segunda-feira, 1 de maio de 2017

Quinze teses sobre arte contemporânea, de Alain Badiou (traduzidas por Igor S. Livramento).

1. A arte não é a sublime descida do infinito ao abjeto do corpo e da sexualidade. É a produção de uma série subjetiva infinita através de meios finitos de subtração material.

2. A arte não é meramente a expressão duma particularidade (étnica ou pessoal). Ela é a produção impessoal duma verdade endereçada a todos.

3. A arte é o processo duma verdade, e essa verdade é sempre uma verdade do sensível, do sensual, do sensível enquanto sensível. Quer dizer: a transformação do sensível no acontecimento duma Ideia.

4. Há necessariamente uma pluralidade de artes, e conquanto imaginemos as maneiras pelas quais as artes se interseccionam não há maneira imaginável de totalizar essa pluralidade.

5. Toda arte se desenvolve duma forma impura, e a progressiva purificação dessa impureza molda a história de ambas uma verdade artística particular e sua exaustão.

6. O sujeito duma verdade artística é o conjunto de obras que a compõem.

7. Essa composição é uma configuração infinita, a qual, em nosso contemporâneo contexto artístico, é uma totalidade genérica.

8. O real da arte é a impureza ideal concebida através do processo imanente de sua purificação. Em outras palavras, a matéria-prima da arte é determinada pelo começo contingente da forma. A arte é a formalização secundária do advento duma até então forma sem forma.

9. A única máxima da arte contemporânea é não ser imperial. Isso também significa: ela não deve ser democrática, se democracia implicar conformidade com a ideia imperial de liberdade política.

10. Arte não-imperial é necessariamente abstrata, neste sentido: ela abstrai-se a si mesma de toda particularidade, e formaliza esse gesto de abstração.

11. A abstração da arte não-imperial não está preocupada com nenhum público ou audiência particular. Arte não-imperial está relacionada a uma espécie de ética aristocrática-proletária: sozinha, ela faz o que diz, sem distinção entre as pessoas.

12. Arte não-imperial deve ser tão rigorosa quanto uma demonstração matemática, tão surpreendente quanto uma emboscada de noite, e tão elevada quanto uma estrela.

13. Hoje a arte só pode ser feita a partir do ponto em que, no que concerne ao Império, não existe. Através de sua abstração, a arte torna o inexistente visível. É isso que governa o princípio formal de toda arte: o esforço para tornar visível a todos aquilo que para o Império (e por extensão para todos, apesar de um ponto de vista diferente) não existe.

14. Por estar certo da capacidade de controlar todo o domínio do visível e do audível pelas leis que governam a circulação comercial e a comunicação democrática, o Império já não censura mais nada. Toda arte, e todo pensamento, está arruinada se aceitarmos essa permissão para consumir, para comunicar e para curtir. Nós devemos nos tornar os impiedosos censores de nós mesmos.

15. É melhor não fazer nada que contribuir para a invenção de meios formais para tornar visível aquilo que o Império já reconhece como existente.

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