sábado, 12 de setembro de 2015

Algumas Considerações

            Pretendo aqui explicitar algumas considerações que me parecem necessárias, seja por força interna ou externa. E começo pela seguinte epígrafe, a qual concebi secando a louça, há pouco: “se eu entendesse o que você está falando, você não precisaria ter perguntado se estou entendendo; nem nunca entendo, é como se falassem uma língua estranha ao meu redor, ainda que as palavras soem como as mesmas que eu digo, são novas, diferentes, nenhuma delas é nossa, mas minhas ou deles”.
            Um dos pontos mais fundamentais da contemporaneidade é ditar que somos formados socialmente. Ok, tudo bem, eu aceito, talvez eu seja fruto de uma série de instâncias culturais (e com isso quero dizer históricas e sociais, porque não há cultura instantânea, tampouco individual), mas a pergunta permanece: por que eu percebo “livro x” como melhor que “livro y”? Se meus gostos são formatados de fora e sou por eles atravessado, então que mecanismo eles utilizam para se disfarçar assim tão bem que não os distingo de mim mesmo? E por que eu me sinto, sim, sempre, individualidade, não uma amálgama indistinta dessas instâncias que me compõem? Por que me sinto eu e não elas?
            É importante pensar nisso porque se observa duas opções: 1) essas instâncias possuem métodos absurdamente competentes de nos engendrar e enganar a tal ponto que não nos confundimos com elas, ainda que sejamos uma amálgama delas; 2) há um furo nessa explicação e todos esses movimentos “ideologizantes” (que reducionismo horrível fazem de toda a Arte!) estão ignorando algo que, portanto, não explicam (exatamente por ignorarem). Quero tentar explorar essas duas possibilidades.
            Na primeira possibilidade há um mecanismo muito esguio que nos escapa à percepção corriqueira e à análise profunda em todas as instâncias culturais, uma engenharia arquitetada para sermos únicos apenas na medida em que somos o atravessamento de toda a série cultural que nos atravessa e não outra (se fosse outra, seríamos outra pessoa e não quem somos, o que é conflitante, outra vez, com a experiência individual e com a noção de unicidade de cada sujeito, isto é, que cada um é único). Deste modo é estranho pensar na importância que alguém tem para a história, nisso eu gosto muito da ideia, veja-se minha iconoclastia. Problemático se torna quando percebemos que qualquer um teria sido Hitler e qualquer um teria sido Beethoven. Então por que não são? Conflitante outra vez.
            Na segunda possibilidade acrescenta-se um elemento que é capaz de explicar a unicidade referida anteriormente, porque elemento que escapou à vertente anterior, chama-se a ele experiência (individual). Cada um é único na medida em que só a si mesmo refere a experiência, a vivência que tem do mundo, de tudo que já vivenciou (e também o que não vivenciou compõe sua experiência, nunca nos esqueçamos de que o não escrito é a segunda parte do texto, sempre, a ausência é sempre parte da presença). A experiência é única a cada um, por isso irmãos gêmeos univitelinos que sejam criados à mesma maneira dão em pessoas muito diferentes, porque experienciam o mundo de maneiras diferentes (isso também nos refere a efeitos mínimos no presente que, a longo prazo, se tornam desvios imensos, uma espécie de “teoria do caos” [com muita reserva optei pela expressão] aplicada à vida humana, quer caos maior?).
            Isso tudo, todavia, é ainda dançar conforme a música, é muito bem possível negar as hipóteses (ambas sob a sombra das leituras de mundo ideologizantes já referidas) e afirmar que a experiência de mundo individual é realmente a única válida (portanto “livro x é melhor que livro y” é verdade [mas não sempre verdade], não apenas para mim, mas é assim que é, porque é assim que experiencio a situação referida, é assim que se me configura o mundo).
            Também é possível afirmar que a verdade é fruto da coletividade, então ambos os livros só serão bons se forem consumidos maciçamente. Não assumo essa hipótese nunca porque, (in)felizmente, é muito fácil e forte observar a formação do gosto pessoal a partir das instâncias sociais (uma delas sendo o próprio consumo maciço de algo, a coletividade). O que não aceito, porém, é a determinação absoluta desse gosto pessoal como apenas fruto das instâncias que o formam (se assim o fosse ninguém jamais mudaria de gosto durante toda uma vida numa época sem grandes revoluções, mas alguém pode ir de religioso a irreligioso em uma vida, de liberal a socialista, de altamente interessado em X a desinteressado em X).
            Outro ponto que me é curioso são os atravessamentos entre Estética e Ética, brincando com as palavras é fácil ver que “estética = est ética = é ética”, ou seja, Estética (apreciação do belo, uma busca pelo que compõe a beleza em si, bem como o sublime, além dos efeitos sensorial-emocionais produzidos pela beleza, tanto quanto seu oposto, a feiura, ou o ridículo) é sempre Ética (a busca pelo melhor modo de viver, pelo certo e errado, a busca pelo bem viver e a plena realização do humano).
            Se se observam esses dois pontos como entrecruzados, formando-se e sendo formadores mutuamente, percebe-se logo que como se vive afeta o que se aprecia, bem como o que se vive afeta como se aprecia, e todas as combinações possíveis são fruto desse entrecruzamento. Como observar esse entrecorte, porém? É bastante simples, honestamente. A Estética cuida do que se aprecia e como se aprecia; a Ética cuida do que se vive e como se vive; fica fácil perceber que tudo que se vive pode ser objeto de apreciação (preferencialmente crítica e analítica) e a apreciação sempre provém de algo vivido, experienciado.
            Claro que se pode apreciar o que não se vivenciou, todavia precisa ser algo passível de vivência ou apreciação (as limitações espaciotemporais sempre operam sobre a constituição bio-psico-sócio-espiritual do ser humano). A Arte parece ser esse lugar de possibilidade de vivência e apreciação. Quando me emociono com uma música ou discuto algo impelido por um texto lido, ou vice-versa (é sempre possível apreciar de maneira diferente o vivenciado), então percebo que pela Arte sempre ser linguagem (e não apenas língua), as instâncias formadoras são também linguagem e tudo na vida – quiçá a própria vida? – é tão linguagem, por isso se consegue sentir e falar de tudo isso.
            Sendo todas essas instâncias linguagem, é muito simples concluir que devemos voltar à Semiologia/Semiótica, o estudo dos signos (objeto constitutivo de qualquer linguagem) e perceber: sempre se tratou disso, de estudar o modo como o humano significa e interpreta o que o rodeia, tanto quanto como interage com o que o rodeia (e o que é rodeado, isto é, a si mesmo, seu interno ou interior, que nos remete a anterior, e daí se pode seguir unindo outros termos à série significante, indefinidamente, e dilatando a noção, até perceber que se trata de toda a Vida).
            Que fique bastante claro: não é possível excluir a experiência do humano, é o que dá sentido à noção de unicidade vivenciada (mesmo em comunidades que atestam ter uma noção coletiva do sujeito, existe pronome de primeira pessoa singular [o qual existe em todas as línguas estudadas até hoje], assim, há unicidade, pelo menos, dentro da língua, portanto, da linguagem). Seria isso devido à descontinuidade dos signos? Conseguimos separar facilmente uma fala em frases, frases em palavras, palavras em sílabas (e, no plano escrito, sílabas em letras, sonoramente é mais difícil, mas você pode brincar muito [não falo de gestos porque esses são fáceis de romper em letras]).
            Porque nos constituímos sujeitos (só se pode dizer ‘eu’ dentro da língua) nas diversas linguagens, e essas são descontínuas por excelência, que não somos totais (contínuos)? A Arte dá a impressão de totalidade (por isso a completude sensorial-emotiva que provoca e sua consequente ausência abismal após a experiência, poder-se-ia agregar a essa a experiência mística do mundo) mesmo quando é fragmentária (pois é fragmentária em toda uma extensão, o que é uma espécie peculiar de continuidade, a continuidade por dissemelhança).
            A ausência de totalidade, a impossibilidade do retorno a Um é a fonte da feiura, do sofrimento, da ausência fundamental? Não quero propor o retorno a Um, porque Um é ainda algo, é ainda presença, é ainda Tudo, e Tudo é menos que Nada, por isso proponho o retorno a Zero. O Nada é mais que Tudo exatamente por ser menos; Tudo é ainda algo, enquanto Nada é ausência, mas não necessariamente não-algo, sendo, portanto, a verdadeira totalidade, a totalidade em potencial, tanto quanto, simultaneamente, “não sendo nada”, isto é, “sendo nada”, ou seja, não-sendo. Daí se deriva facilmente que a dor humana provém de Ser (mesmo quando se morre, quando se encontra o limite da vida, não se deixa de ser, em verdade é impossível deixar de ser uma vez que se é). Sendo o humano, portanto sempre sendo, é impossível deixar de ser, assim, sofrer é parte essencial da vida (ou da experiência de vida).
            A defesa está feita, que rolem os dados. Feita, não acabada, acabado só está o que morre (ainda assim se pode falar do morto e, desta forma, mantê-lo vivo), pois vida é sofrimento, mas também movimento (os significantes se assemelham, não é sem motivo). Espero, numa próxima série de apreciações, fazer uma defesa da necessidade de existência da Moral. Fica pra próxima, de qualquer forma, estou exausto e o cansaço alheio se deve respeitar.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Banho ou Esponjas Deveriam Gravar

            Estou no banho e meus braços se movem automáticos. Penso em tudo. Penso em tudo? Tudo que sei é tudo? Ou tudo que sei é só tudo que sei? Ou tudo é tudo que sei e apenas isso? Ou sei menos que tudo? Ou tenho a impressão de tudo, ainda que não saiba tudo, por não saber mais e parecer tudo bem amarrado?
            Às costas vão e esfregam vagarosamente, depois de terem atacado o pescoço de todos os lados. Lados. O que são lados? Perspectivas de um mesmo objeto, ou objetos inteiramente novos? Ou parcialmente novos? E qual o ponto de diferenciação entre inteiramente e parcialmente? E onde ficam os lados? Ficam em mim? Ficam no objeto? Ficam no mundo que intermedia e acomoda eu e o objeto?
            Descem por si mesmos e arranham um pouco, porque não controlo a força. E o que é controlar? Não controlo nem meus pensamentos, estas dúvidas que me abordam indistintamente, como se eu soubesse tudo. E sei tudo? Então por que não as consigo responder? Há um buraco no meio de tudo? Ou tudo é inteiro e contínuo e completo? E se for inteiro, isso é bom ou ruim?
            Agora descem pelo peito, barriga, um pouco mais de cuidado no umbigo, ele não tem bom cheiro; umbigo de ninguém tem bom cheiro. Bom ou ruim, atribuições humanas ou propriedades inerentes à existência? E se são propriedades, então não existem? Ou propriedades existem? Então adjetivos existem? Existe bonito, portanto, ou é apenas uma qualificação, uma classificação, uma propriedade que, per se, inexiste, dependendo sempre de sua posição associativa?
            Dirigem-se às pernas, longamente acompanhando sua forma estendida e peluda. O que é associação? O que é propriedade? O que é posição? Seria uma pós-ição? Içar algo depois? Mas depois de quê? Depois da própria coisa? Se assim for, então a posição já está içada, dada, fornecida, posicionada. Se não for assim, então quando se posiciona a posição?
            Agora os pés são limpos, numa posição estranha, suspendendo-os e me segurando na parede com a mão livre. Quando é uma palavra curiosa. Quando o quando acontece? Quando digo? Ou quando de fato ocorreu no mundo (aquele, que intermedia e acomoda eu e o fato ocorrido)? Quando é quando?
            Termino jogando a espuma embora, parado sob a água, sem deixar molhar os cabelos, ainda que o pescoço molhe todo. E quando é que o pescoço começa e acaba? Quando o tempo se divide em fatos? Ou os fatos são contínuos? O que são fatos? São o que se passa no mundo (aquele, você sabe bem qual)? Se te digo algo, então o que disse aconteceu? Porque eu te dizer aconteceu no mundo. Se não, então o que são fatos e o que não os são? Qual a distância, qual o momento do corte que separa?
            Giro com a canhota, enquanto a destra desce a toalha que esfrego pelo pescoço. Essa toalha existe? Esse banho aconteceu? Qual o critério de fato e de existência? Se for o simples acontecer no mundo, então eu dizer que não existem ou aconteceram seria – sempre – produzir um contrassenso, uma vez que posso dizer tudo. Ou não se pode dizer tudo? Então qual a fronteira, qual o limite de tudo? E como, se estou para dentro do território dessa fronteira, saber que aquela é a fronteira, se jamais passo dela? E se posso estar fora dela, então não há um tudo, porque há um fora do tudo que me permite estar ali para averiguar?
             – Ah, olha só! Já deu a hora, preciso escovar os dentes e ir dormir – disse a mim mesmo, ainda nu, agarrado à toalha, já seco.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Série: metapoemas

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quarta-feira, 8 de julho de 2015

de jazz livre

Escutar jazz frequentemente me tem sido uma experiência fascinante. Os músicos abraçavam uma composição de aproximadamente três minutos e transformavam, como ouço agora, numa monstruosidade improvisada de criatividade sem igual de 22 minutos. Fascina-me como há um processo de imersão nos longos trechos improvisados, a música flui, tinham eles um entrosamento que as bandas, hoje, só pelo fato de brigarem, já demonstram não ter. Uma capacidade de lidar um com o outro, de antecipar, prever, acompanhar... Ainda mais fascinante me parece porque já estou chegando nos extremos, isto é, escuto muito jazz livre, (músicos que estavam se desvencilhando de estruturas e tocando livremente, improvisando do começo ao fim, ou por vezes tocando uma melodia qualquer que se repetia duas ou três vezes no começo e no final da peça, permitindo-se, no meio, por 21 minutos, revezar improvisos).
Analisei rapidamente uma das características mais intrigantes dessa vertente pouco explorada, dificilmente comercial e bastante obscura da música vanguardista, em seu aspecto que me chama a atenção: sendo complexa, porque improvisada, não é música para dançar, como foram os ritmos das grandes bandas dos anos 20 a 40; não sendo estruturada como os pequenos grupos que acompanhavam solistas nos anos 50 e início dos 60, não é música para sentir fortes emoções, porque não se pode traçar uma linha mestra que nos guie; então que aspecto tem essa música? Não é organizada o suficiente para ser sentida, tampouco estruturada o suficiente para ser dançada. Concluí que se trata de música para mover a sensibilidade.
Sensibilidade, que quero dizer com isso? O conjunto de perceptos e afectos que compõe a totalidade (do) sensível. É música para rever-se, estranhar-se, para compreender o mundo sob nova lente ou sob nova luz.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Série: metapoemas

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domingo, 5 de julho de 2015

Série: metapoemas

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sábado, 4 de julho de 2015

Série: metapoemas

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07
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POEMANOSSO

...Você e eu...
...Vocêeeu...
...Vocêeu...
...Vocêu...
...ocêu...
...océu...
...océ...
...osé...
...os...
...ós...
...nós...

...Nós...

terça-feira, 30 de junho de 2015

Série: metapoemas

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04
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Sonho?!

Sonho?!

Era uma cidade que desconheço. Eu voltava para um apartamento pelas 17h. O sol já se punha, restavam alguns azuis e laranjas disputando o céu.
Ao subir para o oitavo andar e abrir a porta lá estava você, sentada, de avental, escrevendo algo. "Heyo! Seja bem-vindo!", você me cumprimentava como um gato, erguendo o pescoço, mas sem sair do lugar. Apenas para me pegar de surpresa depois, enquanto colocava meu sobretudo no cabide, o qual jazia apoiado na maçaneta da porta do armário de quatro portas. Cumprimento teu era um abraço forte e quente, caloroso, próximo, alma na alma e um sorriso sem fim, sem tamanho, estampado nas faces conhecidas. Fechei meus olhos e senti cada curva, cada detalhe, cada perfeição e falha, cada milímetro que faz você somente a si mesma, inimitável.
Você me soltou e voltou para seu lugar. Eu me aproximei. Você desenhava, era uma folha A3, havia muitos lápis sobre a mesa. Acho que uma caneta de nanquim também estava ali. Sorri enquanto espiava sobre teu ombro, sorriste em resposta e me beijaste a bochecha longamente. Sorri enquanto me beijavas.
Precisava planejar algumas falas, não dizia aulas, mas talvez fossem aulas. Dirigi-me a uma estante moderada, porém recheada de livros e peguei um grande, grosso, de capa azul escuro, muito bonito. O tempo passou rápido nesse momento, tão rápido que parece um empilhamento de dias e dias, um acúmulo sem fim que culminou no que houve. Tu te levantaste e disseste fazer nosso jantar. Agradeci a prestatividade com um forte abraço, onde tua cabeça descansou em meu peito, e um doce beijo em tua testa.
Quando reergui o olhar do livro o céu já era um pano preto com furos brilhantes e adentravas o quarto de estudos de avental, com uma colher de pau à destra, saltitante, teus seios livres pulavam junto: "Está pronto!", aguda, porém suave e macia era a voz acolhedora com a qual anunciavas.
Era uma espécie de arroz amarelado, acho que algum tempero, com frango picado, salada verde e cenoura passada na manteiga com tempero verde. O cheiro era de matar, viciante.
Quando saí do banho tu já lavaras a louça e eu estava deitado, lendo. Agarraste-me o corpo num só abraço, tua pele macia a me acariciar pelo simples toque. Com os olhos úmidos, porém sorrindo, pus o livro de lado – e aqui fica claro quanto infernal tempo se acumulou de um momento até outro – afaguei tua cabeça e te disse: "Sábado irei embora, meu contrato acabou...", meus olhos ardiam, mas resistia expor-te às lágrimas, as quais, insubordinadas, escorriam uma a uma, vagarosamente.
Calaste-me a boca com o delicado indicador destro. Beijamo-nos tão amorosamente que posso sentir ainda o sabor de teus lábios, a textura deles... Virei e estava por cima, tinha teus pulsos presos sob minhas mãos: "Não posso ir embora sem te amar, sem te dizer isto! Eu te amo!" e te beijei mais vorazmente. Ofegavas, mas teus lábios estavam abertos, um fiozinho de saliva ligava nossas bocas, sentíamos o que havia de quente um no outro.
Abaixei as alcinhas de teu avental e chupei, beijei, mordisquei teus seios, enquanto minhas mãos os apertavam com desejo.

[interrupção/ões]

Bem, então eu te prendia, despia as alcinhas do avental e apertava teus seios com as mãos enquanto deslizava a língua acompanhando o relevo dos mamilos, chupava-os, mordiscava-os, beijava-os e te encarava, num misto de carinho e safadeza. Voltei e beijei todo teu corpo. Da boca úmida e paralisada até a calcinha e de volta à boca. Senti teus pelos ouriçados, tua pele arrepiada. Tuas mãos quentes me seguraram o rosto e nos beijamos mais uma vez muito apaixonadamente, teus dedos me confundiam os cabelos...
Desci novamente e mordi a borda da tua calcinha, a qual retirei vagaroso, arranhando tuas coxas com minhas mãos enquanto trazia a peça íntima para baixo. Tornei à tua vagina beijando o trajeto feito por meus dedos. Sorri: "Posso..?", consentiste, acenando com a cabeça e mordendo o lábio inferior... Deslizava o polegar esquerdo em teu clitóris enquanto, com a destra, abria e lambia tua vagina, já um pouco molhada.
Não fiquei muito ali, logo senti tuas mãos me puxarem firme e fortemente o cabelo, trazendo minha boca à tua, para nos beijarmos ainda mais uma vez. Aproveitei o deslocamento para encaixar minha glande, intentando não penetrar. Afoito, penetrei minimamente. Sorriste, após um pequeno pulo, encarando-me voluptuosamente. Compreendi o sinal. Sorri também.
Penetrei-te apaixonado, irrefreável que estava (por teu corpo, por teu ser, por ti). Gemias docemente, tua voz era aveludada, era delicada e suave, envolvente como uma serpente que mente de maçã em mãos. Cedi e soltei-me das amarras, soltei-me dos limites, meti, transei, masturbei-me com teu corpo, tu fizeste o mesmo de mim, sei bem, percebi, senti, vivi, estive ali, fui teu brinquedo, teu objeto, como tu foste o meu.
Quando nossos olhos não se separavam, senão pelas pálpebras que cerravam vez ou outra, dando vazão a urros e gemidos prazerosíssimos, tuas mãos entrelaçaram dedos em minha nuca e me sorriste na alma: "Eu te amo!"... Morri. Sorri. Respondi: "Eu também te amo, meu amor!" e fodi-te com tudo que tinha, com força, com amor, com carinho, com calor, com tesão, com paixão, com fogo, com violência, com sexo, com corpo, com alma, com espírito, com tudo.
Amamo-nos longamente. Fodemo-nos longamente. Tornamo-nos um longamente. E longamente tu gozaste, mais de oito vezes. Gozaste, melaste-me, fizeste-me só teu cheiro, teu mel, teu. Teu. E teu eu fui. Fui. Sorria, queria gargalhar, sentia aquele prazer me inundar, afogar-me, estuprar-me, invadir-me como eu a ti. Sentia-me um com a felicidade que me deste, que me davas, que fomos. Fomos? Por fim, gozamos juntos. Juntos! Sim, juntos.
Como cadáveres, como pedras, como não-humanos, não-viventes, desfalecemos na cama, lado a lado, casados, amados, amantes, juntos. Unos. Um. U. M. Acariciava-te o rosto, afagava-te. Reviravas meu cabelo. Adormeceste sorrindo, os olhos fechados com leveza, sem peso, sem esforço. Eu também. Sorrindo.
Então já era o outro dia e eu já estava na rodoviária, bagagens em mãos, abraçando-te, minhas malas no chão, ao meu lado, sem me importar com aquela multidão que nos atravessava, que não se importava conosco, a qual também nos atravessava.
Doeu. Meus olhos imitaram cachoeiras. Imitaram chuvas torrenciais. Meu íntimo também o fez, meu âmago gostou dessa imitação, meu ser todo era dor e soluço e água a escorrer.
E acordei de olhos encharcados, um pouco suado, mas muito pouco, agarrado ao travesseiro, sabendo que isso nunca ocorreu.

[interrupção/ões]

Aos teus pés eu me joguei, os olhos enxaguados:

– "Não..! Eu não posso te deixar! Eu não consigo!"

– "Mas você precisa..!"

Tuas mãos me apertaram forte, podia me sentir como outrora, junto, dentro de teu peito, palpitando com teu coração.

– "E como vai ser?! Eu não consigo!"

– "Não! Você pode voltar sempre que quiser! Eu estarei te esperando!"

E mesmo horrível como estava, tu me beijaste. Tão cândidas tuas palavras, tão deleitáveis, um bálsamo de paz e luz e calma e frescor e sossego e carinho e docilidade!

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Série: metapoemas

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01
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02
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domingo, 28 de junho de 2015

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Contos e Crônicas de Itzalak - Avulsos #01

            As ruas em chamas, incendiadas pelo ódio, uma guerra civil ao meu redor, mas eu a ignoro completamente, caminhando em direção ao alvo. A garota do celular. Ela segura seu smartphone sorrindo, sua destra digita, com o dedão, muito rapidamente, mesmo que ela me encare fixamente, sorrindo, como se a vitória fosse dela. Com a canhota ela faz uma sequência de símbolos no ar, onde o ar se molda pela ponta de seu indicador. É a mais rápida que já vi e conjura um canhão de chamas, todas vêm em minha direção, um feitiço difícil e longo, de desenho complexo devido seu alto poder destrutivo. Sorrio com o canto da boca. Surpreendente, penso, mas não o suficiente. No intervalo que ela desfocou a visão de mim e prestou atenção no desenho feito no ar eu conjurei três feitiços. Ela pode ser rápida, mas eu estou acima desses limites!
            Ela corre para o lado e me acompanha assim que desvio das chamas. Impressionante velocidade para uma humana, insuficiente, porém. Salto com um simples toque da almofada do pé direito e estou correndo a uma distância suficiente para sentir a respiração dela em meu pescoço. É aqui que a diferença se mostra. Quando ela sorri e avança a destra, segurando o celular firmemente, tentando me perfurar, pois fez ao redor do aparelho uma lâmina de energia, o corpo falso explode. Uma armadilha feita mais rapidamente que um piscar de olhos, mais rapidamente que a visão dela pode determinar como um momento diferente. Eu disse: apenas humana, eu sou muito superior a tudo isso!
            Seu magro corpo é arremessado longe, voando fumegante. Ela cai sobre os escombros da lateral de um prédio destruído. Deve doer bastante acertar sua pele sensível, seus órgãos frágeis e seus duros ossos contra pontas e mais pontas de concreto. Apesar da visão embaçada, ela vê um vulto cair à sua frente, de pé e apenas pela estrutura física sabe que sou eu. Ela teme, sua respiração indica isso.
            Seu coração acelerou ainda mais, seu peito arfa, está desesperada. Não esperava por isso, não é, minha pequena? Um homem que superou todas as limitações do corpo, que transcendeu sua condição mundana. Eu poderia enfrentar seu fogo com minhas mãos, poderia esmagar seu crânio com elas! Eu prefiro, porém, deixar você pensar que sou só o maior gênio da magia que já houve. E essa guerra ao seu redor, onde ele - sim, ele, seu amado - morreu, foi causada por mim, porque pensaram que eu fosse um terrorista, quando eu era apenas um revolucionário. Miserável, não é? Quando você observa sua própria condição você percebe quão miserável é.

            A visão da jovem está cada vez mais turva e não há nitidez alguma. Seus órgãos não aguentam mais, sua respiração está pesada e suas narinas quase cheias de sangue. Com um corpo tão magro e frágil, comendo duas vezes por dia para manter essa aparência magra que julgavam ser esbelta, você pereceu. Sua existência foi miserável do começo ao fim. E pensar que nem admitira a ele que o amava! Apenas saíam de vez em quando e brigavam tanto... Eu os invejo por conseguir perder tanto tempo com o inútil.
            O celular caiu no chão. Sua destra está aberta. É o fim dela. Os ratos de olhos vermelhos já vêm arrancar sua pele, correndo e mordendo, mordendo e correndo.