domingo, 7 de fevereiro de 2016

Preto-e-branco-e-colorido

          Ela encara o vento no topo do prédio. Seu rosto é sério e sisudo. Sua expressão não é dócil; convidativa talvez. Não pode sorrir; apenas encara. Pisca de vez em quando (o vento pode fazer os olhos arderem).
          Cabe num vestido azul e, com a destra – que pende paralela ao corpo – segura uma pequena flor branca desimportante. Tudo atrás dela – tudo diante dela – é difuso, impreciso, embaçado, desfocado. Reto e penetrante: seu olhar.
            Eu estou preto-e-branco.
            Tudo nela e ao seu redor é colorido.
         Ela dá a bochecha ao vento; olha para o lado. Olha para baixo e perde o olhar num detalhe ínfimo do chão – perde-o nas parcas nuvens acima. Mexe-se, sente o vento, envolvendo-a, dançar. Sorri com os lábios (os dentes permanecem escondidos). Então para, quer ofegar, mas não está suficientemente cansada. Mira a cidade abaixo; o horizonte. A destra se abre.
            A flor cai.
            Tudo é cinza.
         Chora profusamente, seu rosto se compõe de duas cachoeiras. A garganta é vulcão. Quer gritar e explodir; só engasga.
            Eu estou preto-e-branco. Ela também.

            Ela também.

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