sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Hermetology #10

F. Kittler wrote somewhere:

As the Canadian poet Anne Carson has brilliantly shown, the whole poem centres on Sappho's dialectal word 'dēûte', which paradoxically means 'now' and 'again' at the same time. To put it in other words: Sappho, for the first time in European history, calls Eros, the god of love, simultaneously bitter and sweet.

Dēûte: againow.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Hermetologia #9

A compreensão de antropos como animal linguageiro não é gratuita. Mas, é importante lembrar, o lógos era, simultaneamente, a razão (capacidade de raciocínio), a razão (motivação, motivo para algo ocorrer tal qual ocorreu), mas também o nome da(s) língua(s) humana(s). Assim, resta o achatamento final: o som de Homo é o lógos. Não há nada de diferente do ruído animal aí, é tal qual o gorjear, o coaxar, o relinchar, etc. Mesmo assim, marca-se uma diferença inominável, inenarrável.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Hermetologia #8

A poesia nasce da prece. A εὐχή [eukhḗ] constitui esse lugar. Ao mesmo tempo, quer dizer rezar (por), rezar (para), desejar, ansiar, (de)votar, prometer, jactar, professar, (van)gloriar.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

MitoLógicas #7

Escreveu um poema

Ele: cavalheiro, como todos. Rosto invisível, ausente, fazia charme – marcante, o jeito seu. Nos ares da cidade, cheia de cinza e vazia de gente, peito pulsante por um sorriso. Ela: princesa no sentido parcial do termo. Abandonada pelo mundo, emaranhada em falas e bocas e olhares e línguas e cheiros e toques. Aquecida acolhida encolhida nele encontrou. Trocaram palavras muitas: não comerciavam, não escambavam; amavam.

Em seu coração: espinho (falante). Palavras vis e intentos pueris de trajar e andar e viver.

Moços: feridos. Dor desigual. Corações: fora do lugar, despetalados.

Partida: ela, com coragem, sob a chuva. Refletida onde já ele não via; entretido noutro pulso. Ele: novo, nova acolhida encolhida; fria; úmida. Igual? Não há (como) saber. Respiração: agitada. Aventura, a nova. Gritou, ardeu, odiou, finalizou: vida, presenteie-me com amor!

Sem direito a exposição, modulação, recapitulação, a sonata ficou demasiado sonora e pouco musical.

Rosto bonito: fim trágico: justo, o mais.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Hermetologia #7

Há dois fatos extremamente relevantes nos inícios da filosofia, os quais tendem a ser ignorados, esquecidos, obnubilados por algum motivo que desconheço. Seja como for, ambos colocam uma questão crucial, vejamos.

O primeiro: Filóstrato diz que Protágoras era discípulo de Demócrito, mas, mais importante, o sofista teria também estudado com os magos persas.

O segundo: Górgias inicia seu Elogio falando daquilo que é ordenado, harmônico, mas, atentemos ao termo utilizado no original: cosmos.

Adicionemos a isso o poder atribuído à retórica dos sofistas por Platão e Aristóteles, o poder de mexer na alma, de mover os outros, bem como a paródia gorgiana do tratado de Parmênides.

Isso nos permite entrever o lugar cósmico, universal, galáctico, extra-humano e extra-mundano da linguagem, como também o fato de a linguagem exibir a disjunção no seio do Ser, o furo fundamental.