quinta-feira, 20 de abril de 2017

No ônibus [título provisório]

Hoje vi uma borboleta morta, imóvel, na calçada. Não quero falar disso, mas de algo tão fortuito quanto. Durante meu trajeto, tive um anjo ao meu lado. As mãos, tão finas e alvas, eram mármore vivo – enquanto estiveram sob minha vista, ansiei tocá-las. Sobre a destra um diamante preto, uma tatuagem, vocês diriam; eu digo: marca do mundo, seres tão frágeis não são próprios para a brutalidade deste jardim. Um de seus fios se desprendeu e meteu-se entre as páginas de meu livro – o cabelo não era loiro, era dourado, juro! Virou-se para se desculpar; as folhagens jamais terão o verde daqueles olhos. E a voz, tão doce, tão leve, embalou-me nestes e noutros delírios, ignorando o concerto do mundo. Desci de tantas alturas para lhe sorrir um "tudo bem". Hoje compreendi Baudelaire e sua passante.

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