sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Gravidade do exílio, de Assad Abdi [retraduzido]

Tu partes ao quinto círculo de exílio, onde a gravidade aprendeu a lidar consigo. O nome não mais te puxa para baixo. Tu derramas o passado; tu o cortas de tua pele e flutuas interminavelmente, encantado pelo tempo leve. Gravidade é um estado de ser, um reflexo da adoentada visão de alguém. Cativante é a sensação de não mais estar preso ao chão. O vento transporta-te acima das terras nas quais a história dorme escutando seus próprios mitos. Um estado de euforia engolfa teu corpo. O âmago da perfeição: onde o coração ama não um senão todos; onde tudo é uma terra estrangeira sob teus pés; onde tu pertences a todos e nenhum.

Contentamento além do querer. Tu cresces em teu mundo, não mais um andarilho. Tu abarcas o momento pelo momento e apenas por um momento. Tu agarras o outro pelo outro, não por ti mesmo. A língua manifesta a si mesma como um instrumento para tua alma tocar corações onde quer que tu alcances. Contradições de si mesmo tornam-se muitas notas soando em harmonia. Não mais o sonho; o sonho torna-se tu. Tu deixas partir. Deixas. A mente em paz com seus fragmentos, não mais uma parede sufocando suas estruturas. Não mais bordas cortando o corpo em metades diferentes. Desapego de um e de todos. O exílio torna-se uma escolha, não um estado obrigatório.

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