quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Capítulo III - Ocaso de uma nova era

            Adva, O Vertente Infindo, agradado do sabor, da dor, do toque macio e carinhoso d’A Luz do Mundo, fez Sua luz se refletir por toda a extensão Dele mesmo, portanto auxiliando no cumprimento da dificultosa missão Dela. E o Dia se fez, fazendo-se, fez-se claridade. E a Noite se fez, fazendo-se, fez-se escura. Aqueles Sem Rosto, do outro lado do deserto de Krysta, gritaram muito, pois suas peles ardiam com o calor do Dia e os ventos cortantes da Noite.
            Ela caiu no chão, extasiada.
            Viu diante de seus vivos olhos toda a História e experimentou todas as histórias.
          Apalpou a essência d’O Espaço em si mesma, materializada em toda sua imaterialidade.
            Corroeu-se sua pele com a gentil passagem infinitamente veloz e irrefreável d’O Tempo.
            Esmagou-a como uma pluma incomensurável a Existência em Si.
            Gozou-a e riu-se Dela A Sabedoria.
            Girando e girando, espiralando tudo, estonteou-a A Emoção, de mão dada à sua abstração, O Sentimento.
            Arruinou Seu espírito A Mente, etérea, mas sempre tão densamente povoada.
            A tal ponto incendiaram-na corpo e essência que estava Ela morta ao final da Iluminação do Mundo. Morta como só A Morte pode finalizar tão esplendoroso espetáculo de Vida e Amor. Havia agora, sim, tudo; A Vida caminhava por todos os lugares, tudo que antes era imóvel, tornara-se movimento! Havia agora, sim, tudo; as areias de Krysta ascendiam, uniam-se, dançavam todas juntas e Os Impérios, eis eles aí, estupendos, reluzentes, miraculosos! Havia agora, sim, tudo; O Som, lá estava ele, onde houvesse voz, zumbido, palavra, ruído, onde antes havia silêncio! Havia agora, sim, tudo; A Luz, esse símbolo infinito, fazia o que outrora fosse irreal, agora era forma, claridade, percepção! Havia agora, sim, tudo.
            A Luz do Mundo parou. Nem um espasmo, nem um piscar de olhos, nem uma lágrima. Silêncio, Escuridão e Morte reinavam soberanos sobre aquela carcaça. E de sua barriga, de seu sacrossanto ventre espirrou muito sangue, muito mais que Aqueles Sem Rosto puderam beber e comer, mastigar e deglutir, saborear e festejar. A pele lentamente se rasgava, como um pano esticado pelas pontas, qual se rompe lenta e dolorosamente. Dolorosamente? Ela já não sentia, porque não mais era, não mais estava. Estava? Estava noutro estado, noutra forma, na forma morta, estacionária, degradante. E do tecido de pele rompido saiu O Primeiro Homem.
            Ambivalente, ambíguo, de dupla natureza, essência distorcida e perturbada, ele caminhou lentamente, todo sob o férreo e dócil sangue de Sua Mãe. E sob o sangue de Sua Mãe, ele beijou, ajoelhado, as mãos daquelas três entidades. Filho, portanto, d’A Luz do Mundo, mas batizado, ao nascer, pelo Silêncio, com suas longas e brancas mãos, de dedos tão extensos que remetiam a memória a tentáculos, mas quem tinha tentáculos era A Escuridão, qual também abençoou O Primeiro Homem ao nascer. Mais fundamentalmente, porém, nasceu Ele sob o signo da terceira entidade. Fruto da morte de sua mãe é Ele, também, mortal. E mortal sendo, visitou Os Impérios de Krysta, porque O Tempo, para Ele, agora é a mais preciosa joia, já que A Vida se esvai com o caminhar indiferente daquele. E tudo tem novo significado, porque nada é perene.

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