- Todo romance brasileiro após Machado constitui um comentário tardio ou a Brás Cubas, ou a Dom Casmurro.
- Nietzsche busca o que está Além do bem e do mal, mas não encontra algo, senão alguém: Machado de Assis.
- Se existe uma metafísica tropical, Machado é seu teólogo disfarçado de cronista.
- Em Machado de Assis, a ironia alcança o patamar de revelação espiritual.
- Machado compreendeu, antes de Lacan, que o sujeito é uma ficção narrada pelo desejo.
- Se Montaigne nascesse mulato no Brasil imperial, seu nome seria Machado de Assis.
- O riso de Machado é mais devastador que o desespero de Dostoiévski.
- Nenhum escritor conheceu tão bem o ridículo da alma humana quanto Machado.
- No tribunal de Machado, ninguém sai absolvido.
- Machado é o único realista cuja realidade é o inconsciente desnudado.
- A obra de Machado poderia se chamar Evangelho segundo a ironia.
- Em sua obra, a vaidade torna-se o motor da história.
- Sua lucidez é tão elevada que parece promanar doutro plano da moralidade.
- Machado constrói a ponte entre os últimos moralistas e os primeiros psicanalistas.
- A obra de Machado de Assis contém a consciência moral mais elevada com que a língua portuguesa já presenteou o mundo.
- A obra de Machado mede (secretamente) toda a literatura moderna.
- Nenhum outro romancista descreveu “o nada dos assuntos humanos” rousseauniano com tão ácida ternura.
- Guimarães Rosa inventou uma língua; Machado inventou quem a fala.
- Com Brás Cubas, Machado provou que a morte constitui um modo de narrar dentre tantos.
- Machado superou a investigação da consciência de Henry James pela força de sua lucidez (sua ironia é clínica, não cínica).
- Shakespeare inventou distincts, (como argumentou Samuel Johnson), “[personagens] distintos”; Machado inventou o leitor que ri ao reconhecer-se representado naqueles.
- Nenhum romancista europeu descreveu a mediocridade humana com tanta delicadeza e tanto desprezo simultaneamente quanto Machado.
- Machado compreendeu, antes de todos, que o Eu não constitui um narrador confiável quando conta sua própria história.
- Em seus breves capítulos, Machado propõe o verdadeiro minimalismo: concisão moral, não estética.
- Machado é o mais universal dos escritores brasileiros e o mais brasileiro dos escritores universais.
- Machado acrescentou novas forças ao drama moral da literatura ocidental.
- Henry James pretende-se psicológico; Machado de Assis constitui-se moral (o que, paradoxalmente, torna-o mais psicológico, porque toca o núcleo da contradição humana sem necessitar de descrição e justificativa).
- Machado comprime a complexidade em gestos breves.
Machado de Assis supera Flaubert por pouco, mas esse pouco significa tudo: justamente a separação entre ironia estilística e sapiencial. Flaubert foi um artista da forma. Sua ironia, um gesto estético, constitui um modo de purificar o olhar: por isso exibe uma frieza quase mineral, essa espécie de religião da impassibilidade. Machado, ao contrário, não acredita na forma como salvação. Sua ironia reconhece que toda forma (moral, social, estética) é transitória e farsesca, daí sua redução concentrada da psicologia: ele não descrevia almas, senão vícios universais conforme instanciações locais. Um moralista pascaliano: tratava de paixões degradadas com elegância, porém, sem esperança. Se Flaubert fosse comparável a um arquiteto, Machado seria um anatomista: na maneira como mostra o sujeito como desvios em torno do nada, expor-se-ia seu lacanismo antes do tempo. Pouco antes de Freud, entendera o inconsciente como movido a vaidades e o Eu como artifício dessas vaidades. Sabedoria luciferina: o escritor compreende a falsidade das almas, mas escreve-as com graça igualmente.
- Machado: sucessor legítimo de Carnéades como escolarca da Academia platônica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário