quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Serial Musings #1

This will be a series of posts on various subjects, but united, first, by the composition itself in a series; second, by dedicating themselves to the thematicization and formalization of issues that are uncommon in this blog.

For this first entry, I would like to make just a brief but provocative comment: induction and deduction form something like a continuum.

Let me explain: any powerful enough induction will be equivalent to a deduction in that same particular case.

Interpretative caveats belong to our approach to the particular case and do not strictly belong to the inductive reasoning in question.

These interpretative caveats are currently part of our approach to induction, but should they be so? Or should they belong to the epistemology of inductive reasoning? Induction, then, seems to be born tainted by the brand of the particular case: it must always be restricted to a specific situation, and cannot aim above time and space as deduction.

But given enough time, a sufficiently strong induction will work as a deduction.

What does this allow us to understand? Not much, because we are talking about induction and this limits us to the present as a time boundary.

For this entry, that's it. More time is needed to address the consequences. But it is impossible to move on without noticing it.

P.S.: the relationship between induction and the sources of information that feed the reasoning in question seems to be another sensitive point of the issue.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Método de Expansão Progressiva para Projetos de Romances (MExPRo)

  • Escreva uma sentença que resume a história do romance.
Pense algo como: "Um cientista volta no tempo para matar Hitler".
Temos aí tudo que precisamos para saber do que se trata: quem vai fazer o que e como vai fazer isso. Podemos utilizar qualificações ("Um cientista maluco volta no tempo…"), não é hora de colocar nome nos personagens.
Menos é mais: tente redigir algo com menos de 25 palavras.
Foque no drama, no conflito, e misture a imagem global à imagem local: o que está em jogo para quem? Quem tem o que a perder? E o que busca conseguir?
Dê-se tempo durante todos os passos. Todo tempo que tomar em cada passo você economizará dez vezes mais no momento de escrever o romance.
  • Expanda a frase para um parágrafo descrevendo a narrativa (eventos importantes e final).
Há uma fórmula utilizada no cinema, no teatro e nos romances de sucesso, que ajudará agora, chamarei de "três desastres e um final". Cada desastre leva aproximadamente 1/4 do livro, portanto 3/4 são desastres e o final é… O final.
  1. Começa-se com uma apresentação do mundo ficcional e do protagonista, seguida da preparação para o primeiro desastre.
  2. O primeiro desastre acontece por razões ligadas ao mundo ficcional, porém desvinculadas das ações do protagonista.
  3. O protagonista tenta resolver a situação, mas sua decisão só piora as coisas.
  4. Isso leva ao segundo desastre.
  5. Mais uma vez tenta resolver as coisas e isso agrava ainda mais o quadro.
  6. Isso culmina no último desastre.
  7. O protagonista sofre alguma mudança nesse processo todo e toma a decisão certa.
  8. Isso leva ao final.
Isso faz com que o parágrafo tenha cinco frases:
  1. ambientação;
  2. primeiro desastre;
  3. segundo desastre;
  4. terceiro desastre;
  5. final.
  • Desenvolvimento das primeiras notas sobre personagens.
Agora que você tem a visão geral da história, é preciso pensar nos agentes dessa confusão. Os personagens constituem o mais importante da sua ficção. Esqueça enredos complicados, plot twists e qualquer outra coisa. Personagens fazem toda a diferença porque nos ligam ao mundo ficcional. Portanto todo tempo utilizado aqui será recompensado no momento de escrever.
Faça um sumário para cada personagem principal contendo as seguintes informações:
  1. Seu nome.
  2. Uma frase de resumo da sua história dentro do romance.
  3. Sua motivação: o que ele quer, em sentido abstrato?
  4. Seu objetivo: o que ele quer, em sentido concreto?
  5. Seu conflito: o que o impede de alcançar seu objetivo?
  6. Sua transformação: o que ele aprenderá? Como ele se modificará por causa disso?
  7. Um parágrafo resumindo sua história dentro do romance.
Como saber se um personagem é principal? Simples: ele causa e/ou resolve algum dos três desastres? Em caso afirmativo, é um personagem principal. Se ele causa o segundo e o terceiro conflitos e resolve o terceiro, então ele é o protagonista.
Se, neste passo, você perceber que precisa voltar ao parágrafo de resumo do romance para corrigir alguma incongruência em relação aos personagens… Volte lá e arrume! Isso é um ótimo sinal, pois significa que seus personagens estão te contando a história deles – a qual é a história que você irá contar quando sentar-se para escrever o romance ao final do planejamento. Por isso volte sem medo ou vergonha. Qualquer revisão feita agora previne revisões em manuscritos com centenas de páginas.
Não se importe tanto em fazer algo perfeito. Importe-se em fazer essas anotações e seguir para o próximo passo. Esse é o propósito do passo-a-passo: terminar um passo para alcançar o próximo. É saudável voltar e modificar, significa que você está se envolvendo cada vez mais com a história e está amarrando as pontas soltas. Isso garantirá um romance muito bem acabado.
  • Volte ao resumo do romance feito no segundo passo e transforme cada uma das cinco frases em um parágrafo.
Por aqui você já deve ter passado um ou dois dias, talvez mais, desenvolvendo os passos anteriores. Ótimo! A pressa, neste caso, é inimiga mortal da perfeição, pois estamos trabalhando (indiretamente) com o inconsciente e este exige seu próprio ritmo, tem seu próprio tempo.
Leve quanto tempo precisar – provavelmente algumas boas horas – transformando cada uma das cinco frases presentes no resumo do romance (do segundo passo) em um parágrafo inteiro. Se as contas estiverem corretas, todos os parágrafos terminarão num desastre, exceto o último, o qual deverá conter o fim da história (realmente conte como tudo termina).
Por trabalhoso que pareça, tente se divertir, é um dos passos mais parecidos com o ato de escrever ficção.
  • Volte ao terceiro passo e escreva sumários de uma página para cada personagem principal.
É hora de acrescentar carne ao esqueleto: volte aos sumários de personagens principais do terceiro passo e descreva os personagens em uma página (ou mais). Inclua tudo que puder, quanto mais souber sobre eles, melhor; isso garantirá um excelente romance.
Uma dica: tente contar a história da perspectiva do personagem sobre o qual está escrevendo. Isso ajudará a compreender sua personalidade.
Outra dica: demarque cada personagem por um arquétipo/função. Não se prenda à teoria de Jung ou qualquer outra, mas tente resumir o personagem em uma palavra, ex.: trickster, zoeiro, love interest, antagonista, rival, sonhador, etc.
Com certeza você terá de voltar ao que escreveu nos passos anteriores para ajustes e correções. Volte e corrija e ajuste, sem vergonha, sem receio, sem temor. Todo esforço agora será recompensado depois.
  • Retorne ao sumário do romance feito no quarto passo e transforme cada parágrafo em uma página.
No quarto passo você transformou as frases (do segundo passo) em parágrafos. É hora de repetir esse gesto e expandir cada parágrafo em uma página (ou mais) de resumo da história. Agora você começa a detalhar cada desastre e a relação do protagonista com a situação.
Certamente você terá de retornar aos passos anteriores para arrumar as coisas. Desavergonhe-se e volte com toda a certeza de um bom arquiteto de ficções. Seu edifício se manterá glorioso e firmemente de pé devido a essas correções retroativas.
  • Expanda as descrições dos personagens feitas nos terceiro e quinto passos até não poder mais.
Escreva tudo que souber e puder sobre seus personagens: data de nascimento, comida favorita, cor favorita, também o que detesta, aquilo que lhe é indiferente, seu porte físico, de que se compõe seu guarda-roupas, manias, tiques, sua história, e o mais importante: como mudará ao final do romance.
Neste passo você deverá acrescentar os personagens secundários e os terciários.
Personagens secundários são aqueles que aparecem e interferem na história, possuem personalidade distinta, mas de quem não acompanhamos a história.
Personagens terciários são aqueles que aparecem, mas não interferem na história, portanto não possuem personalidade notável e não sabemos suas histórias.
Exemplo de personagem secundário: um avô conselheiro do protagonista, mas só o encontramos algumas vezes, quando o protagonista atende ao telefone (ou telefona) e quando vai visitar a casa de campo.
Exemplo de personagem terciário: o garçom do bar no qual o protagonista conversa com sua paixão.
Como você pode perceber, os personagens terciários são extremamente fugazes, mas você sempre pode apimentar as coisas colocando um pouco de personalidade em algum gesto ou fala desses personagens: quem sabe o garçom encara demoradamente os olhos da paixão do protagonista enquanto os serve…
Não tenha dúvidas de que os personagens farão demandas quanto à história; você deve atendê-las: volte e corrija retroativamente o que escreveu nos passos anteriores, a fim de manter a coerência da sua ficção.
  • Retorne ao sumário expandido do romance no sexto passo e faça uma lista de cenas.
Faça uma lista das cenas presentes em cada parágrafo do resumo estendido do romance produzido no sexto passo. A lista deve conter uma frase para cada cena.
Cenas sempre se encadeiam em pares de eventos seguidos pelas sequências desses eventos. Portanto, se você escreveu uma frase que resume uma cena na qual algum evento leva os personagens à ação, a frase seguinte (que resume a cena seguinte) deverá ser uma sequência em que os personagens reagem.
  • Expanda as cenas listadas no passo anterior para, pelo menos, um parágrafo.
A esta altura você já sabe o que fazer: abra um programa de planilhas (Microsoft Office Excel, LibreOffice Calc, Google Planilhas, etc.) e faça uma linha (ou coluna) para cada cena-de-uma-frase que você criou no passo anterior e associe a ela um parágrafo inteiro detalhando o que acontece. Também marque o foco narrativo: a partir do ponto de vista de qual personagem essa cena será percebida? Marque todos os personagens presentes na cena.

  • Uma breve explicação sobre eventos e sequências.
Um evento se divide em três partes:
  1. Objetivo: o que o personagem quer. Deve ser algo claramente definido e, portanto, específico. Isso fará o personagem agir ativamente.
  2. Conflito: obstáculos que impedem o personagem de conseguir o que quer.
  3. Fracasso: o personagem não alcança seu objetivo (se alcançar, você chegou ao final do romance). Algo ruim deve acontecer ao personagem.
Uma sequência começa do fim de um evento e também se divide em três partes:
  1. Reação: é a resposta emocional ao fracasso. Agora é a hora de fazer o leitor sofrer junto do personagem. Este é o momento para mostrar o tempo passando. Porém, não permita que o personagem chore para sempre; ele deve buscar suas opções, mas… Não há nenhuma opção…
  2. Dilema: é a falta de (boas) opções. Se o fracasso foi mesmo terrível, então não haverá boas opções. Permita que o personagem decida, ponderando qual a saída menos pior para a situação.
  3. Decisão: é a saída que o personagem ativamente toma para (tentar) melhorar (su)a situação. Faça-o tomar uma boa decisão. Uma decisão que o leitor respeitará, mesmo que seja arriscada. Dica: se for arriscada, ela precisa ter uma chance de dar certo, para ser respeitável. Faça isso e o personagem gerará um novo objetivo (o sucesso da sua decisão).
Assim a engrenagem da ficção só parará de girar na última cena, no final do romance, quando o objetivo for efetivamente alcançado.

Na pequena escala da estrutura textual, posso dar ainda mais uma dica: as cenas (sejam eventos ou sequências) devem ser escritas como pares de estímulo e resposta.
O estímulo é externo ao personagem e é percebido por ele, portanto utiliza-se de todos os recursos da percepção cabíveis à situação (os cinco sentidos, emoções imediatas, etc.).
A resposta é subjetiva e nasce do interior do personagem, portanto deve respeitar a ordem psico-fisiológica possível de se responder a uma situação.
Exemplo: "O tigre desceu da árvore e pulou na direção de Fernando." Eis o estímulo. Objetivo, direto, claro, breve, sem rodeios.
A resposta é sempre mais complexa que o estímulo porque incorpora o fator subjetivo (do foco narrativo, da perspectiva do personagem); por isso, respeita-se a agilidade natural: primeiro a emoção, depois o reflexo, por fim raciocínio lógico e fala estruturada.
Exemplo: "Sentindo a terra tremer sob o peso do animal, suas pupilas dilataram, seu coração acelerou e Fernando foi tomado por uma explosão de adrenalina. Alinhou a espingarda no ombro, mirou o coração da fera e pressionou o gatilho.
— Morra, degraça!".
É perfeitamente aceitável produzir uma resposta parcial, que não contemple as três dimensões (emoção, reflexo, raciocínio/fala), mas é preciso que se respeite essa ordem. Se o personagem precisa falar, então é preciso passar pelas duas primeiras etapas da resposta.
Para continuar o funcionamento da máquina ficcional, retorna-se ao estímulo: "A munição estalou no lombo do animal. Sangue esguichou da ferida. O tigre rugiu e hesitou, então saltou rumo à garganta de Fernando."
E assim segue.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Escrito em um minuto

Quando Carrie cruzou a porta do escritório carregando o pacote fechado, Thomas só teve tempo de arregalar os olhos e abrir a boca.

O estrondo anunciou os cacos de vidro arremessados até a calçada em frente, donde Jolson, o ex-funcionário, contemplava a cena, acendendo um cigarro e sorrindo.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Cena do cachorro-quente

― Vou comer assim porque você sempre me tratou feito lixo mesmo. Acostumado eu já tô. É só um pouco mais de sabor.

Comeu o cachorro-quente com areia e grama sob a chuva.