terça-feira, 30 de maio de 2017

Diário - 2017/05/26

86. "Se você não vive para servir, não serve para viver." É mesmo um mundo terrível.

87. Duvidar, descrer, colocar em disputa, é a maior forma de crer e respeitar. Crer cegamente é um desrespeito enorme. Só aquele que duvida será amado por Deus. Ou pelos deuses.

88. "Quanto mais se escreve, mais as palavras vêm!", escreveu alguém. Com certeza esse alguém não considerava a escrita, quer diz: cum sidera, com os astros, com o espaço, não sentia nem vivia essa força cósmica que nos impele à arte das palavras e dos sons e das imagens e do pensamento, enfim, essa língua sempre estranha estrangeira a nós.

89. Quem disser que as coisas só dependem de nós pouco ou nada entendeu. Há instâncias absolutamente superiores que nos governam a seu bel-prazer. A situação absolutamente caótica da política brasileira hoje, o declínio do império Romano, olhe-se para onde for e se verá a ação dessas forças impessoais, anti-éticas, poderíamos dizer até cósmicas. Tomo esta nota para não cair na facilidade de certas palavras que já me convenceram e que eu mesmo já repeti diversas vezes, dum humanismo barato e infrutífero, uma espécie de culpa coletiva ou coletivizada, um horror só. Eu não sou aqueles políticos corruptos e mesmo que eu esteja em erro nossos erros são dessemelhantes. É por isso que esse história de trocar os políticos resolver tudo é uma balela medonha. Isso aí é o fracasso do modelo de República Democrática Representativa, aquilo que já denunciavam as vanguardas históricas: a falência, a invalidez do conceito de representação (e suas respectivas aplicações em todos os âmbitos). O mundo não funciona por figuras, mas por imagens.

90. Qualquer miséria, qualquer migalha de dor se chama hoje "uma tragédia!" com todas as letras e a exclamação junto. As vezes até uns gritos e discursos inflamados. Eu me pergunto até que ponto isso é bom. O humanismo barato que hoje domina a Internet é das piores doenças já espalhadas, é como o zumbi, o undead, o morto-vivo : ele te reconhece como inimigo que precisa ser mordido (essa expressão é boa, já explico), precisa ser infectado, quer dizer, precisa entrar na dança, no jogo, na lógica, para se tornar aceitável, suportável, tolerável são as palavras certas. Mordido é bom porque se usava para falar de pessoas muito afetadas por algo: "ficou mordido de ciúmes", etc., quer dizer, afetou-se muito, encheu-se de calores e humores, brandiu o gládio da justiça por céus e terras para vingar desvantagens. Por favor! Vocês são insinceros pra caralho! Hipocrisia dos infernos! Semana que vem já nem lembrarão da merda que aconteceu ontem! São condolências vazias, sentires sem sentido, sem sentidos. Humanismo de curtidas, esvaziamento até da experiência mais autêntica que nos restava, a dor, o sofrimento! Quando esse horror vai parar?!

91. ∅

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