quarta-feira, 24 de maio de 2017

Diário - 2017/05/23

70. Qual o quid da linguagem? Qual sua coisa? Quando se diz "a coisa mesma (da linguagem)", o que se diz realmente? Qual a quididade da língua afinal? Há quem diga que ela é um repositório da(s) humanidade(s).

71. Filontogênese (filogênese + ontogênese).

72. Seria a língua uma partilha?

73. Por que Saussure evitou o uso de símbolo (Peirce; fenomenologia; simbolismo), em nome de usar signo? Parece-me que Saussure queria precisamente discutir uma ontologia, não uma fenomenologia, pouco lhe importava o como (humano) das coisas, mas sim o que, o quid e também o qualia.

74. Se pudermos definir a forma de vida wittgensteineana, diremos que é uma atividade regrada e regulada. Esse foco na atividade avisa algo, sinaliza algo (ética; moral; vida do espírito).

75. A linguagem não é (in)dependente.

76. Talvez o zeitgeist, o reconhecimento intencional (especialmente amplo, social, a vontade coletiva) tenha servido para a evolução humana. Pensando duma perspectiva sócio-cognitiva da evolução humana, percebe-se a utilidade que tal recurso nos ofereceria: colaboração e sobrevivência, decisão coletiva e influência, convencimento e persuasão dos piores espíritos a aderirem às melhores decisões. Seria hoje isso um recurso ainda possível, necessário, ou viável? Cf. Death Note, mesmo Dragon Ball, games como Pokémon! e outros RPGs – um sujeito individual acumula poder e o utiliza para realizações particulares, a partir de seus interesses privados; mesmo realizando vontades "coletivas", isto é, que muitas pessoas têm, as realizações são particulares, não são coletivas, o êxito e o mérito são seus, quer dizer, o louvor é seu.

77. O duplo, o dual, o bipartido, é sempre um segmento de reta, promessa de infinito, por isso ruim. O tripartido, o triplo, o ternário é potente. Daí os "marxistas" serem tão ruins (essa qualidade felizmente retorna nos chamados pós-marxistas) em suas análises, com seu sonho de "totalidade" e de "reflexo" (olha como a escolha lexical é péssima!) "do particular no universal e do universal no particular", poder-se-ia trocar por "manifestação" e, ademais dos problemas óbvios, seria a mesma coisa. Eles são péssimos, cansam mesmo, viu?! O paradigma, o singular são esses lugares faltantes à boa explicação a que aspiram esses trastes insuportáveis. Em sua maioria são dogmáticos, o que é terrível. Seja em nome de um autor ou de um pensamento, não sabem se sujar, profanar, macular, repetem os gestos dos idealistas que tanto detestam em última instância, quer dizer, tentam executar de novo a "limpeza do pensamento".

78. Sou muito mal interpretado hoje. Era de se esperar. Como cantou Robert Flynn: "one day you'll see I've always been right, right".

79. Não temer o mergulho na ficção, ao contrário, desejá-lo, realizá-lo. Posto realidade e ficção se configuram da mesma maneira, há apenas uma mudança de trato, é saudável amá-la.

80. O que se deve entender por história? Quero dizer, quando alguém disser "história do Brasil", por exemplo, o que "história" deve evocar? Todas as definições dadas não são suficientemente científicas, quero dizer, não moldar às ciências naturais, mas conceitos aplicáveis à primeira mão, compreensíveis de pronto, ao contrário, são poéticas demais, tão inúteis quanto a poesia. Lembremos: geisteswissenschaften, fazemos ciência, temos nosso l(ug)ar, nossa voz, nosso direito, temos até método!

81. Se você não aprecia a morte, esqueça qualquer chance de falar da vida com alguma qualidade. Talvez até mesmo de viver com qualidade.

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