, detestável; por outro, sou genial, estupendo, reflexivo, profundo, talentoso, em suma: elogiado. A disputa é desequilibrada, certamente. Os mundos que habito – ou me habitam, é a mesma coisa – fazem emergir muitos projetos, todos laboriosos, contudo estupendos, maravilhosos. Como proceder? Essa a pergunta fundamental. Se o caminho a frente é sempre apropriado, se ele só nos afigura quando estamos aptos, por que a sensação de inaptidão? Por que as intempéries tantas e tão difíceis? Esses objetivos, eu quero atingi-los todos! Mas se trata de fazer e não querer, o que complica muito as coisas. Preciso chegar lá? Devo? Sim, é uma dentre tantas minhas missões, o cerne de muitas outras. Mas por qual caminho?! Ah! Diacho! Vamos que vamos!

105. A beleza é luxuriosa, torpe, vil: serve para excitar.

106. As coisas têm seu próprio partido político. Não sem motivo achamos ridículas ideias como "partido verde" ou "partido ecológico", porque, no fundo, vemos que as vozes ali são sempre humanas.

107. Metáfora é uma forma de analogia, não o contrário. Por outra: an-a-logia, quer dizer, essa tentativa de entender pelo ego, pelo Eu, pela identidade, é nada mais que a morte de toda potência, recusa da alógica.

Diário - 2017/05/28

100. ∅

Diário - 2017/05/27

92. As pessoas associam pessoalidade às coisas mais impessoais e também o contrário. Coisas como a geometria ou a ordem alfabética são tomadas erroneamente por impessoais, enquanto coisas realmente impessoais, como o ódio, a vingança, o sofrimento e o gosto, são tidas por íntimas e privadas e particulares e pessoais. É um erro crasso, desses de causar vergonha. A música, a pintura, a política, a moral, a cultura enfim, é impessoal e verdadeira. O resto não é falso, pelo menos não sempre, mas é pessoal e está sob os ditames do sabor e do prazer, sob o penoso jugo do gosto. As coisas impessoais são regidas por leis, certezas, verdades, ou seja, possuem certo e errado, estão sujeitas apenas a taxas mínimas de variação.

93. O problema do mal já foi resolvido por Leopardi: não é um problema, simplesmente não existe mal – isso é o mesmo que dizer tudo é mal, como escreveu o poeta. Não é nem ontologia, nem moral, nem ética, nem economia política, simplesmente é o Real. Exatamente o mal não cessa de não se escrever, é o mesmo funcionamento do Real.

94. O contrário de medo não é coragem, mas .

95. Olhos que choram enxergam melhor.

96. Se a advertência religiosa prega: "é preciso ter fé, porque tudo aquilo que nos vem só nos vem por já estarmos preparados para o que virá", então ela sobrevive tudo lógica de retroalimentação. Espécie de loop em feedback. Vem para mim porque estou pronto, mas eu só sei que estou pronto porque me veio, então eu estou pronto, pois me veio, and so on, and so on.

97. Estacionado no supermercado percebo muita gente jovem saindo dos carros e indo às compras. Será que os pais são tão formativos a tal ponto?

98. Certa feita, saindo de um mini-curso marxista bastante inteligente, expliquei para uma feminista (por que são sempre elas?) como os substantivos masculinos, em português, não são marcados, enquanto os femininos são, portanto invalidando toda a idiotice que ela pregava sobre uso de 'e' e 'x' ou mesmo arrobas. Como ela me respondeu? Apelando para a experiência superficial, ágil e imediata como não correspondente à minha explicação. Ou seja, ela não poderia tomar uma atitude mais anti-marxista. O marxismo é essa estupenda hermenêutica da modernidade. A última coisa possível para um marxista é que as coisas sejam como aparentes para a empiria, por isso mesmo sua posição materialista, que não é empirista, Lenin já alertara há muito. Estupidez do mundo (pós)moderno.

99. Ø

Diário - 2017/05/26

86. "Se você não vive para servir, não serve para viver." É mesmo um mundo terrível.

87. Duvidar, descrer, colocar em disputa, é a maior forma de crer e respeitar. Crer cegamente é um desrespeito enorme. Só aquele que duvida será amado por Deus. Ou pelos deuses.

88. "Quanto mais se escreve, mais as palavras vêm!", escreveu alguém. Com certeza esse alguém não considerava a escrita, quer diz: cum sidera, com os astros, com o espaço, não sentia nem vivia essa força cósmica que nos impele à arte das palavras e dos sons e das imagens e do pensamento, enfim, essa língua sempre estranha estrangeira a nós.

89. Quem disser que as coisas só dependem de nós pouco ou nada entendeu. Há instâncias absolutamente superiores que nos governam a seu bel-prazer. A situação absolutamente caótica da política brasileira hoje, o declínio do império Romano, olhe-se para onde for e se verá a ação dessas forças impessoais, anti-éticas, poderíamos dizer até cósmicas. Tomo esta nota para não cair na facilidade de certas palavras que já me convenceram e que eu mesmo já repeti diversas vezes, dum humanismo barato e infrutífero, uma espécie de culpa coletiva ou coletivizada, um horror só. Eu não sou aqueles políticos corruptos e mesmo que eu esteja em erro nossos erros são dessemelhantes. É por isso que esse história de trocar os políticos resolver tudo é uma balela medonha. Isso aí é o fracasso do modelo de República Democrática Representativa, aquilo que já denunciavam as vanguardas históricas: a falência, a invalidez do conceito de representação (e suas respectivas aplicações em todos os âmbitos). O mundo não funciona por figuras, mas por imagens.

90. Qualquer miséria, qualquer migalha de dor se chama hoje "uma tragédia!" com todas as letras e a exclamação junto. As vezes até uns gritos e discursos inflamados. Eu me pergunto até que ponto isso é bom. O humanismo barato que hoje domina a Internet é das piores doenças já espalhadas, é como o zumbi, o undead, o morto-vivo : ele te reconhece como inimigo que precisa ser mordido (essa expressão é boa, já explico), precisa ser infectado, quer dizer, precisa entrar na dança, no jogo, na lógica, para se tornar aceitável, suportável, tolerável são as palavras certas. Mordido é bom porque se usava para falar de pessoas muito afetadas por algo: "ficou mordido de ciúmes", etc., quer dizer, afetou-se muito, encheu-se de calores e humores, brandiu o gládio da justiça por céus e terras para vingar desvantagens. Por favor! Vocês são insinceros pra caralho! Hipocrisia dos infernos! Semana que vem já nem lembrarão da merda que aconteceu ontem! São condolências vazias, sentires sem sentido, sem sentidos. Humanismo de curtidas, esvaziamento até da experiência mais autêntica que nos restava, a dor, o sofrimento! Quando esse horror vai parar?!

91. ∅

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Diário - 2017/05/25

83. É preciso muito mais coragem para produzir o dissenso, para discordar, para dizer a verdade, do que para ser "vanguardista". A própria vanguarda não é aquilo que vai à frente, mas o wart, a guarda, o que toca o rebanho lá de trás.

84. Vanguardas, hoje, são impossíveis. Não porque a ideia de vanguarda seja ruim ou qualquer coisa, não, isso tá beleza. É simplesmente porque moralmente é inviável: mudança é a ordem do dia, mas, como bem já sabia Malevich, resistir é também problemático, não mudar, ficar paralisado; a nostalgia também não serve, como bem criticou Foster, esse retorno desmesurado ao passado, sem respeito pela história, ao contrário, sendo plenamente contemporâneo, agindo como um homem de seu tempo; Didi-Huberman tenta dinamizar/dinamitar a imagem, repotencializando e é genial no esforço, mas não é suficiente. Quando Sebastião Nunes critica a premiação de Modesto Carone pela tradução de O Processo, de Kafka, na revista Medusa, aí sim temos algo que presta – ainda no final, quando critica a própria qualidade literária de Kafka executa um gesto excelente, finalmente capaz de potencializar o discurso (e inclusive mandar à merda aquele livro inútil de "Deleuze-Guattari" sobre "literaturas menores" [hello, há um motivo para esta merda ser menor!] e Kafka). O próprio Kafka duvidava de sua qualidade (e com razão)!

85. Ø

Diário - 2017/0524

82. Quem nunca odiou nunca fez nem teve uma vinculação verdadeira. Há um culto ao corpo contemporâneo simplesmente medonho. Jovens são alcoólatras e sequer admitem porque bebem somente em dias específicos, mas a recorrência do ato é suficiente para classificá-los como. São francamente doenças espalhadas.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Diário - 2017/05/23

70. Qual o quid da linguagem? Qual sua coisa? Quando se diz "a coisa mesma (da linguagem)", o que se diz realmente? Qual a quididade da língua afinal? Há quem diga que ela é um repositório da(s) humanidade(s).

71. Filontogênese (filogênese + ontogênese).

72. Seria a língua uma partilha?

73. Por que Saussure evitou o uso de símbolo (Peirce; fenomenologia; simbolismo), em nome de usar signo? Parece-me que Saussure queria precisamente discutir uma ontologia, não uma fenomenologia, pouco lhe importava o como (humano) das coisas, mas sim o que, o quid e também o qualia.

74. Se pudermos definir a forma de vida wittgensteineana, diremos que é uma atividade regrada e regulada. Esse foco na atividade avisa algo, sinaliza algo (ética; moral; vida do espírito).

75. A linguagem não é (in)dependente.

76. Talvez o zeitgeist, o reconhecimento intencional (especialmente amplo, social, a vontade coletiva) tenha servido para a evolução humana. Pensando duma perspectiva sócio-cognitiva da evolução humana, percebe-se a utilidade que tal recurso nos ofereceria: colaboração e sobrevivência, decisão coletiva e influência, convencimento e persuasão dos piores espíritos a aderirem às melhores decisões. Seria hoje isso um recurso ainda possível, necessário, ou viável? Cf. Death Note, mesmo Dragon Ball, games como Pokémon! e outros RPGs – um sujeito individual acumula poder e o utiliza para realizações particulares, a partir de seus interesses privados; mesmo realizando vontades "coletivas", isto é, que muitas pessoas têm, as realizações são particulares, não são coletivas, o êxito e o mérito são seus, quer dizer, o louvor é seu.

77. O duplo, o dual, o bipartido, é sempre um segmento de reta, promessa de infinito, por isso ruim. O tripartido, o triplo, o ternário é potente. Daí os "marxistas" serem tão ruins (essa qualidade felizmente retorna nos chamados pós-marxistas) em suas análises, com seu sonho de "totalidade" e de "reflexo" (olha como a escolha lexical é péssima!) "do particular no universal e do universal no particular", poder-se-ia trocar por "manifestação" e, ademais dos problemas óbvios, seria a mesma coisa. Eles são péssimos, cansam mesmo, viu?! O paradigma, o singular são esses lugares faltantes à boa explicação a que aspiram esses trastes insuportáveis. Em sua maioria são dogmáticos, o que é terrível. Seja em nome de um autor ou de um pensamento, não sabem se sujar, profanar, macular, repetem os gestos dos idealistas que tanto detestam em última instância, quer dizer, tentam executar de novo a "limpeza do pensamento".

78. Sou muito mal interpretado hoje. Era de se esperar. Como cantou Robert Flynn: "one day you'll see I've always been right, right".

79. Não temer o mergulho na ficção, ao contrário, desejá-lo, realizá-lo. Posto realidade e ficção se configuram da mesma maneira, há apenas uma mudança de trato, é saudável amá-la.

80. O que se deve entender por história? Quero dizer, quando alguém disser "história do Brasil", por exemplo, o que "história" deve evocar? Todas as definições dadas não são suficientemente científicas, quero dizer, não moldar às ciências naturais, mas conceitos aplicáveis à primeira mão, compreensíveis de pronto, ao contrário, são poéticas demais, tão inúteis quanto a poesia. Lembremos: geisteswissenschaften, fazemos ciência, temos nosso l(ug)ar, nossa voz, nosso direito, temos até método!

81. Se você não aprecia a morte, esqueça qualquer chance de falar da vida com alguma qualidade. Talvez até mesmo de viver com qualidade.