quarta-feira, 17 de maio de 2017

Diário - 2017/05/15

22. As pessoas dizem que a guerra é parcialmente boa porque produz tecnologias dadas suas urgências e demandas. Isso é, tacitamente, uma forma de justificar a guerra e engolir os horrores passados e presentes. Mas isso é falso a partir de hoje: para produzir essa tecnologia inovadora é preciso criatividade, como a nossa é muito limitada e desestimulada, não é um ponto justificado, apesar dos pesares. Precisamos desenvolver tecnologia sob outro paradigma, debaixo doutra orientação, levados por algum outro sopro ou impulso que não o que está dado.

23. Diz o professor: "(...) ainda não lhe era completamente claro (...)", bem, é óbvio, não é, meu querido? Se assim fosse, ele ficaria cego!

24. Se não há fora do sistema, então há um ponto de vista privilegiado intrínseco ou extrínseco, não importa, que justifica o estudo daquele sistema e não outro. Isso exigiria, contudo, uma eternização do sistema, anterior ao próprio homem, eliminando qualquer livre-arbítrio, pois assim o sistema não seria gerado ou produzido ou construído ou o que for, mas isso demanda outra pergunta: por que o homem, o humano, e não outro animal ou ser vivo aderiu ao sistema? E, se outros aderiram, então é uma biologia/economia universal? E a matéria não-viva, onde se situa? Seria absurdo pensá-la volitiva e viva, por mais fascinante seja o absurdo, há limites – até porque, se ela tem volição, ela é viva, então não há motivo para chamá-la não-viva.

25. São Paulo não tem "uma vida cultural intensa", tem apenas muitos museus. É muito diferente. Até porque balada não é vida cultural, não fode, porra!

26. Relacionar-se com o não-dito a partir do dito é ser materialista, ao contrário do que enchem o saco os analistas de discurso "de linha francesa." Muito diferente é o que eles clamam e fazem, que é partir das conceituações teóricas e então olhar, com essa lente altamente distorcida, a matéria (que eles, já mostrando sua ingenuidade, confundem com empiria). Materialismo não é empirismo. Para isso, contudo, não é preciso esquecer o místico, o mágico, o alquímico, isso é empirismo ingênuo de novo, materialismo é muito mais, é muito outro.

27. Ao contrário do que quis Descartes, não há ideias claras e distintas, todo pensar é confuso, como dizia Bataille.

28. "Toda tradução é uma traição" – tá, legal. A questão não é a semântica, mas o significante, é nesse nível que permanece o intraduzível. As vezes uma proximidade entre línguas traz algo interessante, ajuda, mas, repito, não é o significado, é o significante. Pense em Schein e Shine, por exemplo.

29. Quando havia espíritos nas coisas, havia uma injunção moral, as coisas nos interpelavam. Quando desrealizamos tudo, as coisas emudeceram e nós falamos demais. A ética faliu.

30. Quando o Ocidente uniu poder e dever, tudo faliu. Os "movimentos de minorias" se esforçam tremendamente em colar essa união, vide como uma conversa de WhatsApp ou Facebook pode ser levada por uma mulher a uma delegacia e pode produzir uma acusação formal contra um homem, que passará a ser visto sob péssimos olhos como agressor, mas uma agressão efetivamente, como a traição, de nada serve num tribunal. O ato é definidor. A potência é mera plasticidade, não é já a forma constituída, dada, o datum. Relembremos o apóstolo dos gentios: "tudo posso, mas nem tudo me é lícito."

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